Semiologia Veteriniria - A Arte do Diagnstico 3- ediuo - Direito Civil (2024)

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UNIFAVIP

Mariana Pacheco 19/11/2024

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234■■■■■■■O autor deste livro e a EDITORA ROCA LTDA. empenharam seus melhores esforços paraassegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordocom os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados peloautor até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evoluçãodas ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo denovas informações sobre terapêutica medicamentosa e reações adversas a fármacos,recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, demodo a se certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de quenão houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora.Adicionalmente, os leitores podem buscar por possíveis atualizações da obra emhttp://gen-io.grupogen.com.br.O autor e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todosos detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se apossíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação dealgum deles tenha sido omitida.Direitos exclusivos para a língua portuguesaCopyright © 2014 pelaEDITORA ROCA LTDA.Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial NacionalRua Dona Brígida, 701 – Vila MarianaSão Paulo – SP – CEP 04111-081Tel.: (11) 5080-0770www.grupogen.com.br | editorial.saude@grupogen.com.brReservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todoou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação,fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORAROCA LTDA.Capa: Editora Guanabara KooganProdução Digital: ContentraFicha catalográficaS4743. ed.5http://www.grupogen.com.br/mailto:editorial.saude@grupogen.com.brSemiologia veterinária : a arte do diagnóstico/ Francisco Leydson F. Feitosa. - 3ª. ed. - SãoPaulo : Roca, 2014.il.ISBN 978-85-4120454-51. Veterinária. 2. Exame físico. 3. Diagnóstico. I. Feitosa, Francisco Leydson F.14-10406 CDD: 636.089CDU: 619:616-074 6ColaboradoresAlexandre Lima de AndradeProfessor Adjunto da disciplina Cirurgia de Pequenos Animais. Departamento de Clínica,Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVA/UNESP, campusAraçatuba.Alexandre Secorun BorgesProfessor Adjunto da disciplina Clínica Veterinária. Departamento de Clínica Veterinária daFaculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Julio deMesquita Filho” – FMVZ/UNESP, campus Botucatu.Alicio Martins JúniorProfessor Adjunto da disciplina Biotécnicas Aplicadas na Reprodução Animal, Produção deEmbriões in Vitro e Técnicas Associadas. Departamento de Clínica, Cirurgia e ReproduçãoAnimal da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista “Julio deMesquita Filho” – FMVA/UNESP, campus Araçatuba.Ana Liz Garcia AlvesProfessora Adjunta em Cirurgia de Grandes Animais. Departamento de Cirurgia eAnestesiologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVZ/UNESP, campusBotucatu.Antonio José de Araujo AguiarProfessor Adjunto da disciplina Anestesiologia Veterinária. Departamento de Cirurgia eAnestesiologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVZ/UNESP, campus Botucatu.Aparecido Antonio CamachoProfessor Titular da disciplina Clínica de Cães e Gatos. Departamento de Clínica e CirurgiaVeterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual7Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FCAV/UNESP, campusJaboticabal.Carlos Jose MuchaMestre em Clínica Médica pela Universidade Estadual de São Paulo – UNESP. Mestre emClínica e Terapêutiva pela Uninversidade de Las Palmos de Gran Canoria – ULPGC/Espanha.Prática privada em Cardiologia Veterinária.Celso Antonio RodriguesProfessor Adjunto da disciplina Cirurgia de Grandes Animais, Práticas Hospitalares e deFazendas. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” –FMVZ/UNESP, campus Botucatu.Daniel Mendes NettoProfessor Mestre (FMVZ/USP) da disciplina Clínica Médica de Equinos e Ruminantes. CentroUniversitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UNIFMU-SP.Eduardo Harry BirgelProfessor Titular aposentado das disciplinas Semiologia e Clínica Médica de Ruminantes.Departamento de Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia daUniversidade de São Paulo – FMVZ/USP.Fernando José BenesiProfessor Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária eZootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP.Flávia de Rezende EugênioProfessora Adjunta da disciplina Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais. Departamento deClínica, Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVA/UNESP,campus Araçatuba.Flávia ToledoProfessora de Técnicas de Diagnóstico por Imagem da Universidade Estácio de Sá – RJ.Juliana Regina PeiróProfessora Adjunta da disciplina Clínica Cirúrgica de Grandes Animais. Departamento deClínica, Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVA/UNESP,campus Araçatuba.8Karin WertherProfessora Assistente Doutora das disciplinas Doenças de Animais Selvagens e Ecologia deEnfermidades de Animais Selvagens. Departamento de Patologia Veterinária da Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”– FCAV/UNESP, campus Jaboticabal.Luis Artur GiuffridaProfessor de Técnica Cirúrgica e Cirurgia de Pequenos Animais. Universidade de Guarulhos –SP.Luiz Claudio Nogueira MendesProfessor Adjunto da disciplina Clínica Médica de Grandes Animais. Departamento de ClínicaCirúrgica e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVA/UNESP,campus Araçatuba.Maria Lucia Gomes LourençoProfessora Assistente Doutora das disciplinas Clínica I e Clínica II – conjunto das disciplinasClínicas de Cães e Gatos, de Suínos, Equídeos e Ruminantes e Semiologia Veterinária.Departamento de Clínica Veterinária da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia daUniversidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVZ/UNESP, campus Botucatu.Marileda Bonafim CarvalhoProfessora Assistente Doutora da disciplina Clínica de Cães e Gatos. Departamento de Clínicae Cirurgia Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FCAV/UNESP,campus Jaboticabal.Mary MarcondesProfessora Adjunta da disciplina Clínica Médica de Cães e Gatos. Departamento de Clínica,Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVA/UNESP,campus Araçatuba.Nereu Carlos PrestesProfessor Adjunto da disciplina Obstetrícia Veterinária. Departamento de Reprodução Animale Radiologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVZ/UNESP, campus Botucatu.Pedro Luiz de CamargoProfessor Doutor das disciplinas de Clínica Médica de Animais de Companhia e Semiologia9Animal. Departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina – UEL.Roberto Calderon GonçalvesProfessor Adjunto das disciplinas de Clínica Médica de Grandes Animais, SemiologiaVeterinária e Problemas Respiratórios em Grandes Animais.■■■■Figura 1.7 A e B. Modelos de martelo e plessímetro utilizados na percussão de grandes animais. C.Posicionamento dos dedos polegar, indicador e médio para fixação do cabo do martelo.Confirmar a ocorrência ou a causa da doença Avaliar a gravidade do processo mórbidoDeterminar a evolução de uma doença específica Verificar a eficácia de determinadotratamento.41■■■■Atualmente, vários exames estão disponíveis para o auxílio diagnóstico, dentre os quais têmdestaque os descritos a seguir.Punção exploratóriaPunção (ou centese) exploratória é a pesquisa de órgãos ou cavidades internas, por meio dapassagem de um trocarte, agulha, cânula e similar, dos quais é retirado material para serexaminado com relação aos seus aspectos físico, químico, citológico e bacteriológico. Comesse procedimento, é possível inferir, dependendo do material obtido, sobre hematoma,abscesso e derrame cavitário. Antigamente, a centese constituía o último recurso utilizado peloclínico para o diagnóstico, uma vez que oferecia certo perigo para a saúde do animal,principalmente quando não se tomavam os cuidados adequados de assepsia. Atualmente,quando realizada de modo cuidadoso, é utilizada como procedimento de rotina, sem trazermaiores complicações ao animal.BiopsiaConsiste na coleta de pequenos fragmentos teciduais de órgãos como pulmões, fígado, rins,dentre outros, para a realização de exame histopatológico. Os principais objetivos da biopsiasão: Diferenciar entre as causas de organomegalia envolvendo nódulos linfáticos, baço,fígado, rins, próstata, glândulas mamárias e outros órgãos Diferenciar entre inflamação,hiperplasia e neoplasia como causa de tumores de pele, tumores subcutâneos e outros tumoresacessíveis Diferenciar neoplasias malignas de benignas, com propósitos de diagnóstico e deplanejamento terapêutico Auxiliar na confirmação do diagnóstico de uma dermatopatia.Exames laboratoriaisNos últimos anos, tem sido observado um considerável aumento no número de testeslaboratoriais. Os procedimentos laboratoriais incluem os exames físico-químicos,hematológicos, bacteriológicos, parasitológicos e determinações enzimáticas.Inoculações diagnósticasHavendo suspeita de determinada enfermidade, inocula-se o material proveniente do animaldoente em animais de laboratório, para verificar o aparecimento da doença. Isso requer técnicaespecial para cada um dos processos suspeitos (p. ex., para diagnosticar botulismo, inocula-seem camundongos, por via intraperitoneal, extrato hepático, conteúdo do rúmen, conteúdointestinal ou soro sanguíneo).Reações alérgicas42■■■◦◦■■■São exames que provocam respostas sensíveis nos animais, mediante a inoculação em seustecidos de algum antígeno sob a forma de uma proteína derivada de microrganismosespecíficos que estejam ou tenham infectado o animal (testes da tuberculina).Outros exames complementares mais específicos (eletrocardiografia, eletroneuromiografiaetc.) serão abordados nos capítulos pertinentes.Plano geral de exame clínicoÉ importante que todo clínico estabeleça sua própria sequência de exame e,sistematicamente, que esta seja bem realizada em todos os animais, independentemente de suaenfermidade, para que dados relevantes ao caso não sejam esquecidos. Naturalmente, essasequência é bastante particular e o que se apresenta aqui é apenas uma sugestão.Primeiramente, é necessário diferenciar o exame clínico do físico. O exame clínico reúnetodas as informações necessárias para o estabelecimento do diagnóstico, enquanto o físico éuma parte do exame clínico do animal, resumindo-se à coleta dos sintomas e dos sinais pormétodos físicos de exame, tais como inspeção, palpação, percussão, auscultação e olfação. Oexame clínico é constituído basicamente dos seguintes procedimentos: Identificação do(s)animal(is) (resenha) Investigação da história do animal (anamnese) Exame físico: Geral:avaliação do estado geral do animal (atitude, comportamento, estado nutricional, estado dehidratação, coloração de mucosas, exame de linfonodos etc.) parâmetros vitais (frequênciacardíaca, frequência respiratória, temperatura, movimentos ruminais e/ou cecais) Especial:exame físico direcionado ao(s) sistema(s) envolvido(s) Solicitação e interpretação dosexames subsidiários (caso necessário) Diagnóstico e prognóstico Tratamento (resolução doproblema).Os procedimentos gerais incluem a identificação do animal, a realização da entrevista como proprietário ou pessoas afins e, também, o primeiro estágio do exame físico que se conhece,comumente, como exame preliminar (ou geral), o qual precede o exame detalhado e completode determinado sistema do corpo. É de fundamental importância avaliar o animal como umtodo, visto que, muitas vezes, determinada enfermidade pode culminar no comprometimento deoutro(s) órgão(s) ou sistema(s), além de ser de grande utilidade para que se vislumbre o fatorprimário responsável pelo início do aparecimento dos sintomas. A importância do exame geralpreliminar pode ser ilustrada no seguinte exemplo: Uma vaca é encontrada no período datarde, parecendo estar deprimida, com marcado aumento da frequência respiratória,temperatura corporal elevada e ausência de apetite. Se, erroneamente, pararmos deexaminar o animal nesse momento, tende-se a pensar em um processo respiratório oudigestório. Contudo, se fosse feito um exame físico geral criterioso, seria possível observarcom certa facilidade alteração no formato do úbere da vaca, apresentando os sinaiscardinais do processo inflamatório (aumento de volume, dor, calor, rubor e perda dafunção). As suspeitas iniciais seriam, então, excluídas. Caso o exame se baseasse43exclusivamente nos dados iniciais, não se chegaria, nessa fase do exame, ao prováveldiagnóstico de mastite.Glossário semiológicoMastite: processo inflamatório da glândula mamária.Identificação dos animais | ResenhaDe maneira geral, é importante considerarmos espécie, raça, sexo e idade.Em alguns casos, é conveniente sabermos a coloração da pelagem do animal, visto queanimais de pelagem escura são mais resistentes aos raios solares, ao passo que os de pelagemclara (ou que apresentem áreas despigmentadas) são mais suscetíveis ao aparecimento delesões de pele causadas pelos raios do sol. Além disso, é necessário averiguar a existência demarcas (tatuagens) que possam ser descritas em algum documento, tais como atestados devacinação, protocolo de importação e apólices de seguro.■ Espécie. A suscetibilidade de uma espécie varia consideravelmente com relação às doençasinfecciosas e/ou parasitárias e ao comprometimento de determinados sistemas ou órgãos. Porexemplo, os equinos são suscetíveis à anemia infecciosa equina e ao garrotilho, ao passo queos bovinos não o são. Em compensação, os bovinos são acometidos por leucose e carbúnculosintomático, e os equinos, não. Nas espécies domésticas de pequeno porte, somente os cãespodem adquirir cinomose e hepatite infecciosa e apenas os gatos são suscetíveis à peritoniteinfecciosa e à leucemia. Por outro lado, todos os animais desenvolvem raiva, mas a incidênciavaria nas diferentes espécies. O comprometimento do sistema digestório nos equinos, porexemplo, pelo desenvolvimento de peritonite, representa um sério risco; contudo, em bovinos,não é tão grave. A mamite é mais comum nos bovinos e não ocorre com grande frequência nasoutras espécies.■ Raça. De modo geral, as raças mais puras são mais suscetíveis a doenças. As raças mistasou os animais sem raça definida (SRD) são animais de extrema rusticidade e, ao seremdevidamente diagnosticados e tratados, costumam reagir favoravelmente. Em bovinos, a raça éde fundamental importância para se averiguar a finalidade ou o objetivo da criação, visto queexistem algumas enfermidades que ocorrem de acordo com o tipo de exploração realizada.Com isso, vacas produtoras de leite são mais propensas a doenças metabólicas comohipocalcemia e acetonemia, dentre outras; para outras espécies, a raçatambém pode ser devalor. Os cavalos de corrida são mais suscetíveis a cardiopatias e aos processos respiratórios;os de tração e salto apresentam, com certa frequência, problemas no sistema locomotor. Emcães, algumas raças como o Boxer e o Cocker Spaniel apresentam predisposição aodesenvolvimento de miocardiopatias.44■ Sexo. É evidente que existem certas doenças que acometem somente indivíduos de ummesmo sexo. Alguns processos febris em fêmeas ocorrem devido ao envolvimento do úbere oudo útero; os adenocarcinomas mamários são mais frequentes em fêmeas que em machos;existem distúrbios hormonais diretamente relacionados com hormônios sexuais, tais como ohipoestrogenismo em cadelas. Por outro lado, hérnias escrotais são frequentes em animaismachos, sendo a maioria dos problemas de estrangulamento observada em garanhões.■ Idade. Várias doenças ocorrem com maior frequência em determinada faixa etária. É o casodos problemas umbilicais em animais recém-nascidos, da verminose e da parvovirose em cãesjovens. Já as endocardioses adquiridas costumam acometer os animais de meia-idade ou maisvelhos. A idade para o prognóstico é de grande valor, pois, em geral, os animais com maisidade têm um prognóstico mais reservado quando comparados aos animais jovens.Quando possível, é importante saber o peso do animal, uma informação de grande valiapara o cálculo da dose do medicamento a ser utilizado e também pode ser um parâmetro paraindicar se está havendo emagrecimento associado à enfermidade. A origem do animal tambémdeve ser determinada, uma vez que algumas enfermidades são mais comuns em certas regiões,tais como enfermidades infecciosas (raiva), enfermidades parasitárias (leishmaniose visceralcanina), doenças nutricionais, intoxicações por plantas nocivas, dentre outras. O nome doproprietário e o seu endereço também devem ser lembrados, para que se possa transmitiralgumas orientações ou informações (alta/óbito) sobre o animal.Anamnese | Aspectos geraisDeve-se ler para fazer perguntas. (Franz Kafka) A palavra anamnese (anámnēsis =recordação) significa, portanto, trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com adoença e com o paciente. Na verdade, trata-se do conjunto de informações recolhidas sobrefatos de interesse médico, passados e/ou atuais, que fornece importantes subsídios para oestabelecimento do diagnóstico do caso em questão. Há quem diga, inclusive, que a anamnesebem conduzida representa o principal recurso de que o clínico dispõe para fechar odiagnóstico. Uma anamnese benfeita representa 50% do diagnóstico e o contrário, 50% do errodiagnóstico. Vê-se, portanto, que cabe à anamnese uma posição ímpar, insubstituível na práticamédica. Uma anamnese benfeita acompanha-se de decisões diagnósticas e terapêuticascorretas; do contrário, desencadeia uma série de consequências negativas. Dessa maneira, nãoadianta querer compensar as deficiências ali originadas com a realização de examescomplementares, por mais sofisticados que sejam, visto que exames solicitados de maneiraerrada quase sempre desorientam o veterinário, em vez de mostrar o caminho certo; alémdisso, ainda há os gastos com tais procedimentos. A anamnese depende, em grande parte, dotipo de informante (proprietário, peão) e do entrevistador (veterinário). A realização daanamnese requer muito tato por parte do profissional, para que seja possível coletar todas asinformações importantes para o caso, filtrando as desnecessárias. Esse trabalho é muito45semelhante àquele realizado pelo pediatra humano, visto que o bebê não se expressaverbalmente e, portanto, os pais respondem às perguntas. A entrevista médica – a anamnese –não é um processo passivo, mas um ato criativo, compartilhado pelo proprietário ou,eventualmente, por outros informantes, e pelo veterinário. Dessa maneira, a qualidade daanamnese realizada depende do desempenho dos participantes desse ato. Em decorrência depeculiaridades desse desempenho, podem ser obtidas informações incompletas ou errôneas,que comprometem a qualidade da anamnese. Não é incomum o proprietário ou o tratador omitirdeterminadas informações que, a seu ver, possam incriminá-lo, por revelarem negligência nocuidado com o animal (p. ex., fornecimento de maior quantidade de ração ao animal, falta devacinação, falhas na realização do tratamento recomendado por colegas). É provável que ofato mais frequentemente omitido na história do animal seja com relação ao tempo de evoluçãoda doença, visto que, comumente, os proprietários dizem que a origem ou o desenvolvimentoda doença atual é recente, quando é notório que ela está evoluindo há um período considerável.A investigação da duração do problema (se agudo ou crônico) deve ser cuidadosamente feita,pois, em muitas ocasiões, o veterinário é procurado somente após uma tentativa frustrada deresolução pelo próprio proprietário ou tratador. É preciso que todas as peculiaridades sejamreconhecidas para que o entrevistador possa avaliar corretamente o tipo de informação obtida,identificar as dificuldades e atuar para removê-las (Quadros 1.4 e 1.5).As perguntas a serem feitas ao proprietário dividem-se em três categorias: (1) abertas; (2)focadas; e (3) fechadas. As do tipo abertas devem ser feitas de tal maneira que o cliente sinta-se livre para se expressar, sem nenhum tipo de restrição. As focadas são do tipo de perguntasabertas, mas sobre um assunto específico – o cliente deve sentir-se à vontade para falar sobredeterminado tema como, por exemplo, um único sintoma. Já as fechadas servem para que oentrevistador complemente o que o cliente ainda não falou, com questões diretas de interesseespecífico.Recomenda-se evitar perguntas ou comentários que coloquem o entrevistado em situaçãodelicada ou que o façam sentir-se inibido perante o profissional (p. ex., Somente depois de 2semanas após o início do problema é que a senhora traz o animal para ser atendido?), emesmo a utilização de palavras difíceis. A terminologia médica não deve ser usada emconversas com os proprietários, pois os termos técnicos os intimidam (a menos que sejamcolegas e profissionais da área médica); assim, o estilo de linguagem utilizado peloentrevistador deve estar de acordo com o do interlocutor, ou seja, do entrevistado.Além disso, é necessário cautela para não conduzir a pessoa a um determinado diagnósticoque se deseja ou imagina. Uma pergunta com indução sugere o tipo de resposta que oentrevistador quer ouvir – por exemplo, ao dizer: Você não tratou o animal, tratou?, ficaevidente que o entrevistador desaprova o uso de medicação antes de consultar o veterinário.Se a história fornecida é vaga, o entrevistador pode usar o questionamento direto. Perguntar“como”, “onde” ou “quando” é infinitamente mais compensador que perguntas do tipo “porque”, que tendem a colocar o proprietário na defensiva. Caso a informação pareça inadequada46■■■■■■■■■■■■■■■■■■ou conflitante (quando, por exemplo, duas pessoas participam da entrevista), outras perguntascom palavras diferentes podem ser realizadas, procurando, com isso, elucidá-la da melhormaneira possível.Quadro 1.4 Princípios básicos para a obtenção da anamnese.Ouvir atentamente o proprietário (consciên​cia da importância da anam​ne​se) Evitar interrupções e/ou distrações Disporde tempo para ouvir o proprietário Não desvalorizar precocemente as informações Não se deixar levar pela suspeita doproprietário Não demonstrar sentimentos desfavoráveis (tristeza, impaciên​cia, desprezo) Saber interrogar o proprietárioApresentar conhecimentos teó​ricos sobre as enfermidades (fisiopatologia, terapêutica)Quadro 1.5 Possibilidades e objetivos da anamnese.Estabelecer condições para a relação veterinário/proprietário Conhecer a história clínica e os fatores ambientaisrelacionados com o paciente Estabelecer os aspectos do exame físico que merecem maior atenção Definir a estratégia aser seguida em cada paciente quanto aos exames complementares Escolher procedimento(s)terapêuticos(s) maisadequado(s) em função do(s) diagnóstico(s) e do conhecimento global do estado do animalMuitas vezes, a aparência do entrevistador influencia a eficácia da anamnese, visto queprofissionais malvestidos, com unhas grandes e sujas e barba por fazer tendem a passar umaimpressão de descuido, incompetência e irresponsabilidade. A utilização de jalecos, roupas esapatos limpos e/ou brancos, além da inquestionável imagem de asseio, transmite umasensação de confiança e de respeitabilidade para os proprietários.O proprietário deve sempre ser tratado com respeito e cordialidade. Em algumas ocasiões,principalmente quando o prognóstico do animal é reservado ou quando ocorre óbito, aabordagem deve ser feita de maneira cuidadosa. Lembre-se de que a função primordial domédico veterinário não é se defender, mas sim o paciente. Contudo, é necessário relatar todosos procedimentos e etapas aos quais o animal foi ou será submetido, deixando claro, em casode desfecho fatal, que todo o possível foi feito para salvar a vida do animal.Não existem regras mágicas ou mirabolantes para a realização de uma boa entrevista, mas épossível ter como base a regra das vogais, a qual tem grande utilidade para ser lembrada nacondução de uma entrevista: Atenção: ouça atenciosamente a história; não desprezeinicialmente os detalhes Estimulação: estimule o proprietário a falar tudo sobre o caso,separando os dados relevantes dos inaproveitáveis; feito isso, selecione as informaçõesInquisição: inquira, tanto quanto necessário, sobre os fatos que não ficaram claros ou foramesquecidos Observação: observe se as informações obtidas são ou não confiáveis, levando-seem conta a aparência geral do animal e o comportamento do proprietário; para confirmar, nãohesite em fazer a mesma pergunta utilizando-se de outras palavras União: agrupe os dados de47■■■■■■■importância e verifique se a história tem início, meio e fim.Estrutura da históriaReiterando: a anamnese deve ser metódica e seguir sempre a mesma sequência, para nãoomitir informações importantes. O entrevistador deve prosseguir por essas principais seçõesem uma sequência lógica e direcionar as suas perguntas para cada área em questão. A estruturada história ou da anamnese é a seguinte: Fonte e confiabilidade Queixa principal Históriamédica recente (HMR) Comportamento dos órgãos (revisão dos sistemas) História médicapregressa (HMP) História ambiental e de manejo História familiar ou do rebanho.Fonte e confiabilidadeA fonte costuma ser o proprietário; caso outras pessoas afins (filho, vizinho, tratador,parente etc.) forneçam a entrevista, é necessário anotar seus nomes e a relação dos mesmoscom o animal na ficha de exame. A confiabilidade da entrevista merece, em tais casos, serchecada, procurando-se confrontar as informações obtidas com as fornecidas pelo verdadeiroresponsável.Queixa principalÉ definida como a manifestação imediata da doença do animal, que levou o proprietário aprocurar atendimento veterinário. Em poucas palavras, registra-se a queixa principal,repetindo, se possível (quando não utilizadas palavras ou termos de baixo calão), asexpressões utilizadas pelo proprietário (p. ex., o animal tem coceira, e não prurido).Recomenda-se, nos casos de utilização de termos peculiares de uma determinada região ouinerentes ao indivíduo, a descrição – entre parênteses – do seu verdadeiro significado,adotando-se, preferencialmente, termos técnicos de fácil entendimento (p. ex., o cachorro estáobrando sangue: trata-se de um termo dúbio e que, dependendo da região do país, podecaracterizar hematoquezia – fezes com sangue – ou hematúria – urina com existência dehemácias). A queixa principal, contudo, nem sempre expressa o principal distúrbio que opaciente apresenta. Não é recomendável aceitar, na medida do possível, “rótulos diagnósticos”referidos como queixa principal. Assim, se o proprietário disser que o animal está triste,procura-se esclarecer o sintoma que ficou subentendido sob uma ou outra denominação.Interpretar os supostos diagnósticos dos proprietários ao pé da letra é um verdadeiro risco.Por comodidade, pressa ou ignorância, o veterinário pode ser induzido a aceitar, dando arescientíficos às conclusões diagnósticas feitas pelos mesmos. É comum o proprietário fornecerdados irrelevantes ao caso, cabendo ao examinador selecionar as informações obtidas. Nomomento em que o veterinário começar a conduzir as perguntas, é conveniente anotar na fichado animal termos técnicos e, não mais, o vocabulário do proprietário, como foi feito na queixaprincipal.48■■■■■História médica recenteA história médica atual refere-se a alterações recentes na saúde do animal que levaram oproprietário a procurar auxílio médico. Descreve, com maiores detalhes, a informaçãorelevante para a queixa principal; deve responder a três perguntas básicas: o que, quando ecomo.Quanto mais informações sobre o animal e as alterações sofridas, maiores as possibilidadesde diagnóstico. A cronologia é a estrutura mais prática para se organizar o histórico, visto quepropicia a compreensão dos eventos que ocorreram desde o início até o momento atual dadoença. Algumas histórias são simples e curtas, facilmente dispostas em ordem cronológica,cuja relação aparece sem dificuldade. Outras, contudo, são longas, complexas e compostas deinúmeros sintomas, cujas inter-relações não são fáceis de serem determinadas. Na maioria dasvezes, é difícil evidenciar o momento exato em que apareceu o primeiro sintoma ou o sintomaprecursor do quadro clínico, principalmente quando envolve animais de rebanho, visto que aobservação diária por parte do proprietário ou do tratador é, até certo ponto, superficial, sendoesse um dos muitos percalços existentes na realização da anamnese. Como orientação geral, oestudante deve escolher o sintoma-guia, a queixa de mais longa duração ou o sintoma maisobservado pelo proprietário. Para grande parte desses casos, algumas regras podem ser úteis:Determine, se possível, o sintoma-guia Determine a época do seu início Use o sintoma-guiacomo fio condutor da história e tente estabelecer as relações com outros sintomas Determine asituação do sintoma-guia no momento atual: evoluiu/estagnou?Verifique se a história obtida segue uma sequência lógica.O sintoma-guia possibilita recompor a história da doença atual com mais facilidade eprecisão, o que não significa que haja sempre um único e constante sintoma-guia para cadaenfermidade. O sintoma-guia não é, necessariamente, o mais antigo nem, obrigatoriamente, aprimeira queixa do proprietário ou o sintoma mais realçado por ele. Contudo, esses fatoresnunca devem ser desprezados.O início do sintoma deve ser caracterizado primeiramente com relação à época, sepossível, registrando-se o dia, a semana ou o mês (a pergunta padrão pode ser: Quando o(a)senhor(a) começou a observar isso?). O modo de início – gradativo ou súbito – também éimportante. A duração é estabelecida conforme a época do início do sintoma – se sazonal ounão (p. ex., aparece em determinadas épocas do ano; cães que apresentam dermatopatiasalérgicas sempre nos meses de verão). A relação com outros sintomas é procurada partindo-sede probabilidades mais frequentes, quase sempre considerando as relações anatômicas oufuncionais. Por exemplo, se a queixa for secreção nasal, deve-se procurar relacioná-la comtosse, taquipneia, respiração ortopneica, tipo respiratório, dentre outros fatores. O passoseguinte consiste em investigar a maneira como evoluiu o sintoma, com base no seucomportamento ao longo dos dias ou semanas e, também, no decorrer do dia, registrando-se asmodificações ocorridas nas suas características (intensidade, frequência). A situação do49sintoma no momento atual encerra a análise da queixa, possibilitando uma visão de conjuntodesde o seu início.Na fase da arguição, portanto, alguns pontos devem ser abordados, tais como a localização,o início e a duração, a frequênciae a gravidade, os problemas associados e a progressão dadoença, como mostra o exemplo a seguir: Um Rottweiler com 3 meses de idade foi levado peloproprietário (fonte e confiabilidade) por desenvolver diarreia (queixa principal: sintoma-guia;provável localização: sistema digestório). O problema teve início há 3 dias (início) e persisteaté o momento (duração). A diarreia ocorre várias vezes ao dia (frequência) e apresentasangue nas fezes em grande quantidade (gravidade). Começou a demonstrar anorexia, vômito,desidratação e febre há 1 dia (problemas associados) e o animal tem ficado cada vez maisapático desde então (evolução).A medicação também deve ser questionada: O animal já foi medicado? Por quem? O quefoi dado? Qual a dosagem e intervalo? Por quanto tempo a medicação foi administrada? –muitas vezes, o medicamento utilizado é adequado à enfermidade, mas a medicação foi dadaem subdosagem, em intervalos longos, ou por um período muito curto de tempo. É bastantecomum o proprietário suspender determinada medicação assim que os sintomas declinam, semrespeitar o tempo recomendado pelo veterinário; mais comum ainda é o proprietário medicar oanimal antes de procurar assistência veterinária.É importante o claro estabelecimento do princípio ativo do medicamento utilizado emanimais pecuários para saber se os produtos podem ser consumidos ou devem ser descartados.Comportamento dos órgãosA revisão de sistemas, chamada também de interrogatório sintomatológico ou anamneseespecial, resume, em termos de sistemas orgânicos, os muitos sintomas que podem ter sidonegligenciados na história da doença atual, pelo fato de ser bastante comum o proprietário nãorelatar um ou outro sintoma durante a aquisição da história da doença atual, por simples e puroesquecimento. A principal utilidade prática do interrogatório dos órgãos reside no fato detornar possível o conhecimento de enfermidades que não apresentam relação com o quadrosintomatológico registrado na história médica recente.Para realizar uma boa anamnese especial, é preciso seguir um esquema rígido, constituídode um conjunto de perguntas que correspondam a todos os sintomas indicativos de alteraçõesdos vários sistemas do organismo. Todos os sintomas presentes devem ser registrados, assimcomo aqueles negados pelo proprietário. A pesquisa sobre o estado funcional dos órgãos éfeita adotando-se a mesma sequência de arguição, independentemente da queixa principal doproprietário, ou, então, questionando-se, inicialmente, o sistema supostamente envolvido e,posteriormente, os demais sistemas da sequência, para que nenhuma informação importanteseja esquecida. A sequência recomendada é: (1) sistema digestório; (2) sistemacardiorrespiratório; (3) sistema geniturinário; (4) sistema nervoso; (5) sistema locomotor; e (6)pele e anexos. As informações mais relevantes serão abordadas dentro dos sistemas50■■■■■■■■■■correspondentes; as questões seguintes são apenas exemplos de algumas perguntas que podemser feitas: Sistema digestório: o animal alimenta-se bem? Bebe água normalmente? Estádefecando? Qual o tipo de fezes (duras, moles, pastosas, líquidas)? O animal apresentavômito? Qual o aspecto do vômito? Horário em que aparece? Tem relação com a ingestão dealimentos? Tem alimentos não digeridos? Sangue?Sistema cardiorrespiratório: o animal cansa-se com facilidade? Estava acostumado acorrer e já não o faz mais? O animal tosse? A tosse é seca ou com expectoração(produtiva)? Qual a frequência? Piora à noite ou após exercício (alguns animais comproblema cardíaco apresentam tosse seca que piora à noite em virtude do decúbito)? Qualo aspecto da expectoração (cor, odor, volume)? Elimina sangue pelas narinas? Observouedema ou inchaço em alguma parte do corpo (época que apareceu; evolução; região quepredomina)? O animal lhe parece fraco?Sistema geniturinário: o animal está urinando? Qual a frequência? Qual a coloração daurina? Qual o odor? Aparecem formigas no local em que o animal urina? Aparentemente, oanimal sente dor quando urina (posição à micção, gemidos, emissão lenta e vagarosa)? Oanimal já pariu alguma vez? O parto foi normal? Quando foi o último cio? Percebeu algumasecreção vaginal ou peniana? Qual o comportamento sexual dos reprodutores? Apresentamexposição peniana prolongada?Sistema nervoso: apresentou mudanças de comportamento (agressividade)? Apresentouconvulsões? Apresenta dificuldade para andar? Tem dificuldade para subir escadas? Andaem círculos? Apresenta tropeços ou quedas quando caminha?Sistema locomotor: o animal está mancando? De que membro? Observou pancadas oucoices?Pele e anexos: o animal se coça? Muito ou pouco? O prurido é intenso? Chega a seautomutilar? Apresenta meneios de cabeça (otite)? Está apresentando queda de pelos?História médica pregressaA história pregressa constitui a avaliação geral da saúde do animal, antes da ocorrência ouda manifestação da doença atual. De modo geral, inclui os seguintes aspectos: Estado geral desaúde Doenças prévias Cirurgias anteriores Imunizações, vermifugações etc.Como uma introdução à história pregressa, o entrevistador pode perguntar: Como era asaúde do animal antes de adoecer? A informação resultante do questionamento de doençaprévia pode ser valiosa. Em caso de ocorrência de doenças anteriores, são importantes asperguntas referentes à faixa etária do ocorrido, à porcentagem de animais acometidos dentro dorebanho (morbidade), ao número de mortes (mortalidade), às manifestações clínicasobservadas, aos achados de necropsia, aos tratamentos realizados e às medidas preventivas. Arealização de cirurgias pode, muitas vezes, indicar a ocorrência de recidivas ou de51complicações posteriores, fornecendo, assim, um prognóstico reservado ao caso em questão(laparotomias, herniorrafias etc.). O tipo de procedimento cirúrgico e a data devem serlembrados; além disso, as vacinações realizadas são de grande interesse para o diagnóstico. Adata de vacinação, a dose e o produto utilizado, como também a conservação das vacinas,devem ser questionados. Da mesma maneira, a vermifugação precisa ser checada, atentando-se, principalmente, ao princípio ativo do vermífugo, à dose e ao intervalo entre cadavermifugação.História ambiental e de manejoO exame do ambiente é parte indispensável a qualquer exame clínico, visto que se comportacomo abrigo ideal para inúmeros reservatórios e transmissores de doenças infecciosas eparasitárias, além de determinar, sobretudo nos animais pecuários, alterações metabólicas enutricionais, comprometendo sua produtividade. Em virtude da grande variabilidade ambientale de manejo nos quais os animais de diferentes espécies são criados, tendo em vista a enormediversidade das funções que os mesmos executam, descreveremos somente os pontosprincipais a serem investigados na história.Em caso de criação extensiva, é interessante verificar a topografia local e o tipo de solo ede vegetação em que os animais são criados, visando detectar a ocorrência de determinadasenfermidades, tais como: deficiências nutricionais (cobre e cobalto em áreas arenosas),leptospirose, anemia infecciosa equina (regiões pantanosas, alagadas, úmidas), ectopias etraumas (áreas exageradamente inclinadas), dentre outros. Para aqueles animais criadosrelativamente confinados, é conveniente perguntar onde o animal permanece a maior parte dodia; se o chão é áspero (calo de apoio em cães de grande porte); se o local é úmido (processosrespiratórios); se apresenta boa ventilação ou boa proteção contra extremos de temperatura(calor/frio); se o animal tem acesso a oficinas mecânicas (intoxicação por chumbo), à rua(atropelamentos), a depósitos de lixo (ingestão de corpos estranhos ou materiais emdecomposição); se estão reformando a casa (cães jovens podem lamber tinta ou outrosmateriais), as cercas (ingestão de pregos e arames pelos bovinos); quais são as condições dehigiene do local (remoção de fezes e urina, troca de cama, lavagem do quintal);quais produtossão utilizados na limpeza das áreas em que os animais permanecem (quintal, estábulos, sala deordenha, troncos, bretes, dentre outros).No exame físico, será avaliado o estado nutricional do animal ou do rebanho. Contudo, oconhecimento antecipado do manejo nutricional é um ponto crucial no estabelecimento dahistória do animal, determinando-se, principalmente, seus hábitos alimentares; especificando,tanto quanto possível, a quantidade e a qualidade da alimentação que o animal vem recebendo,tomando-se como referência o que seria a alimentação adequada para aquele animal de acordocom a idade, o sexo e o trabalho que executa. Tendo-se conhecimento de tais aspectosalimentares, outras perguntas podem ser realizadas, tais como: Onde o animal come (vasilhasde plástico podem causar dermatite de contato na região mentual de cães)? Qual a localização52e a disponibilidade de cochos? Qual a origem (qualidade) e disponibilidade (quantidade) deágua?História familiar ou do rebanhoA anamnese familiar ou do rebanho oferece informações sobre a saúde de todos os animaispertencentes àquela família ou rebanho, vivos ou mortos. Quando vivos, deve-se indagar sobrea saúde desses animais no momento atual. Se houver outro animal doente na família ou norebanho, o esclarecimento da natureza da enfermidade não pode ser esquecido. Se algumanimal morreu há pouco tempo, deve-se determinar, se possível, a causa da morte e os achadosde necropsia. É importante dar atenção especial a possíveis aspectos genéticos e/ouhereditários que poderiam ter implicações para o animal em questão (displasia coxofemoral,miocardiopatia congênita). É interessante verificar a ocorrência de cruzamentos entre animaisda mesma família ou com antecedentes familiares próximos. A densidade populacional tambémdeve ser averiguada, visto que a superpopulação cria condições desconfortáveis,desfavoráveis e prejudiciais para os animais quando confinados ou mantidos em umdeterminado espaço: Quantos animais existem na propriedade ou residência? Quantos estãodoentes? Quantos morreram? (em geral, a morte de um único animal no rebanho ou na famílianão sugere doença contagiosa; no entanto, a morte de muitos animais ao mesmo tempo ou empouco tempo, indica, na maioria das vezes, tratar-se de doença infectocontagiosa). Temconhecimento da ocorrência de canibalismo? Os animais são agressivos uns com os outros?É importante fazer questionamentos sobre fatos que ocorreram há pouco tempo (dias, semanas),tais como: Mudou a alimentação há pouco tempo? Entrou algum animal novo na casa ou norebanho? Nos pacientes com enfermidades crônicas, a separação entre os sintomas quepertencem à doença atual e os que são devidos a doenças antigas constitui, às vezes, problemacomplexo. A sua solução depende, em grande parte, da capacidade técnica do examinador queobtém a anamnese e a correta interpretação dos dados obtidos.Características do proprietárioGrande parte do prazer e da eficácia da prática médica vem do conversar com osproprietários. Cada um deles traz um desafio especial ao entrevistador. Assim, como não hádois entrevistadores iguais, não existem duas pessoas que entrevistariam o mesmo proprietáriode modo similar. A seguir, estão demonstrados alguns tipos de comportamento mais comunsadotados pelos proprietários, no intuito de orientar os veterinários menos experientes sobrecomo deve ser o comportamento diante deles.O proprietário loquazO proprietário loquaz representa um desafio real para o entrevistador principiante; clientescom esse perfil dominam ou tentam dominar a entrevista, conduzindo-a da maneira que mais53lhes convém, e o entrevistador dificilmente consegue pronunciar-se. Toda pergunta é seguida,invariavelmente, de uma longa resposta. Até mesmo respostas objetivas como “sim” e “não”parecem intermináveis, e são superdetalhadas. Fala e movimenta-se demasiadamente. Umainterrupção cortês seguida por outra pergunta direta enfatizará o tema da entrevista. Énecessário evitar perguntas abertas, facilitações ou silêncio demorado, visto que essas técnicasapenas encorajam o proprietário a continuar falando. Se todos esses cuidados forem em vão, amelhor conduta é ceder e respeitar o ritmo do proprietário do animal, de modo a evitar que aconsulta torne-se um combate.O proprietário tímidoNa maioria das vezes, são pessoas simples, de baixo poder aquisitivo e/ou educacional e,muitas delas, sem autoconfiança. Esses proprietários se embaraçam com muita facilidade emudam suas respostas com certa frequência, principalmente quando intimidados pela posturaautoritária do entrevistador e/ou pelas circunstâncias (negligência com o animal; ambienteestranho [consultório] em que se encontra, com ar-condicionado, secretária, mobiliáriomoderno, aparelhos sofisticados etc.), dentre outros. A prática de realizar perguntas abertas ouabrangentes com tais proprietários surte pouquíssimos efeitos, visto que as respostas selimitam a sim, senhor(a) e não sei, doutor(a). Para tais casos, pode ser de grande utilidade oquestionamento cuidadoso, bem direcionado e com um linguajar mais simples; algumaspalavras amistosas também podem ajudar.O proprietário hostilMuito comumente, entrevista-se o proprietário irado, impaciente ou desagradável. Algunssão muito aviltantes ou irônicos, enquanto outros são exigentes, agressivos e ruidosamentehostis. A hostilidade pode ser percebida à primeira vista, logo após as primeiras palavras.Alguns permanecem em silêncio a maior parte da entrevista; outros, durante o transcorrer daanamnese, fazem comentários inadequados ou desagradáveis para o principiante ou até mesmopara o veterinário experiente. Muitas situações podem determinar esse comportamento.Doenças incuráveis dos seus animais, principalmente aquelas que requerem certo trabalho,operações malsucedidas ou decisões errôneas de outro veterinário acompanhadas de gastosexorbitantes, podem desencadear uma reação de descrença ou de desconfiança. O clima criadonesse momento não é o que pode ser chamado de agradável, fraternal ou pacífico. Ao notar suaautoridade ameaçada, o entrevistador pode sentir raiva, impaciência e frustração; pode haverdesenvolvimento de hostilidade recíproca e uma luta por poder entre ambos. Como devemoslidar com esse proprietário? O entrevistador deve agir de maneira racional, profissional e, sepossível, distanciar-se ao máximo das indelicadezas do proprietário. Afinal, nem todo animaltem o dono que merece, principalmente por não ter tido o poder de escolha. É nosso deverrespeitar os proprietários, ainda que não gostemos de suas atitudes; não podemos transferir asnossas animosidades para os nossos “pacientes”. Eles são vítimas dos seus donos. Muitas54vezes, o confronto pacífico pode ser de grande utilidade para entrevistar tais proprietários;considerações como “você parece zangado com alguma coisa, diga-me o que pensa que estáerrado” possibilitam que o proprietário fique mais calmo ou racional em algumas situações.Lembre-se: nunca fique na defensiva; tente desarmá-lo de maneira sutil e inteligente. Prossigacom as suas perguntas vagarosamente, evite expressões negativas e faça perguntas restritas àhistória da doença do animal. A pior conduta consiste em adotar uma posição agressiva,revidando com palavras ou atitudes a hostilidade do proprietário. Não faça o jogo dele, oanimal não tem culpa!O proprietário insaciávelEm geral, nunca estão satisfeitos, fazem muitas perguntas e, apesar de explicaçõesadequadas, tendem a achar que o entrevistador não respondeu a todas as suas indagações. Asperguntas são variadas, e grande parte delas não diz respeito à doença atual do animal. Essesproprietários são mais bem conduzidos com uma conduta firme e não condescendente.O proprietário agradávelAcredita que todas as suas respostas precisam satisfazer o entrevistador; tenta passar aimagem de proprietário zeloso e preocupado e está convencido de que, se o veterinário gostardele, seu animal terámelhor atendimento. Cuidado! Esses merecem atenção redobrada, poisdesviam a atenção para si e não para o problema do animal. Seja objetivo e prático. Lembre-se, o seu paciente é o animal, até que se prove o contrário.O proprietário “telefonista”Tenta obter a qualquer custo, pelo telefone, o diagnóstico da doença do seu animal e areceita para o tratamento; é insistente, incansável e inconveniente. Por mais que se esclareçaque o diagnóstico somente pode ser feito após o exame do animal, ele ainda insiste emconseguir pelo menos uma pequena receita, alegando, em geral, falta de tempo para levar oanimal à clínica. Ao ser questionado pelo proprietário (o que pode ser, doutor?), dê, nomínimo, 10 possibilidades da causa da doença e, em um fôlego só, 20 possibilidades detratamento. Isso o deixará totalmente frustrado!O proprietário anjo da guardaÉ o protetor do seu animal e/ou daqueles outros tantos desamparados. Caso seja um SãoFrancisco à brasileira, desdobre-se – em geral, ele não tem muitas informações sobre oproblema, pois o animal pode ter sido recolhido na rua, sem que houvesse um contato prévio;tende a ser um monólogo: não sei ou não vi. Sua preocupação é o sofrimento do animal. Umponto em comum desses proprietários é a exagerada proteção que eles dispensam a seusanimais, no intuito de evitar que sintam dor ou desconforto. Muitos insistem, por exemplo, para55que não se coloque mordaça no animal, com receio de que isso possa causar dor; costumamdizer: Não precisa, o animal não morde. Outra situação crítica é a de aplicar injeção;perguntam insistentemente: Não vai doer, doutor(a)? Ao observar suas faces, a impressão quetemos é de que se administrou iodo a 10% por via intramuscular, não nos animais, mas nelespróprios. Ao término da anamnese, é necessário convidá-los a sair da sala, pois podem inibiros procedimentos semiológicos com os seus anseios.O proprietário “não sei”Nesses casos, o proprietário parece não ter conhecimento algum sobre o que estáacontecendo com o animal. Para a maioria das perguntas – O que o animal tem? Quandocomeçou? Qual a alimentação do animal? Foi vermifugado? –, a resposta é “não sei”. Trata-se de um proprietário omisso e/ou irresponsável; quando seu animal se encontra em estadodebilitado, a primeira ideia que passa em sua cabeça é levá-lo para sacrifício e, em caso derecusa por parte do clínico, não é difícil abandoná-lo em terreno baldio ou, ainda, na porta daclínica.Vocabulário útilO vocabulário utilizado pelos profissionais da área médica é difícil, complexo e amplo. Amemorização de um termo é menos útil que tentar determinar seu significado pela compreensãode sua etimologia, origem ou raízes. Com essa prática, o significado dos termos usuais torna-semais fácil. No Quadro 1.6 são relacionados alguns prefixos, sufixos e raízes gerais deimportância para a rotina prática.Quadro 1.6 Prefixos, sufixos e raízes de palavras úteis para o médico veterinário.Prefixo/raiz /sufixo Relativo a Exemplo Definiçãoab- afastando de abdução Afastando do corpoad- em direção a adução Em direção ao corpoaden- glândula adenopatia Doença glandularan- sem anosmia Sem o sentido do olfatoaniso- desigual anisocoria Pupilas desiguaiscontra- oposto contralateral Relativo ao lado opostodiplo- duplo diplopia Visão dupladis- mal-estar disúria Dor à micçãoduc- levar abducção Levar para foraesten- estreitado estenose Ducto de canal estreitado56eu- bom; vantajoso eupneia Respiração fácilexo- externo exotropia Desvio ​ocular para forahemi- metade hemiplegia Paralisia de um lado do corpohidro- água hidrofílico Absorção imediata de águahiper- além hiperemia Excesso de sanguehipno- sono hipnótico Indutor do sonoidio- separado; distinto idiopático De etiologia desconhecidainfra- abaixo infraorbitário Abaixo da órbitaintra- interno intracraniano No interior do crânioipsi(o)- próprio ipsilateral Situado do mesmo ladoneo- novo neo​pla​sia Crescimento novo anormalpoli- vários policístico Muitos cistosretro- atrás retromamário Atrás da mamasoma- corpo somático Relativo ao corpotrans- através transuretral Através da uretra-ectomia remoção de apendicectomia Remoção do apêndice-fobia temor; receio fotofobia Intolerância anormal à luz-gnose reconhecimento estereognose Reconhecimento de umobjeto pelo tato-grafia algo escrito mielografia Radiografia da medula-ismo estado; condição gigantismo Estado de crescimentoexagerado-ite inflamação colite Inflamação do cólon-lise dissolução hemólise Liberação de hemoglobinaem solução-malacia amolecimento osteo​malacia Amolecimento dos ossos-megalia aumento cardiomegalia Aumento cardía​co-micose fungo dermatomicose Processo patológico da pelecausado por fungo-ologista especialista cardiologista Especialista em cardiopatias57-oma tumor; crescimento fibroma Tumor de tecido fibroso-rrafia sutura herniorrafia Sutura de uma hérnia-ose estado patológico endometriose Estado patológico do tecidouterino de localizaçãoanormal-patia doen​ça uropatia Doença das vias urinárias-plastia reparo valvuloplastia Reparo cirúrgico de umaválvula cardía​ca-plegia paralisia hemiplegia Paralisia da metade do corpo-ptose queda blefaroptose Queda das pálpebras-scopio instrumento para exame oftalmoscópio Instrumento para exame doolho-spasmo espasmo blefaroespasmo Contração das pálpebras-stomia abertura ileostomia Criação cirúrgica de umaabertura no íleo-tomo corte micrótomo Instrumento para cortarfatias finasBibliografiaBRAZ, M.B. Semiologia médica animal. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982,v. 2, 725 p.CALDAS, E.M. Propedêutica clínica em medicina veterinária. Salvador: UniversidadeFederal da Bahia, 1975.CROW, S.E.; WALSHAW, S.O. Manual de procedimentos clínicos em cães, gatos e coelhos.Artmed Editora, 2000. 277 p.GARCIA, M.; DELLA LIBERA, A.M.M.P.; FILHO, I.R.B. Manual de semiologia e clínica deruminantes. Editora Varela, 1996. 247 p.GUNTHER, M. Diagnóstico clínico veterinário – con atención especial a la anestesiología.Zaragoza: Acríbia, 1979. 256p.HAMPTON, J. R.; HARRISON, M.J.G.; MITCHELL, J.R.A. et al. Relative contributions ofhistory-taking, physical examination, and laboratory investigation to diagnosis andmanagement of medical outpatientes. British Medical Journal, 2; 486-89, 1975.HARDY, R.M. General physical examination of the canine patient. Veterinary Clinics of NorthAmerica: Small Animal Practice, 11(3): 453-67, 1981.58LEES, G.E. 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Não se deve esquecer o Fde cada palavra of.59IntroduçãoA contenção mecânica tem como principal finalidade restringir, tanto quanto possível, aatividade física do animal, na tentativa de avaliar o paciente e/ou executar outros60■■■■■procedimentos (curativos, administração de medicamentos). Tanto para o examinador quantopara alguns proprietários (principalmente de pequenos animais), é sempre um momentodelicado dentro do contexto de inter-relacionamento “proprietário-veterinário”, visto que hácerta relutância, por parte dos donos, no momento de imobilizar esses animais para exame. Noentanto, por mais dócil, meigo e inofensivo que seja ou pareça ser o seu paciente, a simplespalpação, por exemplo, de uma determinada estrutura que apresente aumento de sensibilidadefará com que ele se defenda à manipulação não habitual, com mordeduras, coices, chifradase/ou unhadas. Por esse motivo, não se deve manipular um animal, mesmo que seja para aexecução de procedimentos simples, sem que ele esteja adequadamente contido, o queresultará em maior segurança para o examinador, para o auxiliar e para o próprio animal, alémde propiciar um exame satisfatório e tranquilo.Os principais objetivos da contenção de animais domésticos são: Proteger o examinador, oauxiliar e o animal Facilitar o exame físico Evitar fugas e acidentes como fraturasPossibilitar procedimentos diversos (medicação injetável, curativos, cateterização, examesradiográficos, coleta de sangue etc.).É importante proceder às manipulações físicas com calma, evitando movimentos bruscose/ou violentos, os quais possam vir a alterar de maneira significativa os parâmetros vitais emvirtude do estresse promovido, principalmente em animais mais arredios. A socialização como paciente é um passo importante no momento da aproximação do mesmo, visto que, muitasvezes, uma abordagem inadequada pode ser fatal (tétano, dispneia acentuada por estenose devias respiratórias, insuficiência cardíaca grave etc.) ou desencadear um comportamento nãocooperativo por parte do animal, o que prejudica o estabelecimento do diagnóstico.Antes da fase de contenção, é necessário realizar algumas tentativas para amenizar osefeitos causados pelo examinador e pelo ambiente estranho ao animal. A aproximaçãoenquanto se pronuncia o nome do animal, ou dizendo “oi” ou “alô”, estalando os dedos,assobiando e fazendo carinhos e agrados (se o animal consentir), é interessante e deve sertentada, deixando o animal mais relaxado e menos desconfiado com relação aos futurosprocedimentos. Dê oportunidade ao paciente para conhecê-lo também. Frequentemente, isso épossível durante a realização da anamnese, quando se tem contato visual. Boas condiçõesambientais de exame (ambiente calmo, bem iluminado, sem muita interrupção por pessoas ouchamadas telefônicas) melhoram consideravelmente os dados obtidos pelo exame físico. Aobservação a essas regras facilita a manipulação e propicia melhor relacionamento com opaciente.É conveniente estabelecer a natureza do local escolhido para a contenção (p. ex., se será nochão ou na mesa, com aparelhos especiais, fixos ou móveis), lembrando que os pavimentosduros e escorregadios sujeitam os animais que caem a acidentes mais sérios e, por vezes,irreparáveis (fraturas de membros, coluna vertebral, trauma cranioencefálico etc.).São recomendações gerais para a contenção física: Evitar movimentos bruscos eprecipitados; seja tranquilo, firme e confiante!61■■Tentar ganhar a confiança do paciente: converse, chame o animal pelo nome, acaricie-o,brinque, ofereça guloseimas e/ou alimentos apetitosos, caso os tenha Iniciar com acontenção padrão mais simples para a espécie (em cães, por exemplo, usar mordaça; emequinos, cabresto) e, quando necessário, evoluir para métodos mais enérgicos e radicais(focinheiras, cachimbos, formigas, troncos de contenção).CãesAntes de efetuar qualquer exame, é necessário que o veterinário se informe com oproprietário ou pessoa encarregada sobre o temperamento do animal (se é dócil e/ou falso),principalmente se o cão for de guarda ou de raças reconhecidamente agressivas, para que sepossa escolher o melhor método de contenção a ser empregado para cada caso. Na maioria dasvezes, a contenção mecânica pode e deve ser auxiliada pelo proprietário, cabendo aoexaminador a orientação correta de sua realização. Não é incomum a chegada de pacientes àclínica que, de tão agressivos, os próprios proprietários temem se aproximar, dificultando arealização de um exame físico adequado. Em tais situações, é imprescindível a utilização defocinheira, do cambão e/ou de contenção química.Felizmente, a maioria dos cães aceita bem a contenção, em virtude da boa sujeição dessesanimais ao ser humano. Reiterando: deve-se, como abordagem inicial, falar em tom amistosocom o cão; passar a mão sobre o seu dorso, dando-lhe, posteriormente, as costas da mão paracheirar, o que ajudará a captar a sua confiança. Os animais de pequeno e médio portes sãomais facilmente contidos, mantendo-os sobre uma mesa de superfície não escorregadia, após acolocação da mordaça ou de uma focinheira, o que inibe o animal de querer fugir. Já os cães deraças grandes e/ou gigantes são mais bem imobilizados no chão.A imobilização manual do animal em posição quadrupedal (Figura 2.1) e o seu decúbitolateral (Figura 2.3 B), facilitam a sequência do exame físico e a realização de vários outrosprocedimentos (coleta de sangue, raspado de pele, centeses exploratórias etc.). A colocação demordaça (Figura 2.2) é importante para se evitar acidentes com o examinador ou outra pessoa,principalmente se o animal for agressivo ou apresentar sensibilidade dolorosa em alguma partedo corpo, pois, instintivamente, reagirá de maneira defensiva à manipulação (palpação). Emcomparação à mordaça, a focinheira comercial é preferível para a avaliação em cães (Figura2.3 A), devido à maior segurança que dá ao examinador e à não oclusão das vias respiratóriassuperiores do animal. Quando necessário, cães muito agressivos devem inicialmente sercontidos por um cambão (Figura 2.4). Ao fazê-lo, é indispensável o cuidado, a fim de evitarenforcamento (asfixia) e/ou fratura de vértebras cervicais no animal.62Figura 2.1 Contenção manual. Coloque um braço sob o pescoço e passe o outro braço sob oabdome do animal.Figura 2.2 Como colocar a mordaça: A. Promova uma laçada de duplo nó com o dobro do diâmetrodo focinho do animal. B. Desloque as pontas da mordaça para que elas permaneçam atrás dasorelhas.Cuidado63■Verifique se há dificuldade respiratória após a colocação da mordaça; em caso afirmativo, eladeve ser prontamente retirada.Figura 2.3 A. Colocação de focinheira em cães. B. Imobilização de cães após decúbito.Figura 2.4 Cambão: espécie de bastão de madeira no qual se prende uma longa tira de couro ouuma corda, que deslizará por um anel, alargando-se ou estreitando-se em torno do pescoço doanimal, à vontade do operador.Para a colocação da mordaça, o examinador deve proceder da seguinte maneira: Utilize um64■■■■■■■■■■■■■■cordão de algodão ou tira de gaze resistente com aproximadamente 1,25 m de comprimentoPromova uma laçada de duplo nó com o dobro do diâmetro do focinho do animal antes de suaaproximação Coloque a laçada ao redor do focinho, posicionando o nó duplo acima deste.Aperte o nó e cruze as extremidades sob o queixo do cão Desloque as pontas da mordaça paraque elas permaneçam atrás das orelhas e amarre-as com firmeza; caso contrário, o animalconseguirá tirá-la com as patas dos membros anteriores.Para realizar a contenção:Coloque obraço sob o pescoço, prendendo-o moderadamente com o antebraço Passe ooutro braço sob o abdome do animal, segurando o membro anterior que se encontra domesmo lado de quem executa a contenção.Para realizar o derrubamento (animais de pequeno e médio portes): Posicione os doisbraços sobre o dorso do animal Leve-os em direção às regiões ventrais dos membros anteriore posterior (tarso e carpo), localizados próximo ao corpo de quem executa o derrubamentoPuxe o animal de encontro ao corpo do executor e retire, ao mesmo tempo, o apoio dosmembros que estavam presos com as duas mãos. Durante a queda, o animal deve ser amparadopelo corpo da pessoa executora, sob o risco de acidentes indesejáveis (fratura de costelas,queda da mesa de exame etc.) Com o animal posicionado em decúbito lateral, prenda osmembros anteriores e posteriores com as mãos, colocando os dedos indicadores entre osrespectivos membros Prenda a cabeça do animal com o antebraço mais próximo a ela,mantendo os membros posteriores estendidos.GatosA contenção de gatos é uma das tarefas mais difíceis e requer muito cuidado e habilidademotora por parte do examinador ou do auxiliar. A contenção de gatos é bem mais complicadaque a de cães pelo fato de: Serem mais ágeis e se desvencilharem com grande facilidade,principalmente quando a contenção é realizada por pessoa inabilitada Serem animaisrelativamente pequenos, tornando a sua imobilização mais trabalhosa, o que pode ocasionaracidentes quando se utiliza força excessiva Defenderem-se com as unhas e os dentes Estaremmais sujeitos ao estresse causado pela mudança de ambiente, por apresentarem característicasterritoriais.Os gatos devem ser mantidos com os seus proprietários (dentro de caixas de contenção oude transporte) e retirados somente no momento da sua avaliação, visto que um conhecimentoprévio e demorado do local do exame pode deixá-los irritados ou mesmo agressivos, emvirtude dos odores deixados no ambiente por outros animais, principalmente por cães (Figura2.5). A interação veterinário-paciente não é tão fácil como a observada na maioria dos cães,mas é possível tentar uma aproximação do animal, como, por exemplo, coçar a sua cabeça65antes mesmo de realizar a contenção. O primeiro passo na contenção dos gatos é lembrar-se defechar as janelas e portas do local de exame para evitar evasão ou acidentes. Inicialmente,deve-se tentar realizar o exame com o mínimo de imobilização, bastando, para tanto, acolocação de botinhas de esparadrapo após a colocação do animal na mesa. As unhas devemser aparadas caso haja necessidade de um procedimento de maior duração. Se o animal estivermantido dentro de caixas de papelão, madeira ou mesmo sacolas de pano, sua retirada deve serfeita por seu proprietário. Os gatos devem ser examinados, de preferência, sobre uma mesa.Figura 2.5 Caixa de transporte de felinos.Os gatos mudam rapidamente de comportamento e, muitas vezes, a cooperação inicial ésubstituída por inquietação ou hostilidade. Nesses casos, a contenção manual do gato érecomendada, mantendo-se a cabeça do animal presa dentro da palma da mão do ajudante, e osmembros posteriores contidos e esticados. Após a colocação do animal em decúbito lateral,pode-se passar uma toalha de mão dobrada em volta do pescoço do gato, mantendo dois dedosentre a toalha e a pele do animal para adequar a pressão exercida e evitar asfixia. É possívelsegurar gatos muito agressivos ou assustados pela pele que reveste a porção superior da regiãocervical, logo atrás das orelhas, o que o impedirá de virar a cabeça e morder a pessoa querealiza a contenção (Figura 2.6). Outra opção seria a junção de ambos os pavilhõesauriculares, com os dedos polegar e indicador de uma das mãos. Essa manobra deixa-osimóveis, em virtude da grande sensibilidade que essas estruturas apresentam quando sãofortemente comprimidas.Caso se faça necessária a permanência do animal na clínica ou hospital veterinário após aavaliação, o gato deve ser alojado em local ventilado, confortável, higiênico e seguro (Figura2.7).66Figura 2.6 Contenção manual com colocação de botinhas de esparadrapo.Figura 2.7 Gaiolas de alojamento para felinos.EquinosAntes de abordar os equinos, deve-se observar o comportamento do animal na tentativa dese ter uma ideia sobre a sua possível reação a um provável manuseio (coices, mordidas),atentando-se, por exemplo, para o posicionamento das orelhas, visto que, em geral, ao abaixá-las, os animais traiçoeiros demonstram a intenção de resistir ao aprisionamento. O veterinárioou o ajudante deve se aproximar posicionando-se à esquerda desses animais, em virtude de acolocação de equipamentos como arreios e sela ser realizada pelo lado mencionado. Antes queum cavalo seja contido e examinado, deve-se, inicialmente, pegá-lo. Quando o cavalo é67cooperativo, essa etapa é muito fácil de ser vencida, bastando, para isso, manter o cabrestoe/ou a corda de modo estendido e realizar uma aproximação lenta, vagarosa. Uma vez admitidaa aproximação, deve-se fazer a abordagem manual, acariciando o dorso do animal, em seguida,apreendendo-o pela paleta esquerda, passando o braço ao redor do seu pescoço.Posteriormente, aplica-se uma corda ou cabresto (Figura 2.8). A maioria dos animais tolerauma abordagem realizada da maneira descrita, mas caso o animal estranhe esse procedimento,afastando bruscamente a cabeça ou saltando, perde-se a oportunidade de pegá-lo. Senecessário, o cavalo pode ser tocado para um canto de cerca, o que facilitará a captura. Sevários animais estão juntos, é melhor conduzir todos para um brete ou piquete e depois isolar oanimal que se deseja conter.Muitas vezes, o animal não admite a aproximação, pois se encontra em um piquete grande, oque possibilita a sua fuga. Quando acuado, fica dando voltas, mirando e acompanhando oexaminador com um discreto desvio de cabeça e com a sua traseira, ameaçando desferir golpescom os seus membros posteriores. Se o animal estiver em piquete, o lançamento de uma cordacomprida o deixará, na maioria das vezes, relativamente imóvel, dando a impressão de que eletem a sensação de que já foi capturado. Comportamento semelhante pode ocorrer quando osanimais estão em locais fechados e pequenos. Apesar de a captura ser teoricamente mais fácil,torna-se, por outro lado, mais perigosa para o examinador ou auxiliar, pela maior dificuldadede escapar de possíveis coices ou manotadas. Nessas situações, é importante que a porta nãoesteja completamente fechada, de modo que possibilite a saída do veterinário, mas não doanimal. Inicialmente, deve-se colocar uma das mãos em um dos lados da garupa do cavalo, afim de impedir que ele desvie a sua traseira em direção ao veterinário ou tratador. Quandocontidos, alguns equídeos podem tentar morder a pessoa que estiver posicionada mais próximade sua cabeça (examinador, tratador, proprietário etc.). Nesse caso, a colocação do buçal(Figura 2.9) ou do cachimbo auxiliará de maneira satisfatória a manipulação.Figura 2.8 Colocação de cabresto em equinos. Método mais comumente utilizado na contençãodesses animais.68Figura 2.9 Colocação de buçal em equinos agressivos e mordedores. É utilizado também para opós-cirúrgico, na tentativa de evitar lambeduras de soluções de continuidade ou retirada de suturas.Os animais novos ou adultos muito mansos podem ser contidos apenas com o auxílio dasmãos, segurando-se as orelhas, os lábios, as crinas, a cauda e/ou a pele do pescoço. Os potrosnão acostumados com o manuseio de pessoas, ao contrário do que possa parecer, são perigosose podem morder e coicear. A contenção dos potros em posição quadrupedal também pode serfeita posicionando-se ao seu lado e passando-se uma das mãos em volta da musculaturapeitoral, e a outra por trás da coxa ou na base da cauda, suspendendo-a.Os muares, que têm orelhas avantajadas, são facilmente contidos pela apreensão, seguida decompressão. Depois de duas ou três tentativas de resistência, eles desisteme admitem amanipulação. Os animais rebeldes, por sua vez, devem ser contidos por meios mais eficientes,tais como o cachimbo, o bridão, a focinheira e o rosário ou colar (Figura 2.10). O animalnunca deve ser amarrado pelo pescoço, pois uma queda acidental ou uma tentativa de fugapoderá resultar em óbito por asfixia. Outro cuidado deve ser tomado ao colocar os equinos emlocais baixos, visto que eles podem se assustar com o barulho e/ou movimentos bruscos esaltar repentinamente para o alto, o que poderá promover um trauma craniano de gravidadevariável.Um meio eficaz e simples para conter manualmente um cavalo calmo e não muito forte éagarrando-se a pele do animal na base do pescoço, promovendo uma rotação firme.O cachimbo ou pito (Figura 2.11) é um excelente instrumento para ser usado na maioria dosanimais não cooperativos, pois a sua passagem pelo lábio inferior ou superior, com posteriortorção, induzirá dor considerável, o que obrigará o animal a se manter quieto, mesmo noscasos de intervenções dolorosas. No entanto, alguns animais não deixam que se coloque ocachimbo, e/ou, quando o fazem, irritam-se e suam muito. A passagem do cachimbo na orelhadeve ser evitada em virtude do provável dano à cartilagem aural, o que causará uma alteraçãoirreversível do seu posicionamento (orelha pêndula, caída), com subsequente prejuízo estético.Contudo, é possível conter o animal ao segurar manualmente a orelha (Figura 2.12), quando sedeseja uma contenção rápida, ou precedendo outro meio coercitivo mais radical, como a69■■■■■colocação do cachimbo, por exemplo. O examinador deve assegurar o controle da cabeça doanimal, mantendo o pescoço apoiado com o antebraço, o que possibilitará melhorposicionamento para resistir a possíveis manobras por parte do animal. Esse procedimento émais bem realizado segurando-se o cabresto com a mão oposta. Às vezes, cobrir os olhos doanimal com as mãos ou com um saco de estopa, como se fosse um capuz, ajuda na avaliaçãoe/ou em intervenções de determinadas partes do corpo.Figura 2.10 Colocação do rosário ou colar em equinos. Utilizado mais comumente no pós-cirúrgico,na tentativa de evitar lambeduras das soluções de continuidade ou a retirada de suturas.Para colocar o cachimbo (Figura 2.11 A, B e C): Segure o cabo do cachimbo com a mãoque tenha maior firmeza e agilidade Coloque os dedos da mão oposta sob a laçada e segure olábio superior, elevando-o discretamente Deslize a laçada por entre os seus dedos,envolvendo o máximo que puder o lábio superior Aperte a laçada rapidamente com a mãocom a qual segura o cabo do cachimbo Fique atento para possíveis reações do animal70(manotadas, saltos etc.) Figura 2.11 Sequência da colocação de cachimbo ou pito em equinos: A. Coloque os dedos (polegar,indicador e dedo médio) por dentro do laço. B. Envolva o lábio superior do animal com laço,segurando-o com os dedos. C. Promova a rotação com firmeza do laço que está adequadamenteposicionado em volta do lábio, comprimindo o lábio superior.ObservaçãoNão é recomendável a aplicação do cachimbo com força exagerada, pois o cavalo pode71■■■■■■■■ressentir-se e tornar-se agressivo. Aplique-o de maneira firme, aumentando a pressãogradativamente até o animal se tornar cooperativo.Outro meio muito usado para manter o animal imobilizado é suspender um membro anterior(mão de amigo) ou posterior (pé de amigo), tirando-lhe, assim, o apoio.Para realizar a contenção do membro anterior de equinos (mão de amigo) (Figura 2.13): Dêleves tapinhas no pescoço ou no dorso do animal para distraí-lo Com uma das mãos, desvie opeso do animal para o lado oposto ao que você deseja suspender Posicione a outra mão naregião do boleto e suspenda o metacarpo (canela) rapidamente em direção ao seu antebraço Figura 2.12 Contenção manual de equinos. Aprisione uma dobra de pele em região de escápula euma das orelhas do animal.Figura 2.13 Mão de amigo (contenção do membro anterior de equinos).Mantenha o corpo do animal desviado para o lado oposto do membro suspenso.Acompanhe com cuidado os movimentos do animal, evitando sacudidelas violentas.Para realizar a contenção do membro posterior de equinos (pé de amigo): Posicione-se decostas para as partes anteriores do animal Com uma das mãos, desvie o peso do animal para olado oposto ao que você deseja suspender Posicione a outra mão na região do boleto,suspenda o metatarso e desvie o membro para trás ou para frente Se desviado para trás,coloque-o sobre a perna e descanse-o na coxa.72ObservaçãoOs animais não costumam tolerar a elevação de um dos membros posteriores por muitotempo, devendo-se, em intervalos regulares, deixá-los descansar. O desvio para trás tambémpode ser feito com a utilização de cordas.Caso seja preciso intervir na parte posterior do animal, como no caso de cobertura deéguas, passagem de espéculos ou vaginoscópios, é necessário conter ambos os membrostraseiros. Para isso, duas cordas são fixadas por nós corrediços às canelas ou quartelas nuasou vestidas com caneleiras, trazidas para frente, cruzadas sob o peito e puxadas para cima, deambos os lados do pescoço, e amarradas na altura da cernelha. Quando não se dispuser de umacaneleira, os membros devem ser protegidos com faixas para evitar lacerações da pele e/oulesões nos tendões e ligamentos.Derrubamento de equinosO derrubamento de equinos pode ser realizado utilizando-se caneleiras e cordas, ousomente cordas. Vejamos os métodos mais comumente utilizados.Método dos travõesPodem ser usadas caneleiras ou travões, argolas ou anéis, que são um jogo de quatrocorreias de tamanho pequeno (4 a 6 cm de largura), geralmente feitas de couro cru, grossas eresistentes. Uma das extremidades contém uma forte fivela fixa que prende a caneleira nomembro. A corda a ser puxada pelos auxiliares serve, também, para unir as caneleiras edesequilibrar o animal, devendo ser, portanto, resistente e comprida (cerca de 10 m). O animaldeve ser conduzido para o local de derrubamento, obrigatoriamente macio (grama, areia,maravalhas, serragem etc.), livre de objetos contundentes ou perfurantes. Colocam-se as peiasnos quatro membros do animal, em região acima do boleto. Fixa-se a corda na caneleiramestrae passa-se a corda por entre as argolas das caneleiras traseiras, do membro anterior oposto e,por fim, pelo anel da caneleiramestra. As argolas dos membros anteriores são colocadas paratrás e as dos membros posteriores para frente. Puxa-se a corda nessa direção. Os ajudantesdevem ser posicionados na cabeça do animal, segurando-se a focinheira ou o cabresto (paraevitar trauma e direcionar a queda do animal), na escápula (para empurrar o animal e tirar-lheo equilíbrio) e, outro, na cauda, para diminuir o impacto do corpo do animal contra a cama ouchão protegido. A corda, uma vez tracionada, aproximará os membros do animal,desequilibrando-o, derrubando-o para o lado em que é impelido pelos ajudantes colocados nacabeça, na escápula e na cauda. A derrubada deve ser sincrônica, com os auxiliares atuandoconjuntamente e ao mesmo tempo. Deve-se conduzir a queda contando alto: um, dois e... três,e, coordenadamente, realizar-se o derrubamento. Uma vez o animal no chão, trata-se logo de73manter os travões reunidos e a cabeça pressionada contra a cama, para evitar que o animal selevante.Método antigoÉ um dos processos de derrubamento mais fáceis de execução. No meio de uma corda bemcomprida (10 m), arma-se um anel que fica colocado na base do pescoço; as duasextremidades, cruzando sobre o pescoço, passam de volta por dentro do anel, dirigem-se paratrás, contornam as quartelas posteriores e são trazidas e puxadas diretamente para trás, oupassam novamente pelo anel do pescoço, e são direcionadas para trás (Figura 2.14).Método nacionalEste método também é eficiente e, assim como o antigo, apresenta a vantagem de utilizarapenas uma corda para a sua realização. É feito passando-se o meio de uma corda compridasobreo pescoço, bem em sua base, de maneira que permaneça à frente da musculatura peitoral,deixando as duas extremidades com o mesmo comprimento. Passam-se ambas as extremidadesdas cordas por baixo do pescoço e por entre os membros anteriores e, então, pela região doboleto de ambos os membros posteriores, transpassando cada ponta da corda por entre a cordaque envolve o pescoço, do respectivo lado. As duas extremidades são direcionadas para aregião posterior do animal e, assim, são tracionadas ou puxadas por dois auxiliares. Apresença de um ajudante na parte da cabeça do animal é importante e não deve ser desprezada.Ovinos e caprinosDentre os pequenos ruminantes domésticos, os ovinos são mais difíceis para capturar, vistoque os caprinos são mais curiosos e costumam admitir a aproximação do examinador. Umovino é mais facilmente abordado quando deixado junto com o grupo, sendo a sua imobilizaçãorelativamente simples, quando capturado. Para a contenção e a derrubada de caprinos e ovinos,empregam-se diversos métodos, tais como: 74■■■Figura 2.14 Derrubamento de equinos por meio da utilização de peiteira.Segurar ou laçar o membro posterior (tíbia) e puxá-lo para trás e para cima (esse método éarriscado e, quando realizado inadequadamente e/ou em pacientes fortes, jovens e/ouarredios, pode ocasionar luxações e fraturas) Montar sobre o animal e contê-lo peloschifres Pegá-lo pelos chifres, colar, barba ou, em último caso, pelas orelhas.Outra maneira seria o ajudante se posicionar lateralmente ao animal e, com uma das mãos,segurar a prega do godinho ou do flanco e, com a outra, a mandíbula do animal, mantendo-oparado (Figura 2.15). O ajudante pode, em algumas ocasiões, derrubar o animal paraavaliação. Para tanto, estando o animal contido e o auxiliar com o mesmo posicionamentoinicial, retira-se o apoio da porção posterior do animal com o joelho mais próximo da referidaregião e, com uma manobra rápida das mãos, posiciona-se o animal sentado (verticalmente),preso entre os seus joelhos. Esse posicionamento é de grande utilidade para avaliar a região deprepúcio e o apêndice vermiforme ou vermicular, por exemplo, na tentativa de se confirmarsua obstrução parcial ou total por cálculos. Em caprinos, esse método de contenção não é tãoeficiente em virtude da dificuldade de mantê-los presos entre os joelhos e coxas do assistente.Para animais menos cooperativos, coloque-os em decúbito lateral e, com um dos joelhos,prenda cuidadosamente o pescoço do animal, segurando os membros posteriores com uma dasmãos. Método interessante é colocá-lo em maca/mesa adaptada para realização deprocedimentos diversos (Figura 2.16).BovinosA maioria dos procedimentos de exame físico pode ser realizada com o animal em posiçãoquadrupedal, desde que se faça uma boa contenção da cabeça e se limitem os movimentos dosmembros e do corpo. De modo geral, os bovinos de origem europeia apresentam umcomportamento dócil e calmo. Contudo, os animais machos, principalmente os da raçaholandesa, são, por vezes, traiçoeiros e imprevisíveis, devendo ser contidos com firmeza eatenção. Já os animais de origem indiana podem ser muito calmos ou muito agressivos,dependendo do tipo de manejo ao qual são submetidos, mas devem sempre ser contidos comdeterminação, pois podem se assustar facilmente, representando um perigo iminente aoexaminador. Com relação às fêmeas de bovinos, deve-se fazer a aproximação pelo ladodireito, por onde são correntemente ordenhadas. Ao contrário dos equinos, os bovinos atacamcom as extremidades anteriores em sentido lateral, descrevendo, com elas, um semicírculo commovimento para trás. No entanto, ocasionalmente, podem lançar golpes curtos para a parteposterior. As vacas ficam mais tranquilas quando se aproxima o bezerro do seu úbere. Animaisnervosos podem se mover rapidamente para os lados, o que leva à ocorrência de acidentes nocaso de um examinador ou auxiliar estar desatento. Além disso, os touros e as vacasninfomaníacas podem atacar com a cabeça, aprisionando o examinador contra a parede.75Figura 2.15 Contenção manual de caprinos, utilizada também para a espécie ovina.Figura 2.16 Mesa utilizada para exame físico e procedimentos diversos em pequenos ruminantes.De maneira geral, os bovinos leiteiros podem ser conduzidos por um cabresto, com ocondutor posicionado à frente e a certa distância do animal. Não se recomenda ficar de costaspara os animais machos da raça holandesa, pois podem ser traiçoeiros, cabecear ou chifrarviolentamente e de maneira fatal o condutor. Nesses casos, é recomendável que o condutorpermaneça atrás do animal, encorajando-o a caminhar por meio de vocalizações e batendo coma extremidade da corda nos membros posteriores do animal. Não é interessante que os animaiscorram enquanto estão sendo conduzidos, visto que a corda pode provocar lesões na mão dapessoa que a está segurando, principalmente ao tentar pará-los com o uso da força. Aparelhosque emitem choques elétricos podem ser utilizados nos animais que relutam em caminhar ou emlevantar-se (Figura 2.17). Contudo, seu uso deve ser feito com critério e sensatez. É comum atorção da cauda do animal para fazê-lo andar; no entanto, a mesma deve ser feita suavemente,em virtude do risco de fraturas ou luxações das vértebras coccígeas.Figura 2.17 Aparelhos que emitem choques elétricos podem ser utilizados em animais que relutam76em caminhar ou em levantar-se.Nos animais mansos, a cabeça pode ser mantida pela contenção manual: agarrando-se abase de um dos chifres ou uma das orelhas com uma das mãos e o septo nasal entre o polegar eo dedo médio ou indicador da outra mão, exercendo considerável pressão. Contudo, a pressãomanual adequada é possível somente por determinado tempo, principalmente se o animal formuito grande ou pouco cooperativo. Outro problema frequentemente observado é o fato de osanimais já familiarizados com esse tipo de procedimento terem o costume de desviar a cabeçapara os lados e para baixo, deixando-a rente ao solo, dificultando a apreensão do seu septonasal.Alguns animais, quando soltos em piquetes, não admitem a aproximação, sendo necessário,muitas vezes, que duas pessoas, cada uma posicionada atrás e lateralmente ao animal,conduzam-no para um dos cantos do piquete, visando à diminuição de sua movimentação e,consequentemente, à contenção, ou os amarrem em um mourão, uma estaca grossa, fincadafirmemente ao solo, à qual se amarram animais indóceis para tratá-los. Muitos animaisacostumados com a manipulação do homem (animais produtores de leite, de exposição) tornampossível o exame pela simples colocação do cabresto e de uma peia em seus membrosposteriores (Figura 2.18).Outra maneira de se conter esses animais é colocando-os em um tronco de contenção. Essamissão é facilitada juntando-se outros animais ao bovino bravio (amadrinhamento) e, nomomento da sua passagem por um brete, prendendo-o no tronco de contenção (Figura 2.19)quando estiver posicionado entre ele. O tronco de contenção também pode ser utilizado para osequídeos (Figura 2.20), adaptado para as espécies.Tanto os bovinos com chifres quanto os descornados podem ser contidos por um instrumentometálico conhecido, vulgarmente, pelo nome de formiga (Figura 2.21), que é colocado entre asnarinas e seguro por um auxiliar. A formiga é útil principalmente nos animais bravios e/ou nãocooperativos, os quais poderão, até certo ponto, ser mantidos imóveis, em virtude da dor naregião nasal provocada por esse instrumento.Derrubamento de bovinosDeve-se tomar cuidado na derrubada de bovinos para evitar traumas aos chifres, costelas,ossatura pélvica e/ou abortos. Desse modo, o animal deve ser lentamente derrubado em localmacio, segurando-se com cuidado a sua cabeça e prestando-lhe assistência. Além de evitar aocorrência de acidentes, o auxiliar também posiciona o animal no local em que se deseja, ouseja, o lado mais adequado onde o mesmo deve permanecer para o procedimento. OderrubamentoDepartamento de ClínicaVeterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade EstadualPaulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVZ/UNESP, campus Botucatu.Ronaldo LucasProfessor Adjunto da disciplina Clínica Médica de Pequenos Animais. Universidade AnhembiMorumbi.Valéria Nobre L. S. OlivaProfessora Adjunta da disciplina de Anestesiologia Veterinária. Departamento de Clínica,Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UniversidadeEstadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – FMVA/UNESP, campusAraçatuba.Wagner Luis FerreiraProfessor Assistente Doutor da disciplina de Clínica Médica de Pequenos Animais. Faculdadede Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” –FMVA/UNESP, campus Araçatuba.10AgradecimentosHá pessoas que transformam o sol numa simples manchaamarela, mas há aquelas que fazem de uma simplesmancha amarela o próprio sol. (Pablo Picasso)Aos meus pais, Eucézia Barreto Formiga Feitosa e Édson Feitosa Cavalcanti, por todo osacrifício e amor dedicados.Aos meus amados filhos, Lucas e Gabriel, que sempre se mantiveram próximos, mesmoquando estive distante.À Fernanda (Preta), que, com sua dedicação, maturidade, companheirismo e lealdade, fezferidas abertas cicatrizarem e me mostrou que sempre é possível amar novamente.Aos meus colaboradores, colegas e amigos, por sempre terem acreditado em mim.Francisco Leydson F. Feitosa11Prefácio à terceira ediçãoConfesso que, ao receber o convite para prefaciar a terceira edição do já clássico tratadoSemiologia Veterinária | A Arte do Diagnóstico, fui colhido por um misto de surpresa ealegria. Senti-me, também, honrado por ter sido escolhido, dentre tantos, pelo ProfessorLeydson, o “Chico”, amigo de decênios, ex-pós-graduando da já vetusta Faculdade deMedicina Veterinária e Zootecnia da USP, violonista e violeiro, contador de “causos”, mas,principalmente, emérito semiólogo brasileiro, seguidor dos passos do “Velho Birgel”, quiçá oprimeiro a crer, abraçar e desenvolver, em bases modernas, a aparentemente árdua semiologia.A ciência e a arte se fundem envolvendo a semiotécnica, a clínica propedêutica e asemiogênese, elementos fundamentais para a boa praxe médico-veterinária. Destarte quãodifícil é redigir tratado com tal escopo, em linguagem não enfadonha, mas sim clara emotivadora para futuros e mesmo maduros ou senectos clínicos.De há muito tempo sentia-se a necessidade de se dispor de texto completo e moderno sobresemiologia veterinária envolvendo o que há de melhor, na atualidade, em termos deprofissionais veterinários que se dedicam à clínica das distintas espécies. À primeira edição,lançada em 2004, com enorme sucesso de vendas – adotada que foi, por todas as dezenas defaculdades brasileiras, pela qualidade, profundidade e abrangência –, seguiram-se a segunda eesta terceira edição, ora com 16 capítulos, redigidos por mais de 20 colaboradores.Quando da leitura da primeira das edições, adotei-a de imediato e recomendei sua adoção aalunos da graduação e da pós-graduação, strictu e lato sensu. Refiro-me a ela em aulas,palestras e cursos para complementar o pouco tempo que se tem para enfocar órgãos e sistemasacometidos que são por centenas de enfermidades. Na quarta capa da segunda edição,considerei que o tratado preenchia de maneira magnífica a lacuna existente na ciência clínica,mormente pela flagrante e insólita escassez de bons livros voltados à arte do diagnóstico nalíngua pátria.O mesmo faço agora, pois esta terceira edição, parcimoniosamente revista e atualizada,apresenta-se incorporada de novos temas, tais como a avaliação de recém-nascidos das diferentes espécies animais.A clínica veterinária de excelência, em todas as suas vertentes, alicerça-se em três pontos,quais sejam: o raciocínio clínico, a relação do profissional médico veterinário com o cliente,12proprietário ou preposto, e, principalmente, com o paciente animal, tudo embasado emprocedimentos éticos rigorosamente seguidos. A excelência do diagnóstico e a consequenteadoção da conduta acertada e precisa do protocolo terapêutico estribam-se em dados bemcoletados; ou seja, como refere Celmo Celeno Porto, professor emérito da UniversidadeFederal de Goiás, semiólogo de escol, “tudo depende do exame clínico”, principalmente o bemexecutado, “pois é no encontro com o paciente”, no caso o animal que nos é trazido ou aoencontro do qual vamos, “quando tudo acontece... ou não acontece”!A veterinária de hoje exige decisões diagnósticas consistentes, embasadas em hipótesessólidas, oriundas de exame físico preciso, bem dirigido, que irá suscitar a solicitação deexames complementares bem escolhidos, na quantidade certa, sem dispêndio de recursos que,por vezes, ultrapassam o valor pecuniário do paciente, principalmente aquele destinado àprodução. O mesmo é totalmente válido, para os nossos pacientes de guarda, esporte ecompanhia.A anamnese breve, mal conduzida, divorciada do pleno conhecimento da patologia médica,sucedida por exame físico imperfeito sem recorrer a todos os meios semiológicos,complementada por exames subsidiários mal escolhidos e interpretados, gerará diagnósticoequivocado e terapia errônea com certeza apenas de fracasso, perpetuação de sofrimento edesalento de proprietários.Ainda mais, a interpretação dos exames subsidiários, para que se mostrem válidos àquelesque os custearam, se assenta na perfeita e cuidadosa coleção de dados clínicos.As primícias do desiderato do tratado mantêm-se não deixando de considerar avançostecnológicos, merecendo, portanto, que seja “obra de consultório” e por que não “decabeceira”, principalmente para os novos e mesmo para os já erados clínicos.Tolle, lege!Carlos Eduardo LarssonProfessor Titular da FMVZ/USPMembro da Academia Paulista de Medicina VeterináriaOutubro de 201313Prefácio à primeira ediçãoHá muito sonhava com a publicação deste livro. Percebi, ainda na época da residência, naFaculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, o quanto eraimportante um exame físico pormenorizado e cuidadoso. Às vezes, a falta de um detalhe, deuma simples informação, da observação de um sinal ou sintoma e, por que não dizer daimaginação de outros inexistentes, era o elo que me faltava para chegar a um diagnósticoespecífico, preciso. Preocupava-me em estudar as doenças, a etiopatogenia, o tratamento, edeixava em segundo plano o paciente, a sua adequada abordagem, a avaliação meticulosa e ainterpretação precisa do exame clínico.Percebi também que existiam poucos livros abordando o contexto semiológico e que oueram publicações não tão recentes, ou abordavam os assuntos de maneira muito simplista ounão muito realista. Não desmereço tais publicações, pois todas têm, em menor ou maior grau, omérito de valorizar a arte do exame físico. Queixas de má prática resultantes, quase sempre, deinadequadas abordagens de exame físico, têm surgido com alarmante assiduidade no nossomeio. As maravilhosas habilidades básicas dos profissionais de outrora estão, a cada dia quepassa, sendo substituídas por procedimentos rápidos, caros e, muitas vezes, desnecessários. Éesse o objetivo mais forte que me incitou ao recrutamento de um grupo de profissionaiscapacitados, preocupados em valorizar, ainda mais, os métodos e meios de diagnóstico clínico.Escrever um livro sobre diagnóstico físico não é uma tarefa das mais fáceis. É um desafio etanto! Procurou-se valorizar os aspectos básicos de um diagnóstico: a identificação dopaciente, a anamnese e os métodos físicos de exame. Obviamente, em virtude da grandeevolução dos exames complementares nos dias atuais, buscou-se abordá-los da melhor maneirapossível, mas deixando claro que só são verdadeiramente úteis quando precedidos de umexame físico correto.Cada capítulo deste livro começa com uma revisão de alguns aspectos fisiológicos eanatômicos do referido sistema. Foi incluído um capítulo abordandoperfeito é aquele em que o animal parece estar “caindo em pé”, em câmara lenta.Quedas rápidas ou abruptas para os lados devem ser evitadas pelos riscos que proporcionam.Quando não houver preferência para o lado do decúbito, deve-se optar pelo lado esquerdo, noscasos de vacas prenhes ou recém-paridas (deslocamento do abomaso), ou direito, em animais77■■■■■■■machos e em fêmeas sem as condições reprodutivas anteriormente mencionadas e/ou que nãotenham tido um jejum alimentar prévio (asfixia por timpanismo gasoso). A utilização de cordascompridas (± 15 m) é recomendada para a derrubada de bovinos.Independentemente dométodo escolhido, a colocação de peias nos animais deve ser feita, uma vez que ajudará a tiraro equilíbrio dos membros posteriores, facilitando a queda e a manutenção do animal emdecúbito. Vários métodos são descritos e utilizados na rotina prática, mas os mais comuns sãoos métodos de Rueff e o italiano. A escolha do método dependerá, em parte, do sexo e dotemperamento do animal. O método de Rueff não é o mais indicado para os animais machospelo fato de provocar danos traumáticos no pênis e no prepúcio.Método de RueffFixam-se ambas as extremidades dos chifres em suas bases ou no pescoço por um laço comnó escorregadio Com uma das mãos, segura-se a corda sobre o tórax, passando-se suaextremidade por baixo da região ventral do tórax no sentido oposto ao corpo, levando-a,em seguida, novamente por cima e por dentro da parte da corda que está sendo seguraRepete-se a mesma operação no nível dos flancos; a ponta da corda sai para trás Faz-setração firme, lenta e contínua sobre a corda, o que fará com que o animal caiavagarosamente, acompanhado por um ajudante em sua cabeça.Método italianoPassa-se metade de uma corda comprida pelo pescoço, na frente da cernelha Cruzam-seambas as extremidades das cordas por baixo do pescoço e, mais uma vez, sobre a regiãotorácica, passando as pontas das cordas por entre os membros posteriores Cadaextremidade livre é puxada por um homem, enquanto um terceiro assistente segura a cabeçado animal (Figura 2.22).Após a derrubada e a realização dos procedimentos pertinentes, o bovino deve sercolocado em decúbito lateral; a permanência do animal por um longo período nessa posiçãofaz com que haja maior acúmulo de gás no compartimento do rúmen, por impedir o ato daeructação e, consequentemente, a eliminação do gás formado, levando a um quadro detimpanismo. Em algumas situações, tais como nos casos de hipocalcemia, fratura de membros,processos dolorosos no sistema musculoesquelético e botulismo, torna-se difícil manter oanimal em decúbito esternal, mesmo que temporariamente, sendo necessário alternar o ladoque o animal fica deitado, várias vezes durante o dia, na tentativa de minimizar a necroseisquêmica que ocorre como resultado da compressão exercida sobre a musculatura. Brevesbatidas podem ser dadas com a palma da mão em toda a área muscular comprometida, paramelhorar a irrigação local. Alguns animais, quando auxiliados, conseguem se levantar emanter-se em posição quadrupedal. Para tanto, pode-se utilizar choques elétricos, fortesbatidas com as palmas das duas mãos na região torácica e abdominal, simultaneamente, ou78auxiliar o animal a levantar-se e equilibrar-se. A permanência dos animais debilitados emposição quadrupedal pode ser facilitada com a utilização de uma maca suspensa por umguincho comum (Figura 2.23).79Figura 2.18 Sequência da colocação de peias em bovinos: A. Faça uma laçada dos dois membrosposteriores na altura do jarrete com uma corda comprida (± 1,5 m). B. Junte os membros,tracionando-se as extremidades da peia. C. Faça outra laçada e cruze uma das extremidades – aoutra deve ficar segura por uma das mãos, sobre as laçadas feitas, passando, em seguida, por baixodelas. D. Cruze as extremidades. E. Faça um nó de fácil retirada.Figura 2.19 Tronco de contenção para bovinos.Figura 2.20 Tronco de contenção para equinos. A superfície não deve ser escorregadia e o local deexame deve ser alto para evitar traumas cranioencefálicos.Figura 2.21 Argola de ferro utilizada para imobilizar bovinos chifrudos ou indóceis.80Figura 2.22 Método italiano para derrubamento de bovinos: A. Passa-se uma corda sobre opescoço, deixando o mesmo comprimento da corda livre em ambos os lados, cruzando asextremidades abaixo do pescoço e passando-as por entre os membros anteriores em direção aodorso. B. Já no dorso (região torácica), cruzam-se as pontas das cordas, passando-as por entre osmembros posteriores do animal, levando-as para trás dele (C).81Figura 2.23 Maca suspensora de bovinos em decúbito. Observe a glândula mamária livre decompressão e trauma.BibliografiaBRAZ, M.B. Semiologia médica animal. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.v. 2, 725 p.CALDAS, E.M. Propedêutica clínica. Centro Editorial e Didático UFBA, 1978. 210 p.CROW, S.E.; WALSHAW, S.O. Manual de procedimentos clínicos em cães, gatos e coelhos.ARTMED, 2000. 279 p.EURIDES, D. Métodos de contenção de bovinos. Livraria e Editora Agropecuária, 1998. 78 p.HARDY, R.M. General physical examination of canine patient. Veterinary Clinics of NorthAmerica, 11(3): 453-67, 1981.KELLY, W.R. Diagnóstico clínico veterinário. 3. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1986.364 p.MASSONE, F. Anestesiologia veterinária: farmacologia e técnicas. Rio de Janeiro:Guanabara, 1988. 234 p.McCURNIN, D.M.; POFFENBARGER, E.M. Small animal physical diagnosis and clinicalprocedures. Saunders Company, 1991. 19-20, 221 p.RADOSTITS, O.M.; JOE MAYHEW, I.G.; HOUSTON, D.M. Veterinary clinical examinationand diagnosis. WB Saunders, 2000. 771 p.ROSEMBERGER, G. Exame clínico dos bovinos. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1993. 429 p.VOGEL, J. Pequena cirurgia nas fazendas. SAI, 1958. 145 p.82Seção A83Contenção Química de Cães e GatosIntroduçãoMuitas vezes, é necessário conter os pequenos animais por meio de fármacos, para que oexame clínico realizado pelo médico-veterinário seja satisfatório e seguro.Sob o efeito de tranquilizantes ou sedativos, animais agressivos, agitados ou estressadospodem ser mais bem examinados, possibilitando menores alterações paramétricas decorrentesdo estresse, evitando agressões ao profissional que os examina.Conter quimicamente um animal não deve significar, contudo, apenas imobilizá-lo, masdiminuir o estresse da manipulação, com conforto e segurança para o paciente e para omédico-veterinário.Assim, animais que demonstrem agressividade ou medo excessivo devem ser manipuladossomente após a contenção química. Frequentemente, é necessário que felinos, de maneira geral,e cães de raças violentas ou de comportamento nervoso sejam contidos farmacologicamente, afim de permitir a realização de exames de boa qualidade.Além dos fatores inerentes ao indivíduo (raça, temperamento, estado físico), não podem seresquecidos os estímulos externos que perturbam a tranquilidade do animal. Desse modo,mesmo aqueles animais dóceis e obedientes ao proprietário podem exigir tranquilizaçãoquando em contato com um ambiente novo, movimento de pessoas estranhas e percepção deodores e ruídos com os quais não estejam acostumados. Alguns exames clínicos podem, ainda,envolver dor, quando uma região lesada ou inflamada precisa ser manipulada, como aoexaminar-se traumatismos osteomusculares, feridas, enfermidades otológicas etc.Outros exames, apesar de não provocarem dor, podem envolver certo desconforto por partedo animal (p. ex., abordagem da cavidade oral, da região genital ou do aparelho oftálmico).Além disso, ressalta-se a necessidade de alguns posicionamentos específicos exigidos porexames diagnósticos, utilizando radiografias ou ultrassonografias, possíveis apenas com atranquilização ou mesmo com a anestesia geral do paciente (p. ex., necessidade de relaxamentomuscular potente para a realização de exame radiográfico para o diagnóstico de displasiacoxofemoral e imobilidadecompleta do paciente para a coleta de liquor cerebrospinal).Ao realizar o exame de um animal em que se utilizou tranquilizante, sedativo ou até mesmoanestésico geral, o médico veterinário deve conhecer os efeitos dos fármacos empregadospara que seja possível avaliar se os seus achados clínicos são decorrentes do uso destes ouda enfermidade a ser pesquisada. Alterações de temperatura corporal, frequência cardíaca,frequência respiratória e pressão arterial são algumas das consequências mais comuns apóso uso desses agentes.84Alguns fatores devem ser considerados para o uso da contenção química (Quadro 3.1).A espécie e a raça do paciente a ser examinado podem determinar o método mais adequadode contenção física, a necessidade e o tipo de fármaco a ser utilizado. As característicasfisiológicas, a diferente distribuição de receptores farmacológicos e as peculiaridadescomportamentais resultam em diferentes alterações paramétricas em cães, gatos e pequenosanimais exóticos. O efeito final também varia bastante entre as espécies, e a escolha correta dofármaco a ser utilizado depende do conhecimento prévio desses efeitos.As diferenças existentes entre raças, especialmente de cães, devem ser conhecidas econsideradas pelo médico-veterinário que irá realizar a contenção química. Enquanto raçasgrandes e agressivas exigem procedimentos que possibilitem uma abordagem segura, raçasmuito pequenas podem ser agitadas e de difícil manipulação.O estado físico do paciente pode limitar o uso de alguns fármacos que trariam risco apacientes desnutridos, hipovolêmicos ou desidratados, por exemplo. A existência de outrasenfermidades concomitantes, tais como as cardiopatias, os processos respiratórios, as hepato enefropatias, assim como as doenças neurológicas, também pode influenciar a escolha do agentea ser utilizado.Caso o exame resulte em dor física, o fármaco ou a associação escolhida deve produziranalgesia adequada.O jejum, por outro lado, é imprescindível para a segurança de determinados procedimentosnos quais o relaxamento da cárdia produzido pelo fármaco facilita o regurgitamento doconteúdo gástrico, podendo ocasionar obstrução das vias respiratórias por aspiração, levandoà pneumonia ou até mesmo à morte. Além disso, destaca-se a importância do jejum emposicionamentos nos quais o estômago repleto possa comprimir o diafragma e comprometer acapacidade respiratória do paciente.Dentre os fatores externos a serem considerados nas diferentes situações, é necessárioconhecer o local em que o animal será examinado e a necessidade de posicionamentosespecíficos e de imobilidade requeridos pelo exame a ser efetuado.Por fim, a via de aplicação possível na situação apresentada também influencia a definiçãoda técnica e dos medicamentos a serem empregados.85Figura 3.1 Locais anatômicos de aplicação de fármacos: por vias subcutânea (SC), intramuscular(IM) e intravenosa (IV).Quadro 3.1 Fatores a serem considerados para o uso de contenção quí ​mica.Intrínsecos ExtrínsecosEspécieRaçaEstado clínico geralDoenças concomitantesDor ou desconfortoJejumLocal do exame (no chão, sobre mesa)Tipo de exame (envolvendo dor ou desconforto)Posicionamento necessário para o exameNecessidade de imobilidade para o exameVia de administração possívelA seguir, serão apresentadas as diversas vias de aplicação possíveis e suasparticularidades, assim como os diferentes fármacos e associações indicados para cadasituação, com as suas implicações.Vias de aplicação mais utilizadas nacontenção químicaO tipo de medicamento a ser administrado, o temperamento, o porte e a condição física doanimal, as características do local em que se realizará o procedimento e o tipo de contençãofísica possível influenciam e determinam a via de aplicação selecionada. Na contençãoquímica de pequenos animais, utilizam-se, sobretudo, as vias tópica, oral e parenterais(subcutânea, intramuscular e intravenosa) (Figura 3.1).Via oralPara que um medicamento possa ser aplicado por esta via, é necessário que seja palatável.86Tranquilizantes e sedativos em apresentação líquida ou em comprimidos ou drágeas estãodisponíveis no mercado. No tipo líquido, podem ser utilizados em administração direta, naboca, ou por meio de seringas, puros ou misturados a uma pequena quantidade de água ou outrolíquido. Não se indica a adição ao recipiente de água do animal, pois não é possívelespecificar a quantidade ingerida. Os comprimidos ou drágeas podem ser colocadosdiretamente no fundo da cavidade oral ou inseridos em alimentos sólidos, tais como pedaçosde pão ou “bolinhos” de carne, impedindo que o animal perceba a existência do medicamento.A grande limitação desta via de aplicação é o longo tempo de latência, entre 1 e 2 h, comefeito bastante variável entre os pacientes.Por outro lado, a principal vantagem baseia-se na maneira não invasiva de tratar o animal,diminuindo, portanto, o estresse da contenção física prévia.Trata-se de uma excelente via de aplicação a ser empregada pelo proprietário,especialmente nos casos de animais agressivos ou de difícil transporte. O medicamento podeser administrado no próprio domicílio, algum tempo antes de transportar o animal aoconsultório. Desse modo, o paciente chega ao ambiente estranho já previamente tranquilizadoou sedado e, caso o efeito seja menor que o necessário, a suplementação por outras vias deaplicação torna-se mais fácil. Nessa situação, o médico-veterinário deve estar ciente de que osparâmetros já estarão alterados pelo efeito do fármaco, o que poderá mascarar o estado físicoreal do paciente ao exame físico.Via tópicaTrata-se da deposição do princípio ativo, no caso específico, um anestésico local, sobre apele ou mucosas, com o fim de absorção direta. Os produtos para este objetivo apresentam-seem gel, pomadas, sprays ou colírios (Figura 3.2).O efeito sobre as mucosas é bastante superior ao produzido pela aplicação sobre a pele, emque a absorção é menor ou até desprezível.É necessário lembrar-se de que esta via de aplicação deve ser utilizada somente em peles emucosas íntegras, sem ferimentos ou inflamações.Em grande parte das situações, pode haver a necessidade de aplicar um tranquilizante ousedativo para que o animal permita a realização do exame, pois o anestésico tópico produzunicamente a analgesia, sem alterar seu estado psicológico.Um procedimento muito comum é o emprego de colírios anestésicos para produzir aanalgesia da superfície da córnea, o que torna possível realizar alguns exames oftálmicos e atéretirar um corpo estranho, por exemplo.Os sprays ou pomadas podem ser úteis nos exames ginecológicos ou orais e facilitam aintubação traqueal.87Figura 3.2 Colírio anestésico instilado na córnea de um cão (via de aplicação tópica).Vias parenteraisNestas vias, é importante a antissepsia do local e do material a ser utilizado, pois apossibilidade de contaminação é considerável. O antisséptico mais indicado para isso é asolução de álcool iodado e, especialmente na via intravenosa, a tricotomia pode ser utilizadapara facilitar a localização do vaso sanguíneo e melhorar o efeito do antisséptico.O material utilizado para a injeção do fármaco deve ser descartável, a espessura e ocomprimento da agulha e a capacidade da seringa devem ser adequados ao local de aplicaçãoe ao volume do medicamento.O bisel da agulha deve ser posicionado de maneira a facilitar a perfuração e a escalanumérica da seringa, sempre voltada para o aplicador, a fim de possibilitar o controle dovolume e da velocidade de injeção.Ao se optar por esta via de aplicação, deve-se considerar o tipo de veículo utilizado noproduto, o pH e a osmolaridade da solução, o tempo de latência esperado e a viabilidade deaplicação.Há várias maneiras de aplicação parenteral e, dentre elas, as mais usadas na contençãoquímica são: (1) subcutânea; (2) intramuscular; e (3) intravenosa.Via subcutâneaEsta via é escolhida nos casos em que se deseja retardara absorção do fármaco ou quandoé possível a espera maior para o efeito ser alcançado, pois o período de latência é, em média,de 30 a 45 min; além disso, pode ser útil no caso de animais muito agressivos e de difícilcontenção.O local anatômico de escolha deve possibilitar o deslocamento da pele para a introduçãoda agulha no espaço subcutâneo, sendo as regiões dorsal ou lateral do tórax ou do abdome asmais indicadas (Figura 3.3).Grandes volumes podem ser aplicados por esta via, tomando-se o cuidado de dividir o88volume total em vários pontos do corpo do animal.Via intramuscularAssim como a via subcutânea, a intramuscular pode ser útil naqueles animais agressivos nosquais a abordagem mais segura é a aproximação pela porção posterior do corpo. Dessamaneira, o animal pode ser amordaçado e firmemente contido pela coleira pelo próprioproprietário, enquanto a aplicação é realizada no membro pélvico.O local de eleição para a aplicação intramuscular em cães e gatos é a massa muscular dascoxas (músculos semitendíneo e semimembranáceo) (Figura 3.4).Medicamentos muito viscosos ou de pH extremos podem produzir dor à aplicação,resultando em reação e movimentação do animal.As complicações decorrentes da aplicação intramuscular podem ser a formação deabscessos ou lesões do nervo ciático. Essas complicações estão frequentemente associadas aodescuido do aplicador com a antissepsia do local e consequente desenvolvimento de infecções,podendo ser quase completamente abolidas observando-se as técnicas de antissepsia correta.Nesta via de aplicação, o período de latência pode ser, em média, de 15 a 30 min, e aduração de efeito, em regra, é menor que na aplicação subcutânea e maior que na intravenosa.Figura 3.3 A. Aplicação de fármaco por via subcutânea em cão. B. Esquema das camadasanatômicas atravessadas nessa via de aplicação.Via intravenosa89Nesta via de aplicação, não há necessidade de absorção e o efeito inicia-se quaseimediatamente. A velocidade de aplicação deve ser criteriosa, a fim de evitar a ocorrência dealterações paramétricas bruscas. O período de latência é de, no máximo, 15 min, conforme ascaracterísticas do fármaco empregado.A principal vantagem desta via de aplicação é o início rápido de efeito, mas requerimobilidade física do paciente que possibilite a localização e a punção do vaso. Nesta via, asveias mais utilizadas são a radial ou a cefálica (Figura 3.5) e a safena.Nos casos de necessidade de aplicação de grandes volumes ou nos quais o acesso às veiascitadas seja difícil (aplicações repetidas, flebites, animais hipotensos ou em choque etc.), aveia jugular pode ser uma boa opção.No Quadro 3.2 são apresentadas algumas características próprias das diferentes vias deaplicação de fármacos.Principais fármacos utilizados em contençãoquímica de cães e gatosDentre o arsenal anestesiológico disponível, os tranquilizantes e sedativos, os agonistas a2 eos analgésicos opioides são os que mais se prestam, seja de maneira isolada ou em associação,à contenção química de pequenos animais. Em procedimentos que exijam relaxamentomuscular maior e abolição completa da sensibilidade dolorosa, ainda é possível utilizar osanestésicos dissociativos ou os gerais injetáveis.A seguir, serão abordados cada um dos grupos citados e suas indicações.90Figura 3.4 A. Aplicação de fármaco por via intramuscular em um cão. B. Esquema das camadasanatômicas atravessadas nessa via de aplicação.Tranquilizantes e sedativosEm Semiologia Veterinária, esses fármacos certamente são os de mais ampla utilização,pois possibilitam a diminuição do estresse desencadeado pela manipulação do animal. Atranquilização caracteriza-se pela diminuição da ansiedade, levando o animal a um estado derelaxamento, porém mantendo-o responsivo a estímulos ambientais. A sedação, além de todasas características do estado de tranquilização, pode resultar em sonolência e até em um estadode total hipnose, dependendo da dose utilizada.No primeiro grupo, é possível incluir os fenotiazínicos e as butiroferonas e, dentre ossedativos, destacam-se os benzodiazepínicos. Em pequenos animais, as butiroferonas sãoraramente utilizadas, tendo sua maior aplicação na espécie suína.FenotiazínicosOs fármacos desse grupo se caracterizam por produzirem boa tranquilização e relaxamentomuscular em cães e gatos, levando-os a um estado de diminuição da ansiedade, o que tornapossível sua melhor manipulação. Sua indicação se limita a acalmar pacientes muito ansiosos91ou agressivos ou prepará-los para a aplicação posterior de anestesia dissociativa ou geral.Figura 3.5 A. Aplicação por via intravenosa em cão. B. Esquema das camadas anatômicasatravessadas nessa via de aplicação.Os animais se apresentam mais calmos, com relaxamento de pescoço e cabeça, ptosepalpebral, protrusão da membrana da terceira pálpebra (Figura 3.6) e orelhas pendentes.Procuram se sentar ou deitar, respondendo, porém, a estímulos externos que podem provocarreação de alerta.Nas manipulações que venham a causar dor, os fenotiazínicos, por produzirem analgesiadesprezível, devem estar associados a outros fármacos com esse efeito. É necessário estaratento à contenção física desses animais, pois há manutenção da capacidade de reação aosestímulos externos. Além disso, devem ser evitados em pacientes com histórico de convulsão,por diminuírem o limiar convulsivo, podendo, portanto, desencadeá-la.Os fenotiazínicos agem na formação reticular e, por isso, produzem depressão generalizadado sistema nervoso central (SNC), com interferência no controle da atividade elétrica cortical,que altera a regulação do sono e da vigília, assim como no controle do sistema nervosoautônomo (por meio de ação sobre sistema límbico e hipotálamo) e neuroendócrino, dentreoutros.92Figura 3.6 Protrusão de terceira pálpebra, 15 min após a aplicação de 0,1 mg/kg de acepromazinaem cão.Esse mecanismo de ação deve ser de conhecimento do veterinário responsável pelaavaliação semiológica, pois explica algumas alterações clínicas após o uso de fenotiazínicos,que podem interferir em parâmetros vitais.Sob o efeito desses fármacos, observa-se diminuição da temperatura corporal, por sua açãosobre o centro termorregulador do hipotálamo. Além disso, como resultado da depressão doreflexo vasomotor de origem central, espera-se a diminuição dos valores da pressão arterial,de efeitos diretos sobre a musculatura dos vasos e sobre o coração e de bloqueio adrenérgicoperiférico.Dentre os fenotiazínicos, a acepromazina é a mais difundida na prática clínica de pequenosanimais, seguida da clorpromazina e da levomepromazina.A acepromazina pode ser utilizada por via oral, subcutânea, intramuscular ou intravenosa. Aapresentação por via oral, em gotas, é bastante prática e possibilita a utilização até porpessoas leigas e fora de ambiente hospitalar. Dessa maneira, em animais muito violentos ouinquietos, o proprietário pode ser orientado a utilizá-la previamente ao exame clínico. Emfelinos, seu uso é limitado por produzir intensa salivação. Os efeitos da administração oral daacepromazina iniciam-se em poucos minutos e a intensidade da sedação é relativamente boa, oque torna possível uma abordagem mais tranquila do animal.Quadro 3.2 Vias de aplicação de fármacos e suas características.Via de aplicação Perío​do de latência Duração do efeito Biodisponibilidade Necessidade deimobilização do animalOral Variá​vel, tendendo alongoMais longo Variá​vel* RelativaTópica (colírio, gel oupomadas anestésicas)Variá​vel, tendendo ain​ter ​me​diá​rioIntermediá​rio a longo Quase completa Completa, porémrápida93Subcutâ​nea Intermediá​rio Intermediá​rio a longo* Quase completa RelativaIntra​muscular Intermediá​rio Intermediá​rio a longo* Quase completa RelativaIntravenosa Curto Curto Completa Completa e longa*As características do produto podem influenciar a duração do efeito e a biodisponibilidade.Pela via parenteral, a acepromazinapode ser utilizada nos animais em que seja possível acontenção mecânica para a aplicação do fármaco e, nesses casos, deve ser a via de escolha,por proporcionar melhor previsão dos períodos de latência e de efeito, assim comotranquilização mais potente.As doses e as particularidades do uso dos diferentes fármacos na contenção química empequenos animais estão apresentadas no Quadro 3.3.BenzodiazepínicosOs benzodiazepínicos são fármacos com efeito sedativo, miorrelaxante e anticonvulsivante.No homem, o efeito é muito superior ao produzido em animais e, por esse motivo, além do fatode provocarem amnésia, são o sedativo de escolha naquela espécie. Em medicina veterinária,em especial nos pequenos animais, não deve ser indicado como sedativo único e seu uso selimita a aumentar o miorrelaxamento produzido pelos fenotiazínicos ou anestésicosdissociativos.A utilização de benzodiazepínicos como único agente visando à contenção farmacológica écontraindicada em pacientes hígidos, nos quais o efeito final pode ser paradoxal, produzindoexcitação. Nos animais debilitados e/ou toxêmicos, o efeito sedativo é mais evidente; nessescasos, podem ser o agente de escolha, especialmente quando o uso dos fenotiazínicos forcontraindicado.A principal indicação de seu uso é em associação aos fenotiazínicos, seja com a finalidadede reduzir sua dose ou aumentar o miorrelaxamento, o que pode ser desejado para algunsexames clínicos ou manipulações específicas (avaliação de fraturas e lesões em membros,posicionamento radiográfico etc.). Os benzodiazepínicos também são os fármacos de escolhana contenção química de animais com históricos de convulsão ou doenças neurológicas(situação em que os fenotiazínicos estão contraindicados) e na medicação pré-anestésica paraa realização de anestesia dissociativa. Nesse último caso, esses fármacos irão evitar ahipertonicidade muscular produzida por aquele tipo de anestesia.Quadro 3.3 Posologia dos principais fármacos utilizados na contenção quí ​mica de pequenos animais.Fármaco Cão Gato ObservaçõesFenotiazínicosAcepromazina 0,03 a 0,1 mg/kg (IM, IV ou 0,03 a 0,1 mg/kg1 Os fenotiazínicos promovem94SC), dose máxima de 3 mg11 a 3 mg/kg, VO11 a 3 mg/kg, VO1 tranquilização, semanalgesia, não possibilitandomanipulações muitoinvasivas. O animal respondea estímulos externosClorpromazina elevomepromazina1 a 2 mg/kg (IM, IV ou SC)1 1 a 2 mg/kg (IM, IV ou SC)2BenzodiazepínicosDiazepam 0,1 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,3 a1 mg/kg (IM ou SC)11 a 2 mg/kg (IV ou oral)20,1 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,3 a1,0 mg/kg (IM ou SC)1Para obtenção de contençãoquí​mica, utilize sempre emassociação a fenotiazínicos oucomo medicação pré-anestésica. O flumazenil (0,05mg/kg IV) é o antagonistafarmacológico específicoMidazolam 0,1 a 0,2 mg/kg (IM ou IV)1 0,1 a 0,2 mg/kg (IM ou IV)1Opioides agonistasMorfina 0,1 a 0,5 mg/kg2 0,1 mg/kg (SC ou IM)10,26 ml/kg, via epiduralUtilizados em associação aostranquilizantes e sedativosquando a manipulaçãoprovoca dorMeperidina 1 a 5 mg/kg (IM)1 5 a 10 mg/kg (SC ou IM)1Fentanila 0,01 a 0,05 mg/kg (IV ou IM)3 0,01 a 0,05 mg/kg (IV ou IM)3Agonista-antagonistaButorfanol 0,05 a 0,2 mg/kg (IV) e 0,2 a0,5 mg/kg (IM)30,1 a 0,4 mg/kg3Buprenorfina 0,005 a 0,02 mg/kg (IM)30,003 a 0,01 mg/kg (IV)20,006 a 0,01 mg/kg (IM ouIV)10,005 a 0,02 mg/kg (IM)30,006 a 0,01 mg/kg (IM ouIV)1Agonistas α2Xilazina 0,25 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,5 a1 mg/kg (IM)10,25 a 0,5 mg/kg (IV) ou 0,5 a1 mg/kg (IM)1Sedação acompanhada deanalgesia e miorrelaxamentoMedetomidina 0,01 a 0,04 mg/kg1 0,04 a 0,08 mg/kg1Dexmedetomidina 0,1 a 3 mg/kg (IV)4 SRAnestesia dissociativaCetamina 11 a 22 mg/kg (IM) e 5 a 10mg/kg (IV)38 a 15 mg/kg (IM) e2 a 8 mg/kg (IV)3Associe a benzodiazepínicos,fenotiazínicos ou agonistas α2Tiletamina 9,9 a 13,2 mg/kg (IM) 4 a 6,6mg/kg (IV)37,5 a 12,5 mg/kg (IM) e 5mg/kg (IV)395Anestésicos gerais intravenososTiopental sódico 12,5 mg/kg (com MPA) IV2 Administradosexclusivamente por via IV.Requerem jejum prévioPropofol 5 mg/kg, IV2IM = via intramuscular; IV = via intravenosa; MPA = medicação pré-anestésica; SC = subcutânea; SR = semreferência; VO = via oral. 1 Lumb e Jones, 1996. 2 Massone, 1999. 3 Fantoni e Cortopassi, 2002. 4 Dyck eShafer, 1993.Caracterizam-se pela sua ação em receptores benzodiazepínicos específicos, aumentando aliberação do ácido g-aminobutírico (GABA) que, por ser um neurotransmissor depressor doSNC, induz sonolência e sedação.Em nosso país, dentre os benzodiazepínicos de uso mais difundido, destacam-se o diazepame o midazolam.O diazepam, um dos mais antigos benzodiazepínicos de uso clínico, é o fármaco de escolhanos casos de pacientes epilépticos; pode ser utilizado por via subcutânea ou intramuscular, masa via de escolha é a intravenosa, por ser a menos dolorosa e apresentar efeito mais rápido(Quadro 3.3). Sua utilização por via oral não apresenta eficácia sedativa em animais, sendoempregada somente em felinos, com outra finalidade (estimulante de apetite).Em casos especiais, em que haja necessidade de rapidez de efeito e a via intravenosa for dedifícil acesso, é possível utilizar a via retal com bons resultados. A associação dessebenzodiazepínico a outros fármacos, na mesma seringa, pode produzir turvação ou precipitaçãoda mistura; assim, a aplicação deve ser em seringas separadas.As doses clínicas produzem depressões respiratória e cardíaca mínimas. Doses maiselevadas podem provocar leve depressão respiratória, hipotensão, aumento da frequênciacardíaca e diminuição do débito cardíaco.Os efeitos colaterais do diazepam podem ser corrigidos com o uso do flumazenil, umantagonista farmacológico específico, cuja disponibilidade aumenta a segurança de seu uso.O midazolam, utilizado com as mesmas indicações do diazepam, produz um período deação menor; é possível misturá-lo na mesma seringa com outros fármacos, tais comofenotiazínicos ou opioides, sem produzir turvação ou precipitação, o que pode ser umavantagem, possibilitando aplicação única. Produz estimulação do apetite em felinos, assimcomo o diazepam, e, por não ser irritante, pode ser utilizado tanto por via intravenosa quantointramuscular, com efeitos muito semelhantes, nas mesmas doses. No homem, o midazolampode ser utilizado como agente indutor, provocando intensa hipnose, o que não ocorre emanimais, tendo seu uso limitado à contenção química ou como medicação pré-anestésica.OpioidesSão analgésicos potentes que agem em receptores opioides específicos, podendo ser96classificados em agonistas, agonistas-antagonistas (de ação mista) e antagonistas, conforme suaatividade intrínseca quando se ligam aos receptores. Os agonistas e os de ação mista podemser amplamente utilizados em contenção química, normalmente associados a tranquilizantes ousedativos, pelo seu potente efeito analgésico, tornando possível a realização de exames físicosque provoquem dor.No uso da morfina, o protótipo dos opioides, evidencia-se êmese e, às vezes, defecação,por sua ação sobre o centro do vômito e por aumento do peristaltismo intestinal,respectivamente. A ação sobre os receptores opioides do tipo m resulta, além da analgesia, emdepressão respiratória, que é um dos mais temidos efeitos colaterais desses fármacos. Quandoocorre depressão respiratória ou apneia após o uso de opioides, pode-se lançar mão dosantagonistas, como a naloxona, sabendo-se, contudo, que o efeito analgésico também seráantagonizado.Tendo-se a morfina como padrão de grau de analgesia, busca-se o opioide mais potente,com menor grau de depressão respiratória. Alguns exemplos dos opioides disponíveis emnosso mercado encontram-se no Quadro 3.3. A indicação para cada situação baseia-se,principalmente, na farmacocinética, que difere muito entre os opioides, resultando em duraçãode efeito bastante variável. Dessa maneira, fármacos de excelente potência, mas de curtíssimotempo de ação, tais como alfentanila,sufentanila e remifentanila, têm sua indicação restrita aouso transoperatório, não sendo, portanto, aplicáveis à finalidade principal deste capítulo.Ótimos resultados têm sido obtidos a partir da associação de tranquilizantes, tais comofenotiazínicos com opioides como morfina, meperidina, fentanila, buprenorfina e butorfanol,resultando em boa imobilização do paciente, com potencialização da tranquilização e analgesiaadicional, o que possibilita, inclusive, manipulações desconfortáveis e dolorosas.Outra aplicação bastante útil da morfina é a realizada por via peridural, associada aanestésicos locais, em ortopedia, resultando em analgesia de até 24 h na espécie canina. Dessamaneira, além do exame físico de um membro pélvico fraturado, por exemplo, é possívelrealizar a avaliação radiográfica e a redução fechada da fratura, caso seja indicada. O longoperíodo de analgesia leva, ainda, a maior conforto do animal, prolongando-se por várias horasapós a intervenção do médico veterinário.Agonistas a2São fármacos que, clinicamente, induzem miorrelaxamento ou inibição de espasticidademuscular, sedação e analgesia. Sua ação baseia-se na ativação dos receptores a2 pré-sinápticosdo sistema nervoso simpático. O exemplo de medicamento desse grupo mais difundido emnosso meio é a xilazina, utilizada há décadas em medicina veterinária. Mais recentemente, adetomidina, a medetomidina e a dexmedetomidina foram colocadas à disposição, sendo asduas últimas as mais promissoras para o uso em pequenos animais.A xilazina em pequenos animais é utilizada em doses que variam de 0,25 a 1 mg/kg, tanto97por via intramuscular como intravenosa. Os efeitos aparecem dentro de 10 a 15 min após aaplicação intramuscular e após 5 min da aplicação por via intravenosa.Os animais apresentam intenso miorrelaxamento e procuram sozinhos o decúbito,desligando-se dos estímulos do ambiente, podendo parecer totalmente alheios e irresponsivosaos estímulos externos, dependendo da dose utilizada. O grau de analgesia é dose-dependente,possibilitando algumas manipulações dolorosas (lavagens otológicas, curativos etc.) e até arealização de pequenas intervenções pouco cruentas (desbridamento de feridas, pequenassuturas).A xilazina induz bradicardia e um breve período de 5 a 10 min de hipertensão, sendo aúltima resultante de sua ação inicial sobre os receptores adrenérgicos pós-sinápticos, causandovasoconstrição. Após esse efeito inicial, há diminuição do débito cardíaco e hipotensão,podendo levar a pressão arterial a valores de 25 a 33% menores que os basais. A bradicardiaé resultante, ainda, do aumento do tônus vagal, sendo indicado o uso prévio de sulfato deatropina, um anticolinérgico, visando diminuir o efeito do sistema parassimpático sobre afrequência cardíaca.Espera-se que a frequência respiratória diminua significativamente após a aplicação daxilazina; contudo, os valores de pH e gases sanguíneos devem permanecer inalterados, vistoque o volume-minuto é mantido pelo aumento do volume corrente.Em cães e gatos, é comum a ocorrência de êmese após a aplicação intramuscular ousubcutânea da xilazina, decorrente da ativação de receptores adrenérgicos centrais. Alémdisso, o refluxo gástrico também pode ocorrer nessas espécies pelo relaxamento do tônus doesfíncter gastresofágico. Devido a esse efeito, em cães nos quais o jejum prévio não foirealizado, pode-se utilizar a xilazina como agente de contenção química, com a expectativa deque o estômago seja esvaziado.Uma das associações mais comumente utilizadas em animais de companhia é a de xilazinacom cetamina, minimizando assim os efeitos depressores cardíacos pela açãosimpaticomimética da última. Soma-se a isso o efeito de miorrelaxamento produzido peloagonista adrenérgico, reduzindo a hipertonia muscular decorrente do efeito da cetamina. Nessaassociação, deve-se acrescentar, ainda, o sulfato de atropina, minimizando a produçãoexcessiva de secreções e a depressão cardíaca e, assim, tem-se a imobilidade do paciente,com intensa prostração e considerável grau de analgesia.A principal contraindicação do uso da xilazina é a existência de cardiopatias ou problemasrespiratórios graves que possam comprometer a oxigenação do animal. Não deve ser utilizadapara a contenção química de animais a serem submetidos a exames radiográficos do sistemagastrintestinal, pois diminuem o trânsito, podendo provocar atonia gástrica, aerofagia edistensão abdominal, especialmente em cães de grande porte, o que resultaria em interpretaçãoerrônea do exame.A medetomidina, um agonista a2 de efeito sedativo e analgésico em cães e gatos, mais98potente que a xilazina, ainda não é comercializada no Brasil, mas tem sido amplamenteutilizada em outros países, apresentando efeitos melhores e menores efeitos colaterais que axilazina.A dexmedetomidina foi recentemente introduzida no mercado nacional e, por terseletividade maior pelos receptores a2quando comparada à xilazina, pode exercer menoresefeitos cardiovasculares decorrentes da ativação de receptores a1. No cão, na dose de 10mg/kg por via intramuscular, reduz a frequência cardíaca e o débito cardíaco, sem alterar apressão arterial.Esse grupo de fármacos também dispõe de antagonistas que aumentam a segurança de seuuso, por possibilitarem a reversão dos efeitos colaterais indesejáveis. Dentre os antagonistasespecíficos, pode-se citar a iombina e o atipamezol, sendo este ainda indisponível no mercadonacional.Anestesia dissociativaTrata-se de uma modalidade anestésica em que há dissociação entre o tálamo e o sistemalímbico, resultando em anestesia do tipo “cataleptoide”, estando o paciente consciente, com osolhos abertos, porém completamente alheio ao meio ambiente que o cerca. É representada porcetamina e tiletamina, fármacos facilmente encontrados no mercado nacional e comercializadospor diversos laboratórios.É indicada principalmente na contenção química daqueles animais em que a totalimobilidade seja necessária, e em situações em que outros fármacos como os agonistas a2 ouos barbitúricos sejam contraindicados. São anestésicos bastante seguros, com doses letaismedianas (DL50) muito superiores às doses clínicas indicadas; contudo, são contraindicadosem pacientes epilépticos, por diminuírem o limiar convulsivo, ou hipertensos, por resultaremem aumento da pressão arterial. Além disso, devem ser evitados nos casos de examesoftálmicos, pois aumentam a pressão intraocular, impedindo a confiabilidade nos valoresobtidos na tonometria.O aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial após o uso de agentes dissociativosé devido, principalmente, à ação central, liberando catecolaminas e produzindo esses efeitossimpaticomiméticos. A tiletamina não causa depressão respiratória em doses clínicas, masdoses elevadas podem resultar em hipoventilação e apneia. A frequência respiratória pode atédiminuir nos primeiros minutos decorridos da aplicação desses fármacos, mas tende a retornarrapidamente a valores basais.Os anestésicos dissociativos costumam causar salivação e aumento das secreções dosistema respiratório, efeitos que são facilmente controlados pela utilização do sulfato deatropina. Cuidado especial deve ser tomado na espécie felina, na qual uma pequena quantidadede secreção pode causar obstrução das vias respiratórias. Desse modo, a intubação traqueal éindicada nos felinos, a fim de manter a permeabilidade das vias respiratórias.99Por causar aumento da tonicidade muscular, a anestesia dissociativa é sempre realizada coma associação de relaxantes musculares. A tiletamina é encontrada no mercado, já empreparação, associada ao zolazepam, um benzodiazepínico. Por outro lado, a cetamina,comercializada de maneira isolada, deve ser utilizada em associação a benzodiazepínicos ouagonistasa2.Anestesia geralEm alguns procedimentos semiológicos muito específicos, a anestesia geral pode serrequerida. Nessa modalidade, utiliza-se principalmente por via intravenosa, por possibilitarindução e duração rápidas, que favoreçam, em grande parte dos casos, a realização do examesem que seja necessária aparelhagem específica. Como exemplos característicos de examesdiagnósticos que dependem de anestesia geral, é possível citar os exames radiográficos decoluna vertebral (mielografias, epidurografias) e o procedimento para diagnosticar displasiacoxofemoral, assim como as coletas de liquor cerebrospinal.A anestesia geral injetável em pequenos animais pode ser obtida com a utilização debarbitúricos ou propofol, aplicados exclusivamente por via intravenosa.Dentre os barbitúricos, aqueles de ultracurta duração, como o tiopental, são os maisindicados, possibilitando rápida recuperação do animal, a qual poderá ser prolongada casosejam necessárias múltiplas aplicações. Para que isso não ocorra, tudo deve estar pronto paraa realização do exame, imediatamente após o animal perder os reflexos protetores. Nessescasos, o plano anestésico requerido é, na maioria das vezes, bastante superficial, exigindodoses menores que as habitualmente utilizadas na indução anestésica para procedimentoscirúrgicos mais longos. Os barbitúricos não devem ser utilizados em pacientes hepatopatas oucom enfermidades cardíacas não compensadas, pois podem ocorrer graves complicações. Opropofol, por outro lado, não apresenta essas limitações inerentes aos barbitúricos e pode sera melhor opção nessas situações.Em todos os casos de anestesia geral intravenosa, é indicada a medicação pré-anestésicacom fenotiazínicos ou outro fármaco (quando os fenotiazínicos forem contraindicados),visando à redução da dose de anestésico geral requerido. Ao realizar a anestesia geral, énecessário sempre observar o jejum alimentar, evitando que a regurgitação do conteúdogástrico possa resultar em falsa via, com risco de obstrução de vias respiratórias ou decomplicações pulmonares pós-anestésicas.Quadro 3.4 Indicações dos protocolos farmacológicos de acordo com as diversas variáveis clínicas e circunstanciais possíveis.Tipo de exame Temperamento e estado físico do animal Protocolo de contenção químicaSimples exame físicogeralAnimal amedrontado ou estressado, em bomestado geral, que permite contenção mecânicaTranquilização com fenotiazínico por qualquervia de aplicação100Animal agressivo, em bom estado geral, que nãopermite contenção mecânica seguraTranquilização com fenotiazínico administradopelo proprietário por via oral, ou por via IM ouSC, seguida de contenção mecânica ou agonistaα2 pela via IMAnimal agressivo que não permite contençãomecânica segura, debilitado, comcomprometimento do estado geralTranquilização com fenotiazínico, administradopelo proprietário por via oral, ou por vias IM ouSC, seguida de contenção mecânica. Utilizardoses baixas do tranquilizanteAnimal epiléptico ou com histórico de episódiosconvulsivosBenzodiazepínicosExames físicosacompanhados de dorou desconforto (p. ex.,oftálmicos, otológicosetc.)Bom estado geral Tranquilização com fenotiazínico associado aopioides ou agonistas α2 pela via IM, associado ounão a anestésico dissociativo ou anestesiadissociativa com benzodiazepínicos como MPAAnimais debilitados, cardiopatas, toxêmicos,idosos ou muito jovensTranquilização com fenotiazínico em doses baixas(metade da dose) associado a opioides ouanestesia dissociativa com benzodiazepínicocomo MPAAnimal epiléptico ou com histórico de episódiosconvulsivosAgonistas α2 ou benzodiazepínicos seguidos detiobarbitúricoMielografias,epidurografia, coletade liquor, radiografiapara diagnóstico dedisplasia coxofemoralAnimal em bom estado geral, sem histórico deconvulsãoTranquilização com fenotiazínico seguida deindução com tiobarbitúrico ou propofolAnimais cardiopatas, hepatopatas, idosos,debilitados ou toxêmicosTranquilização com fenotiazínico, seguida deindução com propofolAnimal com histórico de convulsão Benzodiazepínico, seguido de indução comtiobarbitúricoIM = intramuscular; MPA = medicação pré-anestésica; SC = subcutânea.A intubação traqueal é indicada nesses pacientes, aumentando a segurança da anestesia aomanter a permeabilidade das vias respiratórias e possibilitar a ventilação artificial diante decomplicações respiratórias.Considerações finaisQuando a contenção química for indicada, um bom exame pré-anestésico deve ser realizadono paciente, sempre que possível, com a finalidade de escolher o protocolo mais seguro edimensionar o risco do procedimento. Esse último deve ser sinceramente esclarecido aoproprietário, que, dessa maneira, poderá avaliar o custo-benefício e decidir pela realização ou101não do ato.A opção pela técnica farmacológica mais indicada deve levar em consideração, além doestado físico do paciente, o tipo e o tempo de exame a ser executado, assim como otemperamento do animal. No Quadro 3.4 está exposto um resumo de como essas opções podemser realizadas.Muitas vezes, o jejum não foi realizado por não se ter prevista a necessidade de contençãoquímica para realizar a avaliação clínica. Desse modo, pode-se optar pela utilização defármacos nos quais a repleção gástrica não seja um problema ou, simplesmente, avaliar aconveniência em se transferir o procedimento, para que o jejum seja observado.Todo o material de reanimação e de controle de situações de emergência deve ser previsto eestar facilmente disponível caso ocorram complicações. Esse simples cuidado pode salvar avida do paciente, proporcionando uma valiosa economia de tempo.Todas as alterações de variáveis fisiológicas provocadas pelos fármacos utilizados nacontenção farmacológica devem ser conhecidas pelo semiologista, para que não ocorra ainterpretação errônea do real estado clínico do animal e, por fim, recomenda-se monitorarcontinuamente o paciente preparado dessa maneira para o exame, evitando-se, assim, surpresasdesagradáveis.BibliografiaARONSON, E.; KRAUS, K.H.; SMITH. J. The effect of anesthesia on the radiographicappearance of coxofemoral joints. Veterinary Radiology, 32: 2-5, 1991.BELLI, C.B.; FANTONI, D.T. Drogas e associações anestésicas. Clínica Veterinária, 5: 28-30,1996.DYCK, J.B.; SHAFER, S.L. Dexmedetomidin pharmacokinetics and pharmacodynamics.Anaesthe. Pharm. Review, 1: 238-45, 1993.FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca,2002. 389 p.HALL, L.W.; TAYLOR, P.M. Anaesthesia of the cat. 1. ed. 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J.A.V.M.A., 231: 243-5, 1998.103http://www.rxlist.com/precedex-drug.htm.%20Acesso%20em%2029Seção BContenção Química de Equinos e RuminantesIntroduçãoMuitas vezes, durante a realização de um exame clínico em animais de grande porte, emespecial nos equinos, há necessidade de se empregarem métodos de contenção química que, emassociação aos meios de contenção física já descritos para cada espécie, facilitam a obtençãodo diagnóstico, além de possibilitarem o emprego de técnicas de exame auxiliares, tais comoultrassonografia, radiografia e coleta de material biológico para exames laboratoriais.Alguns procedimentos clínicos especiais (exames oftálmicos, do pavilhão auricular econduto auditivo externo, exames da cavidade oral, palpação retal, endoscopias dos sistemasrespiratório e digestório, lavados traqueais e exames das extremidades dos membrosanteriores e posteriores), muitas vezes, somente são possíveis com a administração prévia defármacos com efeitos depressores do sistema nervoso central (SNC), que produzem efeitostranquilizantes e ansiolíticos.A contenção farmacológica eficaz tornaria os pacientes mais calmos e tranquilos,indiferentes ao meio que os cerca, reduzindo suas reações de defesa a estímulos externos, taiscomo ruídos e toques. Além disso, favorece a manipulação dedeterminada região do corpo oumesmo a movimentação de um local para outro.O emprego de agentes tranquilizantes, sedativos e analgésicos tem como um dos objetivosprincipais reduzir a ansiedade e o estresse experimentados pelo paciente, muitas vezesprovocados pela simples aproximação de pessoas estranhas, até mesmo do próprio médico-veterinário, ou pelo ambiente de um hospital veterinário para onde foi transportado.Em alguns casos, a origem do estresse é a dor que, invariavelmente, ocorre em diversasafecções clínicas, determinando inquietação e agressividade por parte do paciente,dificultando sua manipulação e o exame clínico, além de aumentar o risco de acidentes a si eaos profissionais responsáveis pelo tratamento. Nesses casos, a utilização de agentesanalgésicos, associados ou não a tranquilizantes, reduz a dor e o desconforto, acalmando opaciente, e fornecendo, assim, condições seguras para a melhor condução do caso.A contenção química em grandes animais não é isenta de efeitos indesejáveis. Não existeum fármaco “ideal” que produza efeitos tranquilizantes ou analgésicos sem que também causealgum grau de depressão cardiorrespiratória, incoordenação motora, ataxia ou até mesmo, emalguns casos, decúbito. Por esse motivo, alguns agentes sedativos e analgésicos têm sido104empregados em associação, a fim de minimizar a ocorrência desses efeitos colaterais.O comportamento do animal é um fator de importância fundamental na seleção de agentes etécnicas de sedação, bem como nos efeitos clínicos observados após a sua administração.Alguns dos fatores que influenciam o comportamento individual do paciente, de acordo comcada espécie, serão discutidos mais adiante.O objetivo desta seção é descrever os principais fármacos empregados na contençãoquímica de equinos e ruminantes, bem como seus efeitos nos principais sistemas do organismo,e de como podem interferir na avaliação de parâmetros vitais durante um exame clínico derotina.Características comportamentais dasespéciesAlguns fatores relacionados com a espécie equina e com os ruminantes influenciamdiretamente o comportamento individual do paciente.Em geral, animais de comportamento mais dócil, tranquilo e menos agressivo apresentammelhores respostas à administração de agentes sedativos e tranquilizantes, em que se costumamobservar sinais característicos de depressão do SNC, mesmo quando são empregadas dosesbaixas desses fármacos. Em contrapartida, pacientes de temperamento instável, estressados emuito inquietos costumam ser menos responsivos à contenção química, necessitando, assim, doemprego de substâncias mais potentes e em doses elevadas.A seleção do fármaco mais adequado em cada caso depende do estado físico do paciente,do tipo de procedimento clínico a ser executado, da disponibilidade de auxiliares e derecursos materiais, das instalações do local do exame e, principalmente, da adequadaavaliação comportamental do paciente.Algumas considerações sobre os principais fatores que influenciam o comportamentoanimal são apresentadas a seguir.EspécieNa espécie equina, embora haja grande variação de peso e tamanho, os animais adultos sãode grande porte, o que dificulta, em diversas ocasiões, a conduta clínica, incluindoprocedimentos simples como a aproximação do profissional, o deslocamento do paciente até otronco, a aplicação de meios físicos de contenção e a venopunção para a administração demedicamentos.Os equinos apresentam um padrão de comportamento bastante variável, devido,principalmente, à raça e ao manejo a que foram submetidos desde o nascimento. Em geral, osanimais adultos estão muito sujeitos ao estresse, com sentidos de olfato, audição e visão105bastante desenvolvidos, reagindo de maneira rápida e brusca a estímulos externos.Quando se administra um tranquilizante ou sedativo, em doses clínicas, os cavaloscostumam se manter em posição quadrupedal, muito embora apresentem sinais de instabilidadecorporal, com o afastamento lateral dos membros anteriores, apoio alternado dos membrosposteriores sobre a região da “pinça” do casco e ataxia. Alguns animais ficam assustados aoperceberem esses efeitos, especialmente se forem conduzidos de um local a outro,imediatamente após a administração do fármaco.As mesmas considerações sobre porte e comportamento aplicam-se à espécie bovina, com oagravante de que determinadas raças apresentam temperamento bastante agressivo e defensivo,tornando arriscadas as manobras de contenção física.Ao contrário dos cavalos, os bovinos costumam adotar a posição de decúbito esternal oulateral alguns minutos após a administração da maioria dos fármacos depressores do SNC, oque muitas vezes pode ser uma vantagem em termos de contenção química. Por outro lado, issopode dificultar a realização de determinados procedimentos semiológicos.Os ovinos e caprinos apresentam comportamento extremamente dócil, o que, somado ao fatode serem espécies de menor porte, facilita sobremaneira a sua contenção física. De modosemelhante, os pequenos ruminantes também adotam o decúbito após a administração deagentes tranquilizantes e sedativos.RaçaUm dos fatores que mais influenciam o padrão de comportamento dos pacientes é a raça doanimal. Tanto em equinos quanto em bovinos, há grandes variações de temperamento,características de determinadas raças.Os cavalos Puro-Sangue Inglês, Árabe, Manga-Larga Paulista e Andaluz, em geral,apresentam comportamento agitado e assustam-se com facilidade, especialmente em ambientesdiferentes ao local de criação e na aproximação de pessoas estranhas. Por outro lado, as raçasQuarto-de-Milha, Bretão e Percheron apresentam temperamento mais dócil e menos vulnerávelao estresse.Entre as raças bovinas, a Nelore é a que apresenta o comportamento mais nervoso eagressivo, o que dificulta a contenção física e o exame clínico, sendo necessário, portanto,empregar métodos de contenção química.SexoEm ambas as espécies, os garanhões e touros geralmente apresentam temperamento maisagitado em comparação com as fêmeas. O manejo desses animais deve ser feito com muitacautela, pois sempre há o risco de acidentes. É aconselhável o auxílio do tratador ou de pessoaconhecida pelo paciente; deve-se sempre evitar a presença de outros machos ou fêmeas em106estro nas proximidades do local de exame, assim como a permanência de muitas pessoaspróximas ao paciente. Ruídos e movimentos bruscos próximos à cabeça do animal tambémdificultam o exame clínico, tornando os animais mais estressados e ansiosos.As fêmeas, por ocasião do parto e durante o início do período de lactação, costumammodificar o seu comportamento, tornando-se mais inquietas. As éguas, quando acompanhadasde suas crias, adotam atitude de proteção, e qualquer procedimentosemiológico, tanto nafêmea quanto no potro neonato, deve ser realizado com muita calma e cuidado.IdadeA facilidade de contenção física nos animais mais jovens, devido ao seu menor porte, podedispensar o emprego da contenção química ao realizar um exame clínico de rotina. No entanto,quando necessária, deve-se ter cautela na seleção dos fármacos e no cálculo de suas doses,pois animais neonatos e jovens são muito sensíveis aos efeitos de agentes depressores do SNC.Os principais sistemas do organismo ainda estão em fase de desenvolvimento e, com isso, osefeitos depressores desses agentes sobre os sistemas circulatório e respiratório são maisintensos e prolongados que nos animais adultos. Além disso, a biotransformação e aeliminação de fármacos são mais lentas, devido à imaturidade dos sistemas hepático e renal.Durante o procedimento de contenção física, venopunção e administração do medicamento,a presença da mãe junto ao potro neonato costuma reduzir o seu estresse e os acalma. Uma vezque os efeitos tranquilizantes tenham se manifestado, a fêmea pode ser retirada do local doexame. No entanto, algumas mães reagem de modo violento (por meio de coices e mordidas) àmanipulação e à contenção física de suas crias, sendo necessário, em algumas ocasiões,submetê-las à contenção química.ManejoO padrão de comportamento individual é bastante influenciado pelo método de manejo aque o paciente foi submetido desde o seu nascimento. Os bovinos de corte provenientes decriações extensivas, nas quais o contato com as pessoas é pouco frequente, apresentamtemperamento mais inquieto e agitado em comparação com os animais criados em regime deconfinamento.Os equinos submetidos a procedimentos inadequados de adestramento ou doma, comviolência e maus-tratos, podem apresentar sinais de alteração de comportamento, reagindo àmanipulação e ao exame de determinadas regiões de seu corpo, especialmente a cabeça. Issopode ocorrer mesmo em indivíduos de raças mais dóceis como Quarto-de-Milha.Estado clínicoPacientes com estado geral debilitado costumam apresentar-se apáticos e pouco107responsivos a estímulos externos, não sendo necessária, na maioria dos casos, a contençãoquímica para a realização de um exame físico. Contudo, nos procedimentos em que houver anecessidade da administração desses á-lo em doses baixas, pois esses pacientes são sensíveisaos seus efeitos depressores sobre o sistema cardiorrespiratório.Por outro lado, animais em excelente estado clínico, como os equinos atletas, podem semostrar mais resistentes à contenção química, sendo necessária a aplicação de fármacos maispotentes e em doses mais altas para a boa tranquilização.Local do exameEm condições ideais, o ambiente onde o exame clínico será realizado deve ser o maistranquilo e calmo possível, sem a ocorrência de ruídos ou a circulação de outros animais,pessoas e veículos. A disponibilidade de tronco de contenção facilita a contenção física epossibilita a administração de medicamentos com maior segurança.Um ambiente inadequado, com barulho e estímulos externos, é uma fonte de estresseadicional aos pacientes e prejudica a contenção química de qualidade. Assim, os efeitos datranquilização, algumas vezes, são pouco evidentes, ou mesmo não se manifestam em animaismuito estressados.Cálculo do peso corporalA determinação do peso corporal do paciente é um procedimento importante e deve sersempre realizada antes da administração de qualquer fármaco. Contudo, em muitas situações,isso não é possível, seja pela ausência de equipamentos adequados no local do exame, ou pelocomportamento agitado do paciente, impedindo a sua contenção física e o posicionamento nointerior de uma balança de grandes animais.As doses clínicas para cada medicamento foram estabelecidas com referência ao pesocorporal de cada espécie em quilogramas. Qualquer erro na estimativa do peso do pacientepode resultar em administração de sobredoses ou subdoses, podendo se tornar um problemagrave devido aos efeitos depressores sobre os sistemas que essas substâncias apresentam.Alguns recursos para a estimativa de peso em grandes animais têm sido empregados comrelativo êxito, em substituição às balanças comerciais, como o da fita de pesagem (Figura 3.7).Trata-se de uma fita graduada, que é passada sobre o perímetro torácico do animal, na alturada cernelha, sendo as marcações da sua escala estabelecidas em quilogramas. Alguns modelosde fita apresentam escalas específicas para as espécies equina, bovina e suína.O método da fita, embora prático e economicamente acessível, apresenta margem de erroque pode variar entre 5 e 10% do peso real do paciente. Não é considerado um métodoconfiável para a determinação do peso em potros, pôneis, bezerros, animais magros ou obesos,éguas gestantes, asininos e muares.108Outro método de estimativa de peso corporal, mas descrito apenas para a espécie equina,consiste na aplicação de fórmulas que utilizam como variáveis o comprimento do tronco e operímetro torácico (cernelha), mensurados com fita métrica comum (Figura 3.8). Assim, deacordo com Muir (1991), tem-se a seguinte fórmula: Peso (kg) = [perímetro torácico2 (cm) ×comprimentodo tronco (cm)]/8.717Figura 3.7 Emprego da fita de pesagem no perímetro torácico de equino.Figura 3.8 Locais de mensuração do comprimento do tronco e perímetro torácico em equinos paraaplicação de fórmula para cálculo do peso corporal.Jejum hídrico e alimentarA interrupção no fornecimento de alimentos e água nem sempre é possível antes dacontenção química para a realização de um exame clínico de rotina. Em situações nas quais109esse procedimento possa ser realizado, quando há tempo hábil entre o primeiro contato doveterinário com o proprietário e o momento do exame, os jejuns hídrico e alimentar sãoaltamente recomendáveis, especialmente antes de procedimentos em que se realiza o empregode fármacos depressores do SNC (p. ex., contenção química).Uma das finalidades do jejum é a melhoria da capacidade ventilatória do paciente, pois oesvaziamento gástrico reduz a pressão que o estômago exerce sobre o diafragma, aumentando aexpansão pulmonar e a capacidade funcional residual (CFR).Em pôneis submetidos a jejum sólido de 12 h, mantidos em posição quadrupedal, ocorreaumento de 16% na capacidade funcional residual pulmonar. A administração detranquilizantes como a acepromazina, por sua vez, deprime a função respiratória, causandodiminuição média na CFR em equinos de 13,4%.Nos ruminantes, a compressão do rúmen sobre o diafragma pode se tornar um problemagrave, pois esses animais costumam entrar em decúbito minutos após a administração desubstâncias depressoras do SNC. Em decúbito lateral, a compressão do diafragma reduz,significativamente, o volume corrente (Vt) e o volume-minuto (Vm), causando hipoxemia grave.Durante o decúbito, outra complicação que pode ocorrer nos ruminantes é a regurgitação doconteúdo gástrico, com a posterior aspiração desse material, podendo levar à obstrução totaldas vias respiratórias e ao óbito, ou ainda ao desenvolvimento de pneumonia aspirativa.O jejum sólido reduziria o volume do conteúdo rumenal, diminuindo os efeitos ventilatóriose a possibilidade da aspiração do conteúdo gástrico. No entanto, manter um paciente emdecúbito lateral por um período prolongado, mesmo que submetido ao jejum sólido, podecausar compressão pulmonar, pela produção contínua de gases no compartimento rumenaloriundos da fermentação bacteriana.O jejum sólido em equinos adultos deve ser entre 12 e 16 h e o hídrico, de 2 h, para queseja realizada a administração dos agentes tranquilizantes.Em bovinos, caprinos e ovinos, o protocolo de jejum recomendado é mais longo, devendose iniciar 72 h antes da realização do procedimento. No terceiro e segundo dias anteriores,deve-se fornecer apenas a metade da ração diária do paciente e, 24 h antes, jejum sólidocompleto. O jejum hídrico deve ser de 6 h.Vias de administraçãoAs vias maisempregadas para administração de fármacos na contenção química de grandesanimais são a intravenosa e a intramuscular.A administração de um fármaco, em bolo, pela via intravenosa, produz altas concentraçõessanguíneas da substância, em curto período, sendo possível observar o início dos seus efeitospoucos minutos após, pois o princípio ativo, administrado diretamente na corrente circulatória,chega rapidamente ao SNC.110Todos os agentes tranquilizantes e sedativos devem ser aplicados lentamente por essa via(aproximadamente 1 m/5 s), devido aos seus efeitos depressores cardiorrespiratórios, quepodem ser intensificados em administrações muito rápidas.A veia jugular externa é a mais utilizada, sendo de fácil localização (Figura 3.9). Noentanto, durante a venopunção em equinos adultos que apresentam pescoço longo e esguio, ouem potros e pôneis miniatura, deve-se ter alguns cuidados, pois há o risco de, acidentalmente,a artéria carótida interna ser puncionada e o fármaco ser administrado na circulação arterial,chegando, assim, a concentrações elevadas no SNC. Quando isso ocorre, o cavalo assume aposição de decúbito antes do término ou logo após a aplicação, e apresenta reações deexcitação e convulsões, podendo, em alguns casos, ocorrer o óbito, dependendo da natureza dofármaco e da dose administrada.A absorção dos fármacos pela via intramuscular é mais lenta que pela intravenosa. Esseperíodo depende do tipo de solução administrada, das propriedades físico-químicas dasubstância ativa e do fluxo sanguíneo no local de aplicação. Devido a isso, o início dos efeitossedativos pode ser variável, e sua intensidade pode apresentar-se menor quando comparada àvia intravenosa; no entanto, sua duração geralmente é mais longa, devido ao fato de a absorçãodo local de aplicação para a corrente sanguínea ser prolongada.Figura 3.9 Localização da veia jugular externa e artéria carótida interna em equino.Essa via é empregada para a administração de volumes pequenos de fármacos em diversosgrupos musculares. Os locais de aplicação mais empregados no equino são: (1) região dopescoço, compreendendo uma área triangular acima das vértebras cervicais, abaixo doligamento nucal e 20 cm, aproximadamente, à frente da borda cranial da escápula; e (2) nosmúsculos semitendíneo e semimembranoso na face caudal da coxa (Figura 3.10). Em bovinos epequenos ruminantes, o local de administração intramuscular mais empregado é a faceposterior da coxa, de maneira semelhante à descrita nos equinos.Todos os cuidados com assepsia e antissepsia devem ser tomados no momento da aplicaçãodo fármaco, pois a administração pela via intramuscular apresenta riscos de reações111inflamatórias locais, infecções e formação de abscessos.A via subcutânea é raramente empregada em equinos; a absorção por essa via apresentamuitas variações e, assim como a via intramuscular, depende diretamente do fluxo sanguíneono local de aplicação, que geralmente é pequeno no tecido subcutâneo, podendo ainda tornar-se mais reduzido em condições de temperatura ambiente baixa.Figura 3.10 Localização das áreas de administração intramuscular em equinos.Na espécie equina, a pequena elasticidade da pele e a possibilidade de inflamações após asadministrações subcutâneas também limitam o emprego dessa via para a contenção química.Principais fármacosTranquilizantesA acepromazina é um tranquilizante dos grupos das fenotiazinas, muito empregado naespécie equina como medicação pré-anestésica em procedimentos de anestesias intravenosa ouinalatória e na contenção química para realização de exames clínicos. Pode ser utilizada comoagente isolado ou associada a outros fármacos.Essa fenotiazina produz efeito tranquilizante de leve a moderado, no qual o pacienteapresenta desinteresse pelo ambiente, sonolência e apatia; contudo, o animal permaneceresponsivo a estímulos externos, especialmente se forem dolorosos, tornando-se alerta tambémcom relação a ruídos, toques e qualquer movimento brusco próximo à cabeça. A acepromazinanão apresenta efeito analgésico, não sendo indicada em procedimentos que produzam dor.O mecanismo de ação da acepromazina, assim como de outras fenotiazinas, consiste nobloqueio de neurotransmissores adrenérgicos, principalmente a dopamina, em receptoreslocalizados no tronco cerebral, sistema límbico e gânglio basal, causando efeito depressorcentral e redução na atividade motora.No sistema nervoso periférico, a acepromazina bloqueia os receptores a1 à ação dosneurotransmissores adrenérgicos, tais como dopamina, norepinefrina e epinefrina.Dentre os principais efeitos hemodinâmicos, a acepromazina produz hipotensão arterial112devido à depressão do hipotálamo, ao bloqueio periférico alfadrenérgico e a um efeitovasodilatador direto sobre o leito vascular periférico. A redução na pressão arterial é dose-dependente e pode produzir taquicardia reflexa, mais evidente em equinos que apresentemconcentrações elevadas de catecolaminas, como nas situações em que haja dor, medo eestresse.Além disso, os valores da frequência cardíaca podem apresentar pequena redução oumanter-se inalterados, assim como o débito cardíaco e a força de contração do miocárdio.A vasodilatação periférica e a hipotensão podem levar à hiperglicemia (pela liberação deepinefrina da porção medular das glândulas adrenais) e à hipotermia, causada pelo aumento daperda cutânea de calor. A redução na pressão arterial também produz ataxia e intensa sudorese.Os efeitos respiratórios da acepromazina incluem redução pouco significativa da frequênciarespiratória e aumento no volume corrente respiratório (Vt) mantendo, assim, o volume-minuto (Vm) estável e os valores hemogasométricos (pHa, PaO2 e PaCO2) dentro da faixa denormalidade.A acepromazina, assim como outras fenotiazinas, causa diminuição nos valores dehematócrito e de proteína plasmática total em equinos. Esse efeito é de grande importânciaclínica, pois, quando houver coleta de amostras de sangue após a administração defenotiazínicos, os resultados hematológicos poderão estar alterados.A redução do hematócrito é dose-dependente e seus efeitos podem durar até 12 h após aadministração de acepromazina. Esse efeito é resultado do armazenamento de hemácias nobaço e da entrada de líquido intersticial no compartimento vascular em resposta à hipotensão.Em equinos, as doses de acepromazina variam de 0,02 a 0,1 mg/kg, pelas vias intravenosaou intramuscular.Após a administração, o efeito tranquilizante máximo é obtido em até 10 min pela viaintravenosa e em 20 min pela via intramuscular.Um aspecto importante a ser considerado é que o grau de tranquilização obtido com aacepromazina depende muito do comportamento do paciente, do nível de estresse ao qual estásendo submetido e do ambiente em que ele se encontra no momento da administração. Ospacientes muito estressados, que apresentem dor ou que estejam em locais com muitamovimentação e ruídos, geralmente não apresentam tranquilização satisfatória com o empregoda acepromazina, mesmo para a realização de um simples exame clínico.Um procedimento que deve ser adotado após a administração do fármaco é o de deixar opaciente isolado, de preferência no interior de uma baia fechada, até que os efeitostranquilizantes da acepromazina se manifestem, aguardando de 10 a 20 min, para então serrealizada qualquer manipulação no animal.Em animais de temperamento mais calmo, a acepromazina produz sedação de leve amoderada, com o paciente mantendo a posição quadrupedal e demonstrando sinais desonolência, ptoses palpebral e labial, protrusão peniana, ataxia e discreto abaixamento da113cabeça (Figuras 3.11 a 3.13). Contudo, ao menor estímulo, o paciente pode despertar e tornar-se alerta novamente.Assim, a acepromazina é mais indicada para a contenção química de animais decomportamento dócil, para se proceder a exames clínicos simples e não invasivos, como os decavidade oral, conduto auditivo externo e radiográficos.Em bovinos e pequenos ruminantes, a acepromazina também é empregada, mas em umafrequência bem menor que em equinos. As doses de acepromazina para bovinos variam de 0,03a 0,05 mg/kg (IV) e, para ovinos e caprinos, de 0,05 a 0,1 mg/kg (IV).A acepromazina é comercializada no Brasil com os nomes comerciais de Acepran® eAcepromazina®, ambas na concentração de 1% (10 mg/mℓ).Figura 3.11 Abaixamento de cabeça em equino após a administração de acepromazina na dose de0,05 mg/kg (via intravenosa).Figura 3.12 Ptoses labial e palpebral em equino após a administração de acepromazina na dose de0,05 mg/kg (via intravenosa).114Figura 3.13 Protrusão peniana em equino após a administração de acepromazina na dose de 0,05mg/kg (via intravenosa).Agentes agonistas a2Atualmente, o cloridrato de xilazina e o cloridrato de romifidina são os principais fármacosdesse grupo empregados na contenção química de grandes animais em nosso país.A xilazina foi o primeiro agente agonista a2 a ser introduzido no Brasil, no ano de 1968,para a sedação em ruminantes, cães e gatos, tornando-se bastante popular entre osmédicosveterinários de grandes animais, por causar sedação profunda, analgesia e relaxamentomuscular.Os efeitos desse grupo de fármacos diferem consideravelmente, de acordo com a espécie,pois, em bovinos, a dose de xilazina necessária para se obter sedação é de cerca de 1/10 dadose utilizada em equinos.No SNC, os receptores adrenérgicos a2, localizados nas membranas pré e pós-sinápticasdas terminações neuronais, regulam a síntese e a liberação de norepinefrina e de outrosneurotransmissores adrenérgicos, participam ativamente da modulação do sistema simpático,das funções circulatória e endócrina do controle do comportamento, vigília, cognição enocicepção.Os efeitos sedativos e analgésicos dos agonistas a2 estão relacionados com a depressão doSNC, mediada pela estimulação dos receptores a2, inibindo, assim, a liberação deneurotransmissores adrenérgicos na fenda sináptica e a subsequente transmissão neuronal.115Em equinos, após alguns minutos da administração de xilazina, é possível observar ossinais clínicos de sedação, tais como o abaixamento da cabeça, ptoses palpebral e labial,abertura do quadrilátero de apoio (o afastamento dos membros anteriores é mais evidente),ataxia intensa, exposição peniana e apoio alternado dos membros posteriores na “pinça” docasco (Figura 3.14). No entanto, o animal permanece em posição quadrupedal, tentando evitara deambulação quando conduzido de um local a outro.Os ruminantes são muito sensíveis aos efeitos dos agonistas a2, pois doses de cloridrato dexilazina inferiores às administradas em equinos levam esses animais ao decúbito emaproximadamente 10 a 15 min, após a administração por via intramuscular, mantendo-osprostrados durante cerca de 60 min (Figura 3.15). A sialorreia é outro efeito observado emruminantes, assim como a rotação do globo ocular (Figura 3.16).Figura 3.14 Abaixamento da cabeça, afastamento dos membros torácicos e apoio “em pinça” deum membro pélvico após a administração de xilazina 0,5 mg/kg (via intravenosa) em equino.Figura 3.15 Bovino em decúbito esternal após a administração de xilazina, 0,25 mg/kg (viaintramuscular).116Figura 3.16 Rotação de globo ocular em bovino após a administração de xilazina, 0,25 mg/kg (viaintramuscular).Os efeitos circulatórios da xilazina administrada pela via intravenosa incluem bradicardia ehipertensão de curta duração (1 a 2 min), seguida de hipotensão por um período mais longo(aproximadamente 60 min), acompanhada de redução no débito cardíaco. A hipertensão inicialé produzida por um efeito vasoconstritor periférico, devido à estimulação simultânea dereceptores a1 localizados no leito vascular, que, logo em seguida, é revertido pela redução dotônus simpático, modulado pela ação agonista a2 central, que passa a predominar sobre osefeitos periféricos iniciais e causa hipotensão subsequente. Esses efeitos já foram descritos emtodas as espécies domésticas.Quando administrada pela via intramuscular, a elevação da resistência vascular periférica eo efeito hipertensivo inicial não são tão intensos e, algumas vezes, não é possível observá-los,pois o pico inicial da concentração plasmática do agente é mais baixo, em virtude da absorçãomais lenta por essa via.A bradicardia é causada pelo aumento da atividade vagal eferente, secundária à redução dotônus simpático e, em geral, é acompanhada de arritmias cardíacas. Os padrões de arritmiasmais comuns são: bloqueio sinoatrial, bloqueio atrioventricular de 1o e 2o graus e arritmiasinusal. Ocasionalmente, o bloqueio atrioventricular de 3o grau também pode ser observado emequinos.Os agonistas a2 causam depressão respiratória dose-dependente, com redução da frequênciarespiratória, do volume corrente (Vt) e hipoxemia, com diminuição nos valores da PaO2. APaCO2 apresenta elevação transitória, com seus valores logo retornando à faixa denormalidade nos equinos em posição quadrupedal.A xilazina reduz a motilidade propulsiva do sistema gastrintestinal de equinos(principalmente no jejuno, no ceco, na flexura pélvica e no cólon ventral direito) e osmovimentos do rúmen de bovinos e pequenos ruminantes. Esse efeito é de importânciaparticular em bovinos, pois, após a administração, eles adotam a posição de decúbito, queimpede a eructação normal. Isso, associado à redução da motilidade do rúmen que aumenta otempo de esvaziamento gástrico, predispõe o paciente ao acúmulo de gases no interior dorúmen, oriundos da fermentação bacteriana. A consequente distensão do rúmen (timpanismo)117causa compressão grave sobre o diafragma e os pulmões, comprometendo a ventilaçãopulmonar e as trocas gasosas, o que, muitas vezes, leva o paciente a óbito.O jejum sólido preconizado para ruminantes reduz a intensidade do timpanismo; no entanto,na maioria dos casos, não há tempo hábil para instituí-lo. O veterinário deve, portanto,minimizar o período em que o paciente será mantido em decúbito lateral, posicionando-o,assim que possível, em decúbito esternal.Devido ao seu efeito analgésico, a xilazina é utilizada para alívio da dor visceral emequinos portadores de síndrome cólica. Nesses casos, o animal não costuma permitir arealização do exame clínico, apresentando sinais evidentes de ansiedade, dor e desconforto.Assim, a administração desse fármaco pode minimizar esses sintomas durante pouco tempo.Contudo, em casos graves de cólica, nos quais o paciente apresente hipotensão grave, oemprego da xilazina deve ser avaliado com muita atenção, devido aos efeitos depressoressobre o sistema circulatório.Os agonistas a2 induzem hiperglicemia em equinos adultos. Esse efeito é causado pelaestimulação de receptores a2localizados nas células b do pâncreas, que inibem a produção deinsulina. A elevação das concentrações plasmáticas de glicose pode persistir em algunsanimais por mais 3 h. A hiperglicemia provoca diurese osmótica e a poliúria é frequentementeobservada entre 30 e 60 min após a administração de xilazina.As doses de xilazina em equinos variam de 0,5 a 1 mg/kg, pelas vias intravenosa ouintramuscular.Em bovinos e pequenos ruminantes, a xilazina é bastante empregada. As suas doses variamde 0,1 a 0,25 mg/kg (IM) e, para ovinos e caprinos, de 0,1 a 0,3 mg/kg (IM).A xilazina é comercializada no Brasil com os nomes de Rompun®, Coopazine®, Virbaxil®,na concentração de 2%(20 mg/m), e Sedomin®, na concentração de 10% (100 mg/m),sendo a última mais indicada para equinos.O cloridrato de romifidina, outro agente agonista a2 utilizado na sedação de grandesanimais, principalmente em equinos, foi introduzido no Brasil no início da década de 1990.Os efeitos da romifidina são semelhantes aos da xilazina; no entanto, esse fármaco produzataxia menos acentuada e seus efeitos analgésicos têm sido questionados por alguns autores.As doses de romifidina em equinos variam de 40 a 120 mg/kg, pelas vias intravenosa ouintramuscular;os procedimentos doexame físico dos principais animais silvestres atendidos nas clínicas, preenchendo uma lacunahá muito tempo aberta na literatura nacional. Procurou-se, também, respeitar a abordagem dadapelo autor para cada sistema, sem preocupações com padronizações excessivas e esteticamentecorretas. Cada autor teve a liberdade de escrever o que lhe é mais particular, ímpar, quando daabordagem do sistema do seu conhecimento. Agradeço de coração aos colaboradores por todo14o esforço e dedicação que tiveram ao escreverem cada capítulo. Sei que vão existir muitasfalhas nesta primeira edição e, desde já, peço que me desculpem, sem, no entanto, deixar deassumir a culpa por cada uma delas. Mas acredito que este livro é apenas uma pequenasemente lançada a esmo, ao vento. Se cair em solo fértil, com certeza brotará e crescerá,servindo de estímulo para que se busque, muito além de onde os olhos alcançam, um mundorepleto de novas descobertas.Francisco Leydson F. Feitosa15Prefácio à segunda ediçãoÉ com surpresa e alegria que publicamos a segunda edição do livro Semiologia Veterinária| A Arte do Diagnóstico. Não esperávamos que o livro fosse tão bem recebido por quase todosos cursos de Medicina Veterinária do país. Não temos palavras para agradecer a todos aquelesque, mesmo com dificuldades, adquiriram o livro e/ou o indicaram para alunos e colegas. Aresponsabilidade, porém, não é menor agora, e não nos sentimos nem um pouco confortáveispara remexer em algo tão trabalhoso a todos aqueles que participaram da publicação inicial.Contudo, sempre há algo a melhorar, a acrescentar, a aprender. Temos a certeza de que estelivro ainda está muito longe da perfeição. E nem temos tal pretensão. Mas acreditamos que,com o passar do tempo, como uma criança que embalamos no colo, este material adquirirá amaturidade e a consistência que desejamos. Será uma evolução natural. Devemos, no entanto,ter paciência para que a progressão ocorra sem atropelos, sem distorções e anomalias.Para esta segunda edição, não fizemos grandes modificações. Procuramos apenas seguir assugestões dos colegas que nos enviaram e-mails e/ou que conversaram sobre as possíveisadequações, mantendo inalterados os capítulos que não foram alvo de críticas e/oumanifestações. Desse modo, o capítulo relacionado com o sistema respiratório foi mais bemdetalhado, considerando-se as particularidades das diferentes espécies domésticas.Mantivemos, também, a estrutura do livro, por sua facilidade de leitura e compreensão.Esperamos de todo coração que este trabalho contribua para uma melhor formação de alunos ecolegas.Agradecemos, mais uma vez, a todos os colaboradores que ajudaram, e muito, para que essedoce sonho continue a existir!Francisco Leydson F. Feitosa16Capítulo 1Capítulo 2Capítulo 3Seção ASeção BCapítulo 4Capítulo 5Seção ASeção BCapítulo 6Seção ASeção BSeção CSeção DCapítulo 7Seção ASeção BCapítulo 8Seção ASeção BCapítulo 9Seção ASeção BSeção CSeção DCapítulo 10SumárioIntrodução à SemiologiaContenção Física dos Animais DomésticosContenção QuímicaContenção Química de Cães e GatosContenção Química de Equinos e RuminantesExame Físico Geral ou de RotinaSemiologia de Animais Recém-nascidosSemiologia de Recém-nascidos Ruminantes e EquídeosSemiologia de Recém-nascidos de Companhia | Cães e GatosSistema DigestórioConsiderações PreliminaresSemiologia do Sistema Digestório de RuminantesSemiologia do Sistema Digestório de EquinosSemiologia do Sistema Digestório de Cães e GatosSistema CirculatórioSemiologia do Sistema Circulatório de Equinos e RuminantesSemiologia do Sistema Circulatório de Cães e GatosSemiologia do Sistema RespiratórioSemiologia do Sistema Respiratório de Grandes AnimaisSemiologia do Sistema Respiratório de Pequenos AnimaisSistema ReprodutorSemiologia do Sistema Reprodutor FemininoSemiologia da Glândula Mamária de Éguas, Cadelas e GatasSemiologia da Glândula Mamária de RuminantesSemiologia do Sistema Reprodutor MasculinoSemiologia do Sistema Urinário17Capítulo 11Seção ASeção BSeção CCapítulo 12Seção ASeção BSeção CCapítulo 13Capítulo 14Capítulo 15Capítulo 16Índice AlfabéticoSistema NervosoSemiologia do Sistema Nervoso de Pequenos AnimaisSemiologia do Sistema Nervoso de Grandes AnimaisExames ComplementaresSistema LocomotorSemiologia do Sistema Locomotor de BovinosSemiologia do Sistema Locomotor de EquinosSemiologia do Sistema Locomotor em Cães e GatosSemiologia da PeleSemiologia do Sistema AuditivoSemiologia do Sistema Visual dos Animais DomésticosSemiologia de Animais Selvagens18Introdução19■■■A constante correlação entre as informações obtidas por anamnese e exame físicometiculoso conduz, invariavelmente, à elaboração de hipóteses diagnósticas, tornando o dia adia da prática médica um dos exercícios mentais mais estimulantes. Desse modo, a rotinaclínica diária é essencialmente uma atividade que depende da habilidade e do raciocínio,sendo, cada diagnóstico, um desafio, um problema a ser solucionado. A semiologia é a parte damedicina que estuda os métodos de exame clínico, pesquisa os sintomas e os interpreta,reunindo, assim, os elementos necessários para construir o diagnóstico e presumir a evoluçãoda enfermidade. A palavra semiologia provém do grego, sēmeîon (sintomas/sinais) e logía(ciência/estudo).Subdivisão da semiologiaA semiologia pode, ainda, ser subdividida da seguinte maneira: Semiotécnica: é autilização, por parte do examinador, de todos os recursos disponíveis para avaliar o pacienteenfermo, desde a simples observação do animal até a realização de exames modernos ecomplexos. É a arte de examinar o paciente (Figura 1.1) Clínica propedêutica: reúne einterpreta o grupo de dados obtidos pelo exame do paciente; é um elemento fundamental deraciocínio e análise, na clínica médica, para o estabelecimento do diagnóstico Semiogênese:busca explicar os mecanismos pelos quais os sintomas aparecem e se desenvolvem.Conceitos geraisSintoma ou sinal?Sintoma também é uma palavra de origem grega (súmptōma = coincidência), sendo a suaconceituação divergente entre diferentes escolas e, consequentemente, entre diferentesprofissionais.Para a medicina humana, sintoma é uma sensação subjetiva anormal, sentida pelo paciente enão visualizada pelo examinador (dor, náuseas, dormência); difere do sinal, um dado objetivo,que pode ser notado pelo examinador por inspeção, palpação, percussão, auscultação ouevidenciado por meio de exames complementares (tosse, edema, cianose, sangue oculto). Namedicina veterinária, o sintoma, por definição, é todo fenômeno anormal, orgânico oufuncional, pelo qual as doenças se revelam no animal (tosse, claudicação, dispneia). O sinal,por sua vez, não se limita à observação da manifestação anormal apresentada pelo animal;envolve, principalmente, a avaliação e a conclusão que o clínico retira do(s) sintoma(s)observado(s) e/ou a partir de métodos físicos de exame. É um elemento de raciocínio. Aopalpar uma determinada região com aumento de volume, na qual se forma uma depressão quese mantém mesmo quando a pressão é retirada, por exemplo, o diagnóstico sugestivo é deedema, resultando no que se chama de sinal de Godet positivo. O sintoma, nesse caso, é o20■■■aumento de volume, que, por si só, não o caracteriza, pois pode ser tanto um abscesso quantoum hematoma. O examinador, por meio de um método físico de exame (palpação), obtém umaresposta e utiliza o raciocínio para concluir que se trata de um edema.Figura 1.1 Divisão da semiotécnica.Atualmente, na medicina veterinária, existem diferentes correntes de pensamento, de acordocom a escola que se segue (americana ou europeia): Sintoma é um indício de doença; sinal é oraciocínio feito após a observação de um determinado sintoma Sintoma é um fenômenoanormal revelado pelo animal; o sinal é constituído de todas as informações obtidasseu nome comercial é Sedivet®.BenzodiazepínicosOs agentes deste grupo, empregados em grandes animais, incluem o diazepam e omidazolam. Na contenção química de equinos e bovinos, o uso isolado desses fármacos élimitado a potros e bezerros, pois, em animais adultos, seus efeitos ansiolíticos não sãoevidentes. Nos animais adultos, a ação relaxante muscular de origem central dos118benzodiazepínicos produz ataxia intensa, o que muitas vezes pode se tornar um problemadurante a realização de um exame ou outro procedimento clínico.O diazepam e o midazolam são muito eficientes como sedativos em potros jovens, queadotam a posição de decúbito logo após a administração intravenosa de ambos os agentes.Dentre as vantagens dos agentes deste grupo, está a de produzir poucos efeitos depressoressobre os sistemas circulatório e respiratório.Os benzodiazepínicos também podem ser associados à acepromazina, produzindotranquilização mais intensa, acompanhada de ataxia, que pode, em alguns animais, induzir odecúbito.Em potros e bezerros, as doses de diazepam e midazolam variam de 0,1 a 0,2 mg/kg, porvia intravenosa.Algumas apresentações do diazepam são: Valium®, Compaz® e Diazepam®, dentre outras.O midazolam é encontrado com os nomes comerciais de Dormonid® e Dormire®.OpioidesDentre os diversos fármacos deste grupo, o butorfanol é o agente mais empregado nacontenção química de equinos por suas propriedades analgésicas. Seu emprego isolado maisfrequente destina-se aos casos de alívio da dor visceral na síndrome cólica em equinos,facilitando o exame clínico, ou na analgesia pós-operatória.Além disso, o butorfanol é empregado em associação a acepromazina ou agonistas a2 paraproduzir uma sedação intensa, acompanhada de analgesia. Esse tipo de contenção química éindicado em equinos com comportamento agitado ou até agressivo, ou na realização deprocedimentos diagnósticos invasivos.As doses de butorfanol em equinos variam de 0,05 a 0,1 mg/kg, pelas vias intravenosa ouintramuscular. Seu nome comercial é Torbugesic®. No Quadro 3.5, são apresentadas algumasopções de associações de fármacos que podem ser empregadas em equinos.Quadro 3.5 Associações de fármacos, doses e vias indicadas para a contenção quí ​mica de equinos.Associação Doses/vias de administraçãoAcepromazina + midazolam 0,02 a 0,05 mg/kg + 0,1 a 0,2 mg/kg/IVAcepromazina + xilazina 0,02 a 0,05 mg/kg + 0,5 a 0,6 mg/kg/IV ou IMAcepromazina + romifidina 0,03 mg/kg + 50 mg/kg/IV ou IMAcepromazina + butorfanol 0,02 a 0,05 mg/kg + 0,02 a 0,04 mg/kg/IV ou IMXilazina + butorfanol 0,5 a 1 mg/kg + 0,02 mg/kg/IV ou IMRomifidina + butorfanol 50 mg/kg + 0,02 a 0,03 mg/kg/IV ou IM119IM = via intramuscular; IV = via intravenosa.BibliografiaBEDNARSKI, R.M. Chemical restraint of the standing horse. In: ROBINSON, N.E. Currenttherapy in equine medicine. 3. ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 1992. 847 p.BOHART, G. Anesthesia of the horses in the field. In: ROBINSON, N.E. Current therapy inequine medicine. 4. ed. Philadelphia: W.B. 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Principles and practiceof veterinary anesthesia. Cap. 13/2. Baltimore: Williams & Wilkins, 1987. 669 p.121IntroduçãoA realização de um exame físico geral ou de rotina é necessária por inúmeros motivos,122■■■■■■■■■■■■dentre os quais é possível destacar: Em virtude da impossibilidade de se estabelecercomunicação verbal entre homem e animal, a tarefa de identificar a estrutura ou o órgão docorpo do animal que está comprometido depende do conhecimento do entrevistado e dahabilidade e experiência do examinador em obtê-la, o que torna fundamental, nessa fase, oexame físico geral nos casos em que a história é vaga e inespecífica Muitas vezes, a queixaprincipal não apresenta relação direta com o sistema primariamente comprometido O examefísico geral torna possível avaliar, rotineiramente, o estado atual de saúde do paciente(melhora/piora/estagnação) Por possibilitar a identificação do comprometimento de outrossistemas ou estruturas do corpo (neoplasia mamária= metástase pulmonar) Em decorrência dadinâmica que os sintomas apresentam em diferentes enfermidades e, às vezes, em uma mesmadoença em determinado período, as características e a intensidade dos sinais clínicosapresentam variação muito ampla, ainda que na mesma enfermidade, de modo que amultiplicidade dos sintomas clínicos dificulta a obtenção do diagnóstico.O exame físico geral constitui, assim, um passo decisivo para a realização do exame físicoespecífico, visto que, sendo generalista, em um só momento e de uma só vez, apresenta aoclínico uma visão de conjunto (da maioria dos sistemas orgânicos e do corpo como um todo).Eventualmente, as circunstâncias obrigam o clínico a modificar o cronograma do exame,fazendo com que o mesmo só venha a ser realizado em sua totalidade depois de afastadasalgumas condições que possam colocar em risco a vida do animal. Como exemplo, há os casosde timpanismo espumoso em ruminantes, cólicas obstrutivas em equinos, atropelamentos comhemorragias intensas em pequenos animais ou intoxicações, quando são necessárias medidaseficazes e imediatas para alterar o quadro crítico do paciente. Outras vezes, torna-senecessário um exame físico mais rápido ou mais superficial (animais rebeldes ou agressivos,animais selvagens, condições ambientais impróprias ou exame de um grande número deanimais).Uma mesma sequência de exame, quando adotada repetidas vezes, torna-se um hábito, sendoo melhor modo de reduzir a possibilidade de erros diagnósticos, junto à realização de umexame físico geral.A observação do animal pode indicar inúmeras informações úteis para o diagnóstico, taiscomo: Nível de consciência: alerta (normal), diminuído (deprimido, apático), aumentado(excitado) Postura e locomoção: normal ou anormal (sugerindo dor localizada, fratura,luxação ou doenças neurológicas); observe o animal em repouso e, em seguida, em movimentoCondição física ou corporal: obeso, gordo, normal, magro, caquético Pelame: pelos limpos,brilhantes ou eriçados, existência de ectoparasitas (carrapatos, piolhos, pulgas etc.) Formatoabdominal: normal, anormal (timpanismo, ascite etc.) Características respiratórias: eupneiaou dispneia (postura ortopneica), tipo respiratório, secreção nasal etc.Outros: apetite, sede, defecação, vômito, secreções (vaginal, nasal, ocular) micção etc.123Nível de consciênciaO comportamento ou o nível de consciência do animal deve ser avaliado pela inspeção,considerando, ainda, a sua reação a estímulos, tais como palmas ou estalos de dedos. Énecessário considerar a excitabilidade do animal como “diminuída” (apático), “ausente”(coma), “normal” e “aumentada” (excitado). Há, contudo, animais sadios que reagemprontamente aos estímulos, enquanto outros o fazem lentamente; assim, em algumas ocasiões,esse parâmetro passa a ser subjetivo. Cabe, por fim, lembrar que o temperamento típico decada espécie deve ser considerado. Vacas de leite, por exemplo, são dóceis e fáceis demanusear; por outro lado, bovinos de origem indiana, por serem mantidos exclusivamente nopasto, costumam ser mais inquietos, mais ágeis e hostis.PosturaTrata-se do posicionamento que o animal adota quando em posição quadrupedal, emdecúbito e durante a locomoção. É necessário avaliar se o animal assume algum padrão depostura pouco usual, indicativo, muitas vezes, de anormalidades. Para isso, é indispensável oconhecimento do comportamento da espécie envolvida; o cavalo, por exemplo, passa a maiorparte do dia em posição quadrupedal e, quando deita, costuma posicionar-se em decúbitolateral. O bovino permanece muito mais tempo em decúbito que o cavalo, mas emposicionamento esternal ou lateral incompleto. Em geral, permanece em decúbito esternal,mantendo a cabeça levantada e a expressão alerta, durante a ruminação. O cão adota odecúbito para descansar ou dormir e o faz em diferentes posições, inclusive em decúbitodorsal. Não é infrequente o cão flexionar os membros anteriores e posteriores, apoiando oesterno sobre o piso (um dos modos de perder calor).A maioria dos animais pecuários saudáveis, quando abordada em decúbito, ergue-se. Aoser conduzido para o local de exame, o animal manifesta resposta a estímulos externos, poruma simples alteração nos seus movimentos e/ou por emissão de ruídos. Na maior parte dasvezes, as atitudes anormais do corpo ocorrem como indicação de enfermidade (Figura 4.1). Osanimais, quando doentes, ficam com a cabeça baixa, afastam-se do rebanho ou se levantam comdificuldade (neste caso, os grandes animais) e adotam posições características como, porexemplo, postura ortopneica, que acompanha principalmente as enfermidades do sistemarespiratório, caracterizada por distensão do pescoço, protrusão da língua e abdução dosmembros anteriores; curvatura da coluna vertebral (cifose) em casos de processos dolorososem cavidade abdominal etc. Em geral, os pequenos animais escondem-se, ficam indiferentes ouapáticos, gemem e, às vezes, irritam-se com facilidade. Nenhum animal adotará uma posturaanormal, seja em posição quadrupedal, em decúbito ou em locomoção, sem que haja algumfator determinante. Na maioria dos casos, as posturas anormais sugerem algia localizada e/oucomprometimento do sistema nervoso.124■■■■■Figura 4.1 Cão com provável disjunção iliossacral.Algumas atitudes são conhecidas e descritas amplamente na literatura por nomes que seassemelham à postura adotada pelo animal. Alguns exemplos são: Postura de cachorrosentado: observada, por exemplo, nos casos de paralisia espástica dos membros posterioresPostura de foca: comumente vista nas paralisias flácidas dos membros posteriores Posturade cavalete: observa-se rigidez e abdução dos quatro membros, sendo vista, maisfrequentemente, nos casos de tétano.Estado nutricionalAo examinar o estado nutricional do animal, é necessário considerar: (1) a espécie; (2) araça; e (3) a utilidade ou aptidão. Convém descrever a condição corporal ou física do animalde maneira objetiva e sem dúbia interpretação, tal como “caquético, magro, normal, gordo eobeso”. Termos como “bom” e “ruim” devem ser evitados, uma vez que os estados de magrezae/ou de obesidade são igualmente ruins, mas de aspectos opostos. Em animais normais, todasas partes proeminentes do esqueleto estão cobertas por músculos ou gordura, dando ao corpoum aspecto arredondado. Nos animais magros, várias partes do esqueleto são prontamenteidentificáveis (costelas, pelve) (Figura 4.2). Em animais de pelos curtos, esse exame pode serrealizado pela inspeção; em animais peludos ou lanados (como observado em algumas raçasde ovinos, cães e gatos), deve ser feito pela palpação da região sacra, avaliando-se opreenchimento da musculatura nessa região. A caquexia é o grau extremo da perda de peso. Osanimais apresentam-se, ainda, com pelo sem brilho, pele seca e desempenho ruim. Devemosconsiderar que o animal pode estar magro devido a não receber alimentação adequada, ou pordoença, mesmo recebendo boa alimentação; a perda de peso de 30 a 50% da massa corporaltotal costuma ser fatal. Inversamente, a obesidade é vista com certa frequência, podendo ter, demaneira simplista, as seguintes causas: Endógena: distúrbio endócrino (p. ex.,hipotireoidismo) Exógena: superalimentação ou alimentação mal orientada. Quando aalimentação é rica em carboidratos e gordura, a tendência do animal é engordar,125■principalmente animais idosos ou sedentários Mista: manejo alimentar errôneo associado adistúrbios endócrinos.Figura 4.2 Equino com emagrecimento acentuado (caquexia).Geralmente, a obesidade é identificada por meio da inspeção do animal. Os animais, demaneira geral, devem ter as costelas facilmente palpáveis e o formato de ampulheta quandovistos de cima. Os indícios de obesidade são: incapacidade de palpar as costelas, falta derecorte caudal à última costela, abdome penduloso, abdome protruso depois da última costelae depósitos de gordura facilmente palpáveis em ambos os lados do início da cauda sobreosquadris ou na área inguinal. A obesidade é a desordem nutricional mais comum em pequenosanimais, sendo caracterizada pela elevação de 15 a 20% do peso considerado normal para araça e a idade do animal. A história nutricional deve incluir a quantidade e a qualidade dadieta, comparando-as com a recomendada para a espécie e raça envolvida. Para cães e gatos, éimportante questionar o proprietário se estão sendo oferecidos restos de comida caseira ou deguloseimas. A alimentação de animais pecuários é menos controlada e mais difícil de serchecada. A ocorrência de deficiências nutricionais, de mudanças repentinas de regimealimentar ou de doenças parasitárias é de grande importância para as várias espéciesenvolvidas.Avaliação geral da peleTanto fisiológica como anatomicamente, a pele é um órgão complexo. Há um ditado queretrata bem sua importância para o exame clínico: a pele é o espelho da saúde. Nos animais, oestado do manto piloso é também um bom indicador da saúde física, tanto com relação aoestado nutricional e à constituição física do indivíduo quanto ao manejo a que esse animal ésubmetido (ou seja, é um bom revelador, também, das características de manejo adotadas peloproprietário do animal). Um animal com pelos sujos, despenteados, eriçados, comectoparasitas e sem brilho, poderá revelar um proprietário pouco cuidadoso ou que nãomantém um vínculo estreito com o animal. As alterações de pele podem ser localizadas ougeneralizadas, únicas ou múltiplas, simétricas ou assimétricas etc. (tais considerações serãofeitas no Capítulo 13, Semiologia da Pele). No entanto, durante essa fase de exame, devido à126grande importância que a pele apresenta, é possível avaliá-la a fim de determinar o estado dehidratação do paciente.O grau de desidratação dos animais é frequentemente estimado, mas dificilmentequantificado. A desidratação pode ser medida comparando-se o peso corporal inicial (antes dadesidratação) com o peso do animal desidratado; contudo, raramente o peso do animal éconhecido antes da ocorrência do problema. O primeiro e mais importante sinal dedesidratação é o ressecamento e o enrugamento da pele. A pele saudável é elástica quandopinçada com os dedos, voltando rapidamente à posição normal quando solta (2 s, em média).Em animais desidratados, quanto maior for o grau de desidratação, maior será o tempo (emsegundos) que a pele permanecerá deformada. A desidratação discreta (até 5%) não promovealterações clínicas marcantes; no entanto, animais com desidratação moderada a graveapresentarão várias alterações importantes, incluindo o aprofundamento ou a retração do globoocular na órbita, em virtude da perda de fluido em região periorbital e ocular. Outrasalterações observadas em casos de desidratação são apresentadas no Quadro 4.1. Em grandesanimais, a pele da pálpebra superior e a da região cervical (tábua do pescoço) apresentambons indícios do grau de desidratação que, em termos clínicos, é avaliado como umaporcentagem do peso corporal. É possível utilizar também a avaliação da concentração dasproteínas totais (somente em animais sem hipoproteinemia) e do hematócrito. Deve-se tercuidado na estimativa da desidratação em raças que apresentam pele em excesso (p. ex., Shar-pei) e em animais idosos, cuja elasticidade da pele passa a ser fisiologicamente diminuída. Domesmo modo, é necessário levar em consideração o estado nutricional do animal para aestimativa da desidratação pela elasticidade da pele, visto que animais gordos ou obesospodem ter seu grau de desidratação subestimado (em virtude do acúmulo de tecido adiposo emregião subcutânea) ou superestimado em animais magros (pela ausência de gordura).Quadro 4.1 Estimativa da desidratação por meio da avaliação física do animal.Diminuição do PC Parâmetros observadosAté 5% (não aparente) ↓ Elasticidade da pele discreta ou sem alteraçãoEnoftalmia ausente ou muito discretaEstado geral sem alteração ou levemente alteradoApetite preservado/sucção geralmente presenteAnimal alerta e em posição quadrupedalEntre 6 e 8% (leve) ↓ Elasticidade da pele (de 2 a 4 s)Enoftalmia leveAnimal ainda alertaEntre 8 e 10% (moderada) ↓ Elasticidade da pele (6 a 10 s)Enoftalmia evidente↓ Reflexos palpebrais↓ Temperatura das extremidades dos membros, de orelhas e focinho127Mucosas secasAnimal se mantém em posição quadrupedal e/ou em decúbito esternalApatia de intensidade va​riá​velEntre 10 e 12% (grave) ↓ Marcante da elasticidade da pele (> 10 s)Enoftalmia intensaExtremidades, orelhas e focinho friosTônus ​muscular ↓ ou ausenteMucosas ressecadasReflexos muito ↓ ou ausentesDecúbito lateralApatia intensa> 12% (gravíssima) Possível óbitoPC = peso corporal.Existem duas causas principais de desidratação: a primeira e principal causa dedesidratação observada é a perda excessiva de líquido promovida pela ocorrência de diarreiae/ou vômito; a segunda é a ingestão inadequada de água (devido à privação ou à diminuição naingestão de água em decorrência de algumas enfermidades ou por impedimento à ingestão porparalisia faríngea ou obstrução esofágica, por exemplo).É importante ressaltar que o Quadro 4.1 apresenta-seapenas como orientação para seestimar o grau de desidratação nas diferentes espécies, visto que existe uma ampla variação daintensidade e do número de sintomas observados de animal para animal de uma mesma espéciee do quadro mórbido envolvido.Avaliação dos parâmetros vitaisO conhecimento dos parâmetros vitais (frequências cardíaca, respiratória, do rúmen e doceco, além da temperatura corporal) é de fundamental importância na fase que antecede oexame físico específico, pois pode sugerir o comprometimento de outro sistema que não tenhasido abordado ou mencionado pelo proprietário. Além disso, ajuda a determinar, de modogeral, a situação orgânica do paciente naquele momento. Os parâmetros devem ser aferidos emonitorados rotineiramente, se possível, 2 vezes/dia, uma pela manhã e outra ao final da tarde.Nessa fase do exame, é importante observar se está ocorrendo ou não alguma alteração nosvalores indicativos de normalidade e a evolução correspondente (para melhor ou pior)daqueles já existentes. Dessa maneira, a alteração deve ser adequadamente descrita(taquipneia, taquicardia, febre) e os valores, criteriosamente anotados. Após o exame físicogeral, realiza-se a avaliação pormenorizada do(s) sistema(s) que apresentou(aram) alteraçãono exame físico geral preliminar.Os valores descritos nos Quadros 4.2 a 4.4 são válidos para animais mantidos em repouso e128em temperatura ambiente moderada.Exame das mucosasInicialmente, deve-se proceder ao exame das mucosas aparentes, que é de real importânciaem semiologia, pois, muitas vezes, as mucosas podem indicar o estado de saúde atual doanimal, em virtude da delgada espessura da pele e grande vascularização. Esse simples examerevela a existência de enfermidades próprias (inflamação, tumores, edema), assim comoauxilia a inferir conclusões a respeito da possibilidade de alterações que reflitamcomprometimento do sistema circulatório ou a existência de doenças em outras partes do corpo(icterícia em virtude de dano hepático ou da ocorrência de hemólise).Quadro 4.2 Valores normais da temperatura corporal em animais.Espécie Idade Temperatura retal (°C)Cães JovensAdultos± 38,537,5 a 39,2Gatos 37,8 a 39,2Equinos JovensAdultos37,2 a 38,937,5 a 38,5Bovinos JovensAdultos38,5 a 39,537,8 a 39,2Caprinos JovensAdultos38,8 a 40,238,6 a 40Ovinos JovensAdultos39 a 4038,5 a 40Quadro 4.3 Valores normais da fre​quência cardía​ca em animais adultos.Espécie/adultos Batimentos cardía​cos/minCães 60 a 160Gatos 120 a 240Equinos 28 a 40Bovinos 60 a 0Caprinos 95 a 120Ovinos 90 a 115129Quadro 4.4 Valores normais da fre​quência respiratória em animais adultos.Espécie/adultos Movimentos respiratórios/minCães 18 a 36Gatos 20 a 40Equinos 8 a 16Bovinos 10 a 30Caprinos 20 a 30Ovinos20 a 30O exame das mucosas deve ser realizado sempre em locais com boa iluminação, depreferência sob a luz do sol. Caso isso não seja possível, utiliza-se luz artificial de coloraçãobranca.As mucosas visíveis que costumamos examinar são as oculopalpebrais (Figuras 4.3 e 4.4)(conjuntiva palpebral superior, conjuntiva palpebral inferior, terceira pálpebra ou membrananictitante e conjuntiva bulbar ou esclerótica), mucosas nasal, bucal, vulvar, prepucial e,raramente, anal. É necessária especial atenção às alterações de coloração, como também àocorrência de ulcerações, hemorragias e secreções durante o exame visual.Figura 4.3 Técnica de abertura das mucosas oculopalpebrais adotada em cães, gatos e pequenosruminantes, por meio da utilização dos dedospolegares.130Figura 4.4 Técnica de abertura das mucosas oculopalpebrais adotada em bovinos e equinos, pormeio da utilização dos dedos indicador (conjuntiva palpebral superior) e polegar (conjuntiva palpebralinferior).Nas mucosas oculopalpebrais encontra-se a membrana nictitante ou terceira pálpebra –uma prega da conjuntiva que apresenta, em sua porção interna, uma glândula denominadaglândula da terceira pálpebra (Figura 4.5) ou de Harder (exceto nos equinos), que podefacilmente ser confundida com tecido linfoide, responsável pela produção de 30% do filmelacrimal. Ela se torna evidente no tétano, na síndrome de Horner (perda da inervação simpáticado globo ocular) e em algumas intoxicações (nicotina e estricnina). Nos bovinos, os vasosepisclerais apresentam-se delineados e, nos equinos, a coloração da esclerótica apresenta-secastanho-amarelada, em virtude de maior pigmentação. Nos gatos, a esclerótica écompletamente branca e relativamente avascular.Na maioria das espécies, a mucosa nasal, por ser pigmentada, é importante para aobservação de possíveis corrimentos e lesões próprias, mas insatisfatória para verificaralterações de coloração (Figuras 4.6 e 4.7). Uma inspeção adequada da mucosa nasal éfacilmente realizada nos equinos, pois suas narinas são amplas e flexíveis. Nesses animais, osductos nasolacrimais, um de cada lado, bastante amplos e visíveis, estão dispostos na transiçãoentre a pele e a mucosa.131Figura 4.5 Protrusão e congestão da terceira pálpebra em um equino com tétano.É importante lembrar que, além da coloração, a mucosa bucal apresenta informações sobreo tempo de preenchimento capilar (Figura 4.8). É interessante, principalmente nos casos dedesidratação, visto que, muitas vezes, o animal apresenta a elasticidade de pele normal etempo de refluxo capilar aumentado, demonstrando, na verdade, que o animal está desidratado.Isso pode ser visto em casos de hidratação subcutânea, quando o líquido se acumula no tecidosubcutâneo, não atingindo, ainda, a circulação sistêmica.Figura 4.6 Mucosa nasal de um equino com crescimento neoplásico (carcinoma).132Figura 4.7 Mucosa nasal de um equino com secreção purulenta unilateral.Figura 4.8 Avaliação do tempo de preenchimento capilar em equinos.Além de apresentar alterações da coloração, devemos observar nas cadelas a ocorrência deformações vegetantes e hemorrágicas (aspecto de couve-flor) na mucosa vulvar e na vagina,características do tumor venéreo transmissível, o qual é transmitido principalmente pelo coito.Avaliação da coloraçãoA coloração das mucosas depende de vários fatores, dentre os quais: quantidade e133qualidade do sangue circulante, eficácia (ou eficiência) das trocas gasosas, da existência ounão de hemoparasitos, da função hepática adequada, da medula óssea e outros. As mucosascostumam se apresentar úmidas e brilhantes. A tonalidade, de maneira geral, é róseo-clara comligeiras variações de matiz, vendo-se pequenos vasos com suas ramificações. As mucosas doanimal recém-nascido apresentam coloração rósea menos intensa. Em fêmeas no cio, a mucosavulvar pode se encontrar avermelhada. Em determinadas raças de algumas espéciesdomésticas, a coloração das mucosas tende a ser mais avermelhada (cães: Fila Brasileiro,Cocker Spaniel, Bulldog, Boxer; bovinos: Simental; equinos: Apaloosa, por exemplo), nãodevendo ser confundida com processo inflamatório ou irritativo da referida mucosa.O limite entre a coloração normal e a patológica não é muito preciso, e o seu adequadoreconhecimento requer experiência profissional e acurado exame do animal. Ao notarcoloração anormal em determinada mucosa, as demais também devem ser observadas paraverificar se também há tal alteração.Se uma única mucosa estiver alterada, pode ser um problema localizado ou umaparticularidade do animal; já o envolvimento de várias mucosas pode ser um indício decomprometimento sistêmico. Existem várias tonalidades ou gradações de uma mesma cor que,na maioria das vezes, refletem, proporcionalmente, a intensidade do processo mórbido emevolução. Por exemplo, a palidez pode variar desde branco-rósea até branco-porcelana ouperlácea (Figura 4.9) – considerada o grau máximo de palidez; a congestão varia desdevermelho discreto (irritação) até vermelho-tijolo (endotoxemia) (Figura 4.10).Ao avaliar um paciente com palidez de mucosa, deve ficar estabelecido se a mudança decoloração é causada por hipoperfusão ou por anemia. A abordagem mais simples para resolveresse problema é avaliar o volume globular (VG) ou hematócrito (Ht) e o tempo depreenchimento ou perfusão capilar (TPC), visto que a palidez de mucosa pode ser decorrentede anemia ou de vasoconstrição periférica. Em virtude da falta de contraste (resultante dapalidez), pode ser difícil avaliar o TPC em cães e gatos. Basicamente, o TPC reflete o estadocirculatório do animal (volemia) e é medido junto à mucosa bucal, próximo aos dentesincisivos. Para tanto, faz-se a eversão do lábio superior ou inferior e compressão digital com odedo polegar, observando-se, após a retirada do dedo, o tempo decorrido para que hajanovamente o preenchimento dos capilares, ou seja, para que a palidez provocada pelaimpressão digital seja substituída, novamente, pela cor observada antes de a compressão tersido realizada (Figura 4.8 e Quadro 4.5). A coloração normal deve voltar dentro de 2 s. Namaioria das vezes, o fato de levar maior tempo para que ocorra o preenchimento dessespequenos vasos indica desidratação ou vasoconstrição periférica, associada a baixo débitocardíaco. A duração maior que 10 s, em geral, significa falha circulatória potencialmente fatal.Contudo, vale a pena ressaltar que esse tipo de avaliação não é tão sensível, visto que um TPCnormal pode ser observado em animais com doença cardíaca grave. Em animais com algiaabdominal grave, também é possível observar a palidez de mucosa, em virtude do estímulo dosistema nervoso simpático e, consequentemente, de alfarreceptores, que induzem diminuição134do lúmen vascular. O tempo de preenchimento é normal em animais com anemia, a menos queesteja havendo hipoperfusão. Caso leve um tempo maior que 6 s, isso indica comprometimentocirculatório grave, levando, pelas alterações isquêmicas, a comprometimento renal e hepáticograve e, muitas vezes, irreversível.Figura 4.9 Mucosa oculopalpebral pálida (perlácea) em um caprino com verminose.Figura 4.10 Mucosa bucal congesta em um cão.Quadro 4.5 Avaliação do tempo de preenchimento capilar.Animal sadio: 1 a 2 sAnimal desidratado: 2 a 4 sAnimal gravemente desidratado: > 5 sAs manifestações clínicas de anemia nos animais domésticos incluem palidez das mucosas,intolerância ao exercício, aumento da frequência (taquicardia) e da intensidade (hiperfonese)de bulha cardíaca e apatia. Tais sintomas podem ser agudos ou crônicos e de intensidadevariável. Deve ser enfatizado que a anemia não constitui um diagnóstico primário e que todo o135■■■■■esforço deve ser feito para identificar a sua causa em um paciente anêmico. Algumas perguntassão cruciais para o esclarecimento da causa da anemia: O paciente está sendo medicado?Quais são a medicação e a dose utilizadas?Observou alteração na consistênciae na coloração das fezes (diarreia, melena,hematoquezia)?Apresentou alteração de coloração na urina (hematúria, hemoglobinúria)?Quando e com qual fármaco foi feita a última vermifugação?A congestão de mucosas ocorre devido ao ingurgitamento de vasos sanguíneos, porprocesso infeccioso ou inflamatório, local ou sistêmico (congestão pulmonar, conjuntivite,estomatite); é de grande valia como indicador do estado circulatório do animal. Além disso, ahiperemia pode ser difusa ou ramiforme; é difusa quando a tonalidade avermelhada é uniforme(intoxicação), e ramiforme quando é possível notar os vasos mais salientes, com maior volumesanguíneo (dispneias).A cianose é uma coloração azulada da pele e das mucosas, causada pelo aumento daquantidade absoluta de hemoglobina reduzida no sangue. A coloração azulada das mucosas,portanto, indica um distúrbio da hematose (troca gasosa que ocorre nos alvéolos) e quedepende mais dos pulmões que do coração; no entanto, caso não consiga proporcionar aoorganismo circulação sanguínea adequada, esse órgão poderá levar à cianose, tanto porproblemas cardíacos quanto vasculares. Contudo, é necessário averiguar se o animal apresentaou não anemia, a qual deixará as trocas gasosas e o transporte de oxigênio deficiente,tornando-o hipercapneico (com excesso de dióxido de carbono). Além disso, é preciso avaliarse o animal está desidratado ou em choque, o que levará a menor pressão sanguínea,acarretando diminuição da perfusão tecidual e acúmulo de dióxido de carbono nos tecidosperiféricos, dentre os quais, os das mucosas passíveis de serem inspecionadas clinicamente.Ou seja, muitas são as causas de cianose: algumas, de origem circulatória; outras, porprocessos respiratórios ou sistêmicos. Por esse motivo, é necessário sempre realizar umcompleto exame clínico, não apenas avaliar os sistemas que, a princípio, julga-se estaremprimariamente envolvidos no processo patológico em questão. Contudo, vale uma ressalva:para que a alteração na coloração da mucosa seja percebida, o quadro patológico do animaldeverá estar bastante avançado, caso contrário, pouca ou nenhuma alteração será observada –como em casos de cianose. Em geral, a cianose não é observada em pacientes com hemorragia,haja vista que há, também, perda de hemoglobina.A icterícia (Figura 4.11) é o resultado da retenção de bilirrubina nos tecidos, e ocorredevido ao aumento da bilirrubina sérica acima dos níveis de referência. É sabido que outrassubstâncias podem determinar coloração amarelada semelhante, como o fornecimento dealimentação rica em caroteno. Nesse caso, no entanto, não cora a mucosa e a determinação dabilirrubina sérica esclarece o diagnóstico. A icterícia é uma alteração clínica que aparece comfrequência não apenas nas doenças hepáticas e do sistema biliar, mas também em afecções136■■hemolíticas; contudo, constitui um achado importante, pois dificilmente uma doença hepáticagrave apresenta-se sem icterícia, ainda que transitória (Figura 4.12).Figura 4.11 Tipos de icterícia e suas consequências. ALT = alamina aminotransferase; AST =aspartato aminotransferase; BD = bilirrubina direta; BI = bilirrubina indireta; FA = fosfatase alcalina;GGT = gama glutamiltransferase; VG = volume globular. Alteração inicial. *Alteração final.Cerca de 80% da bilirrubina produzida origina-se da degradação da hemoglobina a partirda remoção dos eritrócitos da circulação; os 20% restantes são originados na medula pelaeritropoese. Uma vez na circulação, a maior parte da bilirrubina liga-se à albumina, soltando-se da mesma no sinusoide hepático, sendo transportada até o retículo endoplasmático liso, noqual é conjugada ao ácido glicurônico, transformada em bilirrubina direta, também denominadade conjugada. Esta é eliminada pela bile, vai ao intestino e, no íleo e no cólon, é transformadaem urobilinogênio. A maior parte do urobilinogênio formado é eliminada pelas fezes e orestante retorna para a circulação sistêmica, sendo grande parte eliminada pelos rins. Umaparte do urobilinogênio fecal volta ao fígado pela circulação êntero-hepática.Em caso de icterícia resultante da hiperbilirrubinemia conjugada ou direta (hidrossolúvel),os tecidos mais facilmente impregnados são os superficiais, pela maior afinidade desta comáreas de alta concentração de fibras elásticas, como a conjuntiva bulbar. Já o tipo nãoconjugado apresenta maior afinidade por tecido adiposo, pois, por ser lipossolúvel, penetramais facilmente. As mucosas oral e bulbar costumam ser os primeiros locais em que se detectaicterícia; da mesma maneira, a coloração é mais intensa em casos de icterícia obstrutiva ehepatocelular que na icterícia hemolítica.A icterícia pode ser causada por:Doenças hemolíticas (aumento da produção por hemólise): quando o fígado não temcondições de excretar e/ou conjugar toda a bilirrubina formada (babesiose) Lesões137■■■■■■hepáticas (infecções bacterianas: leptospirose; substâncias hepatotóxicas: aflatoxina, fenol“creolina”) Obstrução dos ductos biliares, quando a bilirrubina, em vez de ser excretadapela bile, chega à circulação sistêmica.Figura 4.12 Mucosa bucal amarelada em um cão com leptospirose.É comum a utilização dos termos “hipocorada” e “hipercorada” para caracterizar acoloração das mucosas; no entanto, não devem ser adotados, pois são denominaçõesimprecisas, visto que poderiam ser consideradas as colorações pálida e cianótica (Figura4.13) como hipocoradas e as colorações hiperêmica e ictérica como hipercoradas, sendototalmente diferentes a sua origem e o seu significado clínico. Passado algum tempo, a leiturade uma ficha de exame clínico com tal denominação pode causar dúvidas com relação ao seuverdadeiro significado. Além da coloração, é interessante observar a ocorrência de petéquiase de hemorragias equimóticas na esclera ou nas mucosas oral, nasal ou vaginal, indicativas deanormalidades na hemostasia (Quadro 4.6).Ocorrência de corrimentosCaso ocorram nas respectivas mucosas, devemos, inicialmente, verificar quantidade,aspecto e se são uni ou bilaterais. Os corrimentos, de acordo com as característicasmacroscópicas, são classificados em: Fluido: líquido, aquoso, pouco viscoso e transparente(corrimento nasal normal em bovinos) Seroso: mais denso que o fluido, mas aindatransparente (processos virais, alérgicos e precede a secreção de infecções ou inflamações)Catarral: mais viscoso, mais pegajoso, esbranquiçado Purulento: mais denso e comcoloração variável (amarelo-esbranquiçado, amarelo-esverdeado; na verdade, é um produto denecrose em um exsudato rico em neutrófilos, indicando, por exemplo, a ocorrência deprocessos infecciosos, corpos estranhos) Sanguinolento: vermelho-vivo ou enegrecido; pode138resultar de traumas, distúrbios hemorrágicos sistêmicos, processos patológicos agressivos etc.Figura 4.13 Mucosa bucal cianótica, com formação de halos endotoxêmicos marginando os dentesem um equino com peritonite séptica difusa.Quadro 4.6 Alterações de coloração das mucosas com seus principais significados e causas.Denominação Coloração Significado Principais causasPálida Esbranquiçada Anemia Ecto e endoparasitoseHemorragias/choquehipovolêmicoAplasia medularInsuficiên​cia renalFalência circulatóriaperiféricaCongesta ou hiperêmica Avermelhada ↑ Permeabilidade ​vascular Inflamação e/ou infecçãolocalSepticemia/bacteriemiaFebreCongestão pulmonarEndocarditePericardite traumáticaCianótica Azulada Distúrbio na hematose AnafilaxiaObstrução das viasrespiratóriasEdema pulmonarInsuficiên​cia cardía​cacongestivaPneumopatias139Exposição ao frioIctérica Amarelada Hiperbilirrubinemia Estase biliar (obstrução)Anemia hemolítica imuneIsoeritrólise neonatalAnemia hemolíticamicroangiopática– Babesiose– Anaplasmose– HemobartoneloseHepatite tóxica e/ouinfecciosaAvaliação dos linfonodosO sistema linfático constitui uma via acessória pela qual os líquidos podem fluir dosespaços intersticiais para o sangue. Os vasoslinfáticos podem transportar para fora dosespaços teciduais proteínas e grandes materiais particulados, visto que não podem serremovidos diretamente por absorção pelo capilar sanguíneo. Essa remoção de proteínas dosespaços intersticiais é uma função absolutamente essencial.Com exceção de alguns tecidos (partes superficiais da pele, sistema nervoso central, partesmais profundas dos nervos periféricos e ossos), quase todos os tecidos corporais contêmcanais linfáticos que drenam o excesso de líquido diretamente dos espaços intersticiais.A maior parte do líquido filtrado dos capilares arteriais flui pelas células e é finalmentereabsorvida pelas extremidades venosas dos capilares sanguíneos. No entanto, em vez disso,cerca de 1/10 do líquido passa para os capilares linfáticos, retornando ao sangue pelo sistemalinfático, e não pelos capilares venosos.A linfa deriva do líquido intersticial que flui para os vasos linfáticos e, por esse motivo, aocomeçar a sair de cada tecido, a linfa tem quase a mesma composição do líquido intersticial. Aconcentração de proteínas da linfa da maioria dos tecidos é muito próxima à concentração dolíquido intersticial dos mesmos. Por outro lado, a linfa formada no fígado e no intestino temconcentração acima desses valores.O sistema linfático também é uma das principais vias de absorção de nutrientes a partir dosistema gastrintestinal, sendo responsável, principalmente, pela absorção dos lipídios.Finalmente, até mesmo grandes partículas, tais como bactérias, podem abrir seu caminho porentre as células endoteliais dos capilares linfáticos e, desse modo, passar para a linfa. Quandoa linfa passa pelos linfonodos, essas partículas são removidas e destruídas.Em comparação com a troca total de líquido entre o plasma e o líquido intersticial, o fluxolinfático é relativamente lento, cuja intensidade é determinada principalmente por dois fatores:(1) a pressão do líquido intersticial; e (2) o grau de atividade da bomba linfática. Qualquer140■■■◦◦◦fator que aumente a pressão do líquido intersticial também aumenta, normalmente, o fluxolinfático. Tais fatores incluem pressão capilar elevada, diminuição da pressão coloidosmóticaplasmática, aumento nas proteínas do líquido intersticial e aumento da permeabilidade doscapilares.Antes de ser devolvida à corrente sanguínea, a maior parte da linfa coletada pelos capilareslinfáticos passa através de pequenas estruturas ovoides, chamadas linfonodos. Os linfonodosou gânglios linfáticos são órgãos encapsulados constituídos de tecido linfoide e que aparecemespalhados pelo corpo, sempre no trajeto de vasos linfáticos. Os linfonodos, em geral, têm oformato de rim e apresentam um lado convexo e outro com reentrância, o hilo, pelo qualpenetram as artérias nutridoras e saem as veias. A linfa que atravessa os linfonodos penetrapelos vasos linfáticos que desembocam na borda convexa do órgão (vasos aferentes), saindopelos linfáticos do hilo (vasos eferentes). O parênquima é dividido em uma região cortical,que se localiza abaixo da cápsula, em uma região medular que ocupa o centro do órgão e seuhilo. Além dessas regiões, descreve-se também uma zona paracortical, localizada entre acortical e a medular. Os linfonodos são filtros da linfa, a qual, antes de chegar ao sangue,atravessa ao menos um linfonodo. A linfa aferente chega aos seios subcapsulares, passa paraos seios peritrabeculares e daí para os seios medulares, saindo pelos linfáticos eferentes.O exame do sistema linfático (vasos linfáticos e linfonodos) é importante por váriosmotivos, dentre os quais se destacam: Por participar dos processos patológicos que ocorremnas áreas ou regiões por eles drenadas, as alterações que ocorrem no sistema linfático sãocapazes de identificar o órgão ou a região que está acometida Os linfonodos, como os vasoslinfáticos, apresentam alterações características em várias doenças infecciosas, tais comoleucose bovina, linfadenite caseosa dos caprinos e ovinos, leishmaniose visceral canina,sendo, dessa maneira, um fator fundamental para o estabelecimento do diagnóstico nosológicoA dilatação ou hipertrofia anormal dos linfonodos, que ocorre na maioria dos processosinfecciosos e inflamatórios, pode comprometer a função de alguns órgãos vizinhos, agravandoainda mais o quadro geral do animal, tais como: Disfagia e timpanismo → linfonodosmediastínicos (por compressão de vago, nos casos de tuberculose e actinobacilose embovinos) Dispneia → linfonodos retrofaríngeos (compressão faríngea) Tosse → linfonodosmediastínicos (compressão de traqueia e árvore brônquica).Pelo exposto, pode-se presumir que os linfonodos raramente são sede de uma patologiaprimária, visto que se envolvem de maneira secundária nos mais variados processosinfecciosos, inflamatórios e neoplásicos.O exame do sistema linfático baseia-se em inspeção, palpação e, se necessário, realizaçãode biopsia dos linfonodos. Caso a pelagem seja longa e a pele muito pigmentada, a inspeçãotorna-se impossível. A palpação é de melhor valia para se detectarem alterações significativasque envolvam direta ou indiretamente o sistema linfático. É necessário avaliar tamanho,consistência, sensibilidade, mobilidade e temperatura de todos os linfonodos examináveis esempre bilateralmente, para que seja possível determinar se o processo é localizado (uni ou141bilateral) ou generalizado.Em virtude da dificuldade de o proprietário perceber alterações no sistema linfático dosanimais domésticos, raramente esse sistema é o motivo da queixa principal, a não ser quesejam visivelmente extremas (leucose em bovinos, leishmaniose visceral em cães). No entanto,quando possível, devemos perguntar a data em que o aumento de volume foi notado, posto queserá possível ter uma ideia da sua evolução (rápida ou lenta). Procuramos destacar o verbo“notar”, porque a ocasião em que o proprietário notou o aumento de volume do linfonodoraramente coincide com o momento no qual ele, de fato, surgiu.Localização dos linfonodosOs linfonodos são estruturas muitas vezes palpáveis, de modo que fornecem boa orientaçãosobre o local em que está ocorrendo determinado processo infeccioso ou inflamatório. Noentanto, para que sua avaliação também auxilie nos diagnósticos, é preciso conhecer sualocalização anatômica (Figuras 4.14 e 4.15). Os linfonodos possíveis de serem examinados narotina prática são: (1) mandibulares ou maxilares; (2) retrofaríngeos; (3) cervicais superficiaisou pré-escapulares; (4) subilíacos (pré-femorais ou pré-crurais); (5) poplíteos; (6) mamários;e (7) inguinais superficiais ou escrotais (Quadros 4.7 e 4.8).Os linfonodos mandibulares, na maioria das espécies, costumam ser dois e estãolocalizados superficialmente entre as veias faciais e a pele. Nos equinos, estão situados maisprofundamente e ventralmente à língua. Os mesmos drenam a metade ventral da cabeça(cavidade nasal, lábios, língua, glândulas salivares); podem ser examinados em cães, gatos,equinos e ruminantes. Muitas vezes, não podem ser sentidos em bovinos adultos e sadios, poissão relativamente pequenos e recobertos por tecido adiposo.Figura 4.14 Linfonodos em cães: 1 – mandibular; 2 – pré-escapular; 3 – poplíteo e 4 – inguinalsuperficial (cão macho).142■■■■■■Figura 4.15 Linfonodos em equinos: 1 – mandibular; 2 – retrofaríngeo; 3 – pré-escapular e 4 –subilíaco (pré-crural).Quadro 4.7 Grau de dificuldade (–) ou de facilidade (+) à palpação dos principais linfonodos examináveis nas diferentesespécies domésticas.AnimaisLinfonodos Cães Gatos Equinos RuminantesMandibulares + + ± ±Pré-escapulares + ± ↓ +Subilíacos NE NE ± +Poplíteos + + NE ↓Mamários ↓ ↓ ↓ ±Inguinais + ± ↓ ↓+ = relativamente fácil; ± = não tão fácil; ↓ = de difícil palpação; NE = não existem.Quadro 4.8 Linfonodos examináveis na rotina clínica.Mandibulares ou maxilares Cervicais superficiais ou pré-escapulares Subilíacos (pré-femorais ou pré-crurais) PoplíteosMamáriosInguinais superficiaisou escrotaisOs linfonodos retrofaríngeos laterais e mediais localizam-se na região cervical, entre oatlas e a parede da faringe; recebem linfa das partes internas da cabeça, incluindo o esôfagoproximal, palato e a faringe. Não costumam ser palpados, mas podem ser examinados emequinos, cães, gatos e em ruminantes quando aumentados de volume (reativos).143Os linfonodos cervicais (pré-escapulares) superficiais são palpáveis na face lateral daporção distal do pescoço e ficam em uma fossa formada pelos músculos trapézio,braquiocefálico e omotransverso. Essa fossa se encontra imediatamente adiante da escápula,um pouco acima da articulação escapuloumeral. Em equinos, repousam abaixo do músculopeitoral cranial profundo, sendo de difícil palpação. Drenam o pavilhão auricular, o pescoço,o ombro, os membros torácicos e o terço proximal do tórax; podem ser examinados com certafacilidade nos ruminantes e cães. Nos animais de grande porte, a sua palpação é facilitadapassando-se as pontas dos dedos sobre os mesmos; nos animais de companhia, os linfonodosdevem ser seguros com as pontas dos dedos, mantidos em formato de pinça.Os linfonodos subilíacos (pré-femorais ou pré-crurais) podem ser palpados no terçoinferior do abdome, a meia distância da prega do flanco e da tuberosidade ilíaca. Recebemlinfa da região posterior do corpo e do segmento craniolateral da coxa. São mais facilmenteexaminados em animais ruminantes, mas podem ser palpados em equinos magros e/ouenfermos. Não existem nos animais de companhia.Na maioria das vezes, os linfonodos mamários são representados por dois nódulos de cadalado, entre o assoalho ósseo da pelve e a parte caudal do úbere (transição da paredeabdominal e parênquima glandular). Drenam o úbere e as partes posteriores das coxas; sãopalpados nas fêmeas de ruminantes domésticos. Em vacas em lactação, para examinar olinfonodo esquerdo do úbere, deve-se elevar a parte esquerda do úbere, posicionando-se, apóscontenção adequada do animal, lateralmente ao mesmo, enquanto a mão direita procuralocalizar e avaliar o linfonodo. É necessário inverter a posição e as mãos para a palpação dolinfonodo oposto.Os linfonodos inguinais superficiais ou escrotais apresentam-se medial e lateralmente aocorpo do pênis. Servem de centro linfático para os órgãos genitais masculinos externos.Normalmente palpados em cães.Os linfonodos poplíteos superficiais, ausentes nos equinos, estão localizados na origem dogastrocnêmio, entre os músculos bíceps femoral e semitendíneo, posteriormente à articulaçãofemorotíbio-patelar; drenam pele, músculos, tendões e articulações dos membros posteriores.É possível palpá-los em cães e gatos.Muitos linfonodos, tais como parotídeos, retrofaríngeos e axilares, são palpados somentequando estão hipertrofiados, ou seja, quando estão reativos a algum processo inflamatório,infeccioso ou neoplásico nas respectivas regiões de drenagem. Existem, ainda, os linfonodosinternos, que podem ser palpados por via retal em grandes animais, que são o ileofemoral(espaço retroperitoneal, cranial e medial ao corpo do íleo) e os linfonodos da bifurcaçãoaórtica (parte caudal do flanco, medial ao íleo). Esses linfonodos raramente são examinados narotina clínica, mas podem ser avaliados na palpação retal. Existem, ainda, os linfonodosilíacos que podem ser palpados ocasionalmente em cães com distúrbios pontuais, como noscasos de carcinoma prostático.144Características examináveis dos linfonodosTamanhoHá muita variação no tamanho dos linfonodos, mesmo quando palpados em animaissaudáveis e de uma mesma espécie. Em geral, os gânglios linfáticos apresentam formato degrão de feijão e são relativamente maiores em animais jovens, visto que são expostos a umagrande variedade de estímulos antigênicos, tais como vacinação. Em um mesmo animal, otamanho do linfonodo depende, além da idade, da sua localização e do seu estado nutricional.Animais caquéticos podem induzir a uma falsa impressão de adenopatia; em outras situações, oemagrecimento pode possibilitar a palpação de linfonodos que não costumam ser palpados emanimais sadios, como é o caso dos linfonodos subilíacos (pré-crurais) em equinos magros. Demodo genérico, deve-se interpretar uma tumefação (infarto) ganglionar (Figura 4.16) como umareação inflamatória de caráter defensivo, oriunda de processos inflamatórios, infecciosos e/ouneoplásicos, localizados ou disseminados. Essa hiperplasia é decorrente da absorção e dafagocitose de bactérias, toxinas e da produção de linfócitos e anticorpos. Quando relacionadascom os vasos, as afecções são chamadas de linfangites; quando relacionadas com os gânglios,adenite; com ambas as estruturas, linfadenite. O aumento exagerado dos linfonodos pode causara compressão de estruturas vizinhas, causando sintomas secundários (p. ex., disfagia etimpanismo por compressão esofágica dos linfonodos mediastínicos). O aumento do tamanhodos linfonodos deve ser descrito por meio de termos comparativos tirados da vida diária, taiscomo: “caroço de azeitona”, “azeitona pequena ou grande”, “limão”, “ovo de galinha”,“laranja”, dentre outros. Muitas vezes, não se consegue sentir um determinado linfonodo quecomumente é palpado, mesmo quando a palpação é realizada no local correto e por umexaminador experiente. No entanto, na maioria dos casos, o significado clínico da “nãopalpação” do referido linfonodo é positivo, pois se trata de um forte indício de normalidade.SensibilidadeSempre que possível (quando a hipertrofia do linfonodo for visível), deve-se palparprimeiramente as áreas menos dolorosas para, em seguida, chegar à área mais sensível aotoque, na tentativa de se obter melhor cooperação do paciente. Nos processos inflamatóriose/ou infecciosos agudos, os linfonodos tornam-se sensíveis. Nos animais normais e durante osprocessos crônicos, a sensibilidade é normal ou discretamente aumentada, respectivamente. Apesquisa de sensibilidade pode ser útil para diferenciar linfadenopatia reativa de outraneoplásica, visto que, na primeira, a dor à palpação é um achado frequente.145Figura 4.16 Linfadenopatia (linfonodo mandibular) em equino.ConsistênciaA consistência dos linfonodos nem sempre é fácil de ser descrita. Em geral, apresentamconsistência firme, ou seja, são moderadamente compressíveis, cedendo à pressão, e voltandoao formato inicial uma vez cessada a pressão. Nos processos inflamatórios e infecciososagudos, a consistência não se altera, mas é possível denotar o aumento de volume e desensibilidade. Nos processos inflamatórios e infecciosos crônicos e neoplásicos, os linfonodosficam duros.A ocorrência de flutuação, com ou sem supuração, faz com que o linfonodo adquiraconsistência mole, representando, geralmente, o estágio final das infecções (Figura 4.17).Demonstra a formação de uma área liquefeita com pus ou material seroso no seu interior.Ocorre, na maioria das vezes, quando o linfonodo é sede de um abscesso, ou em casos demetástases de desenvolvimento rápido (adenite equina).MobilidadeOs linfonodos costumam apresentar boa mobilidade; eles são móveis tanto com relação àpele quanto às estruturas vizinhas quando palpados. A perda ou a ausência de mobilidade é umachado comum nos processos inflamatórios bacterianos agudos, devido ao desenvolvimento decelulite localizada, que os fixa nos tecidos vizinhos.TemperaturaEm geral, os linfonodos apresentam temperatura igual à da pele que os recobre. A elevaçãoda temperatura é acompanhada, na maioria das vezes, de dor à palpação.Deve-se determinar se o comprometimento dos gânglios é localizado, isto é, se apenas umdeterminado conjunto de linfonodos apresenta sinais de anormalidade ou se o mesmo é146■■■■generalizado. O aumento unilateral indica que há comprometimento unilateral da área dedrenagem de determinado linfonodo; o aumento generalizado dos linfonodos é associado adoenças sistêmicas agudas ou a determinadas condições neoplásicas. A diferenciação pode serfeita porcitologia.Figura 4.17 Fistulização de linfonodo mandibular em equino com adenite.Procedimentos complementaresBiopsia dos linfonodosExistem várias técnicas de biopsia e, no caso dos linfonodos, podemos utilizar a biopsiapor excisão ou por aspiração. Na primeira, faz-se a remoção cirúrgica de uma parte ou de todoo linfonodo para futuro exame histopatológico; na biopsia por aspiração (Figura 4.18), faz-sepunção com uma agulha apropriada e, após ser acoplada em uma seringa, aspira-se o materialproveniente do linfonodo, ejetando-o sobre uma lâmina de vidro para exame posterior. Abiopsia é empregada nas linfadenopatias localizadas e generalizadas, de etiologiadesconhecida, e em suspeitas de metástases tumorais. Em ambas as técnicas, antes darealização da biopsia, deve-se fazer tricotomia e assepsia do local sobre o nódulo linfático.Avaliação da temperatura corporalO estudo da variação térmica (termometria) é de fundamental importância para se avaliar oestado geral do paciente e nunca deve ser desprezado pelo veterinário, pois apresenta algumascaracterísticas desejáveis: Pouco invasivo Baixo risco de dano à saúde do animal Rápidaobtenção do resultado Baixíssimo custo financeiro.As espécies domésticas (mamíferos e aves) são classificadas como homeotermas, ou seja,147são capazes de, em condições de perfeita saúde, manter a temperatura corporal dentro decertos limites, independentemente da variação da temperatura ambiente. Por esse motivo, sãochamados de “animais de sangue quente”. Já nos répteis, anfíbios e peixes, os mecanismos deajuste da temperatura são rudimentares e, por isso, essas espécies são chamadas de “animaisde sangue frio”, ou pecilotérmicos, tendo em vista que sua temperatura interna apresentagrande variação, pois está à mercê da variação ambiental.A temperatura corporal dos animais é determinada pelo balanço entre o ganho de calor esua respectiva perda, pelo equilíbrio entre dois mecanismos distintos chamados determogênese (mecanismo químico que aumenta a produção de calor) e termólise (mecanismofísico que incrementa a perda de calor). A principal fonte de calor é derivada de processosmetabólicos oxidativos, ou seja, por meio de reações nas quais o oxigênio – utilizando comosubstrato os carboidratos, lipídios e os aminoácidos – determina a queima destes, comconsequente produção de calor. Quando o animal está em repouso, os principais órgãosgeradores de calor são o fígado e o coração; no entanto, durante o exercício, os músculosesqueléticos constituem o maior local de calor, contribuindo com cerca de 80% do calor totalproduzido.Figura 4.18 Punção de biopsia aspirativa do linfonodo poplíteo em cão com suspeita deleishmaniose visceral.Fisiopatologia da termorregulaçãoA manutenção da temperatura corporal normal depende do centro termorregulador, quealguns denominam “termostato”, localizado no hipotálamo, o qual é sensível tanto às variaçõesda temperatura corporal interna como da superfície cutânea. Nas vísceras e na pele, existemreceptores térmicos que informam ao centro termorregulador hipotalâmico as respectivasvariações existentes. O termostato atua tanto na produção de calor quanto na perda do mesmo.Assim, quando a temperatura ambiente diminui há, além de incremento do metabolismo para aprodução de calor, vasoconstrição periférica e piloereção, para evitar a perda de calor nosmembros periféricos, bem como diminuição da frequência respiratória. Em situação inversa,quando a temperatura ambiente se eleva, observa-se vasodilatação periférica e aumento148■relativo da frequência respiratória, propiciando maior dissipação de calor.O exame de um paciente febril deve ser completo, com especial atenção para os órgãos queindicam a localização da doença. Para esse fim, é necessário levar em consideraçãoprincipalmente a idade e a espécie animal. O exame físico deve ser minucioso, sobretudo nospacientes que apresentam sintomas inespecíficos (perda parcial de apetite, apatia) e/ou comepisódios febris prolongados. Como descrito anteriormente, a maioria dos processos febris nasespécies domésticas é causada por doenças infecciosas, que são diagnosticadas com relativafacilidade a partir da obtenção e avaliação cuidadosa da história clínica, juntamente com oexame físico do paciente. No momento da obtenção da anamnese, é importante estar atento àduração e à periodicidade do processo febril (p. ex., se remitente ou intermitente); quandocomeçou e, caso possível, as variações observadas; a hora do dia em que aparece; se houvecontato com animais doentes; se fez uso de vacinas ou de outros produtos medicamentosos,dentre outros. Com relação ao exame físico geral, é de grande destaque a avaliação doslinfonodos, na tentativa de determinar o órgão ou a região comprometida, principalmente noscasos de febre de origem indefinida.Técnicas de aferição da temperaturaA temperatura dos animais domésticos pode ser obtida tanto por palpação externa, quantopela utilização dos chamados termômetros clínicos. No passado, a temperatura era avaliadacolocando-se a mão em algumas partes do corpo (nariz, orelhas) ou, então, introduzindo-se osdois dedos na boca do enfermo, o que expunha o clínico a alguns riscos. O termômetro foiconcebido por Santorio no século 16, mas foi Gabriel Fahrenheit, em 1717, quem fabricou oprimeiro termômetro de mercúrio. O termômetro era um instrumento desajeitado e volumosoaté os aperfeiçoamentos introduzidos por Aitkin, em 1852, e Thomas Allbutt, que, em 1870,desenvolveu o termômetro clínico tal como se conhece nos dias atuais. Mais recentemente,foram inventados os termômetros digitais, já amplamente utilizados na rotina clínica. Apesardos imensos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas, a leitura desse simplesinstrumento ainda traz subsídios importantes para o diagnóstico. A temperatura corporal é umdado importante a mais dentro do contexto do exame clínico, não devendo ser avaliada emseparado nem encarada como um diagnóstico ou mesmo uma doença.O exame manual da temperatura externa deve ser executado aplicando-se o dorso das mãossobre diferentes áreas da superfície corporal do animal, dando especial atenção à regiãoabdominal e às extremidades. O dorso da mão é mais sensível a variações térmicas que apalma da mão. Por meio desse procedimento, é possível ter ideia da temperatura cutânea doanimal e uma estimativa de sua temperatura interna. A palpação da região abdominal éimportante para a constatação de hipertermia, enquanto a palpação das extremidades do animalé mais adequada para a constatação de hipotermia. Além de esse tipo de avaliação sersubjetivo, alguns fatores podem prejudicar o correto julgamento da temperatura real do animal,tais como: Temperatura da mão do examinador: em dias com temperatura muito baixa, a mão149■■■do examinador poderá, também, estar muito fria e, assim, o animal pode parecer mais quenteque a realidade Temperatura da pele do animal: a temperatura cutânea, ao contrário datemperatura central, aumenta e diminui de acordo com a temperatura ambiente. Assim, se oanimal em exame está ou ficou muito tempo sob a ação dos raios solares, em horários de pico,sua pele certamente estará com a temperatura bem mais elevada que a real. Assim, éimportante que a aferição da temperatura interna dos animais domésticos seja feita obedecendoa alguns preceitos, pela utilização dos termômetros clínicos (Figura 4.19).É necessário que alguns procedimentos sejam obedecidos para que se tenha uma aferiçãoadequada da temperatura retal: Realizar a contenção adequada do animal. É necessáriamaior atenção para animais inquietos e hostis, visto que os termômetros de mercúrio podem sequebrar dentro da mucosa retal durante um movimento abrupto ou uma tentativa de defesaAntes da introdução do termômetro, verificar se a coluna de mercúrio está em seu nívelinferior. Caso contrário, deve-se baixá-la. Os termômetros clínicos de mercúrio (Figura 4.20)são caracterizados como termômetrosde máxima, pois, pouco acima do bulbo, apresentam umaconstrição na sua coluna, o que impede, a não ser propositadamente, o retorno do mercúrio aobulbo. Atualmente, os termômetros de mercúrio estão pouco a pouco sendo substituídos pelosdigitais, mais sensíveis à aferição, contudo, de maior custo. Os termômetros digitais, quandointroduzidos adequadamente no reto, conseguem indicar, em poucos segundos, por meio de umaviso sonoro, quando a temperatura alcançou o seu ponto máximo. Além disso, não apresentamrisco de quebrarem dentro do reto e causarem danos à sua mucosa. No entanto, algunstermômetros digitais, por serem muito flexíveis em sua extremidade, impedem, eventualmente,o adequado contato entre o bulbo e a mucosa retal, mesmo quando são corretamente desviadosem sentido lateral, o que leva à obtenção de uma temperatura irreal. Preferencialmente, quandonão estiver sendo utilizado, o termômetro deve ser conservado em solução antisséptica(álcool absoluto ou álcool iodado) e limpo, antes de se iniciar a medição. Guarde-o emambiente fresco, pois, se mantido em temperatura ambiental elevada, o bulbo se romperá,eliminando o mercúrio e contaminando, subsequentemente, o local de exame Figura 4.19 Aferição da temperatura retal em um equino: não se esquecer de abaixar a cauda.150■■■■■Figura 4.20 Termômetro clínico de mercúrio.Antes da introdução do termômetro, lubrifica-se a extremidade (bulbo) com vaselina ousimilar (óleo mineral, pomadas hidratantes), principalmente ao realizar aferição empequenos animais. Deve-se introduzir 1/3 do termômetro, de preferência por meio demovimentos giratórios no esfíncter anal, deslocando-o depois, lateralmente, para que omesmo se mantenha em contato com a mucosa retal; caso contrário, o termômetro ficarácontido dentro da massa fecal, o que elevará a temperatura, devido à intensa atividadebacteriana. Se houver um movimento peristáltico expulsivo, para que seja realizada novaaferição, é necessário aguardar um pouco após a defecação ter sido finalizada. O tempopara a medição varia entre 1 e 2 min. Para melhor segurança, execute duas medições nomesmo animal e, quando houver dúvida na temperatura obtida, verifique a temperatura deoutros animais do mesmo porte que se apresentem clinicamente normais, para melhorcomparação A temperatura interna pode ser aferida em várias regiões do corpo. Atemperatura retal é a mais realizada, mas se o animal apresentar um tumor ou umainflamação no reto (proctite), por exemplo, a vulva pode ser o local preferencial. Emmachos, o prepúcio é outra opção para se aferir a temperatura. No entanto, em ambos oslocais, os valores serão inferiores àqueles obtidos no reto.As temperaturas das espécies assim relacionadas são válidas apenas para animais em repousoe mantidos em ambientes com boa ventilação, temperatura e umidade moderadas (verificarvalores no início deste capítulo, em parâmetros vitais). Como regra geral, quanto menor aespécie animal, maior será sua temperatura, em decorrência da variação da taxa metabólica.Fêmeas gestantes também apresentam temperaturas maiores que os animais não prenhes.Características de um bom termômetroSensibilidade: os de mercúrio apresentam coluna capilar delgada, o que, às vezes, dificultaa leitura; os termômetros digitais são mais sensíveis Precisão: determinar a temperaturareal com pequena margem de erro Rapidez: alcançar a temperatura real em pouco tempo(máximo de 2 min). Os termômetros digitais determinam a temperatura em menor tempo.Causas de erro151■■■■■■Os principais erros de aferição da temperatura corporal observados na rotina veterináriasão causados por: Defecação e enema recente Introdução pouco profunda do termômetro noreto Pouco contato do bulbo com a parede do reto ou contato da mão do examinador com obulbo Penetração de ar no reto (p. ex., ao deixar a cauda erguida) Processo inflamatórioretal (proctite) Tempo de permanência inadequado do termômetro no reto.Glossário semiológicoEnema (clister): administração de líquidos pelo reto, para fim terapêutico ou diagnóstico.Fatores fisiológicos × temperatura corporal■ Variação nictemeral (circadiana). Durante 24 h, em todos os animais domésticos, sãoobservadas variações de temperatura corporal denominadas nictemerais (do grego núks: noite;himeral: dia). Verifica-se, em animais que se apresentam ativos durante o dia, que atemperatura interna decresce a partir da noite até o amanhecer, alcançando, pela manhã, atemperatura mínima, e chegando ao seu valor máximo à tarde. Os animais que são ativosdurante a noite apresentam variação de temperatura inversa. A variação entre as temperaturasmatinais e vespertinas pode ser entre 0,5 e 1,5°C.■ Ingestão de alimentos. Em virtude do aumento do metabolismo basal dos indivíduos (maioratividade das glândulas digestivas) e dos movimentos mastigatórios, a temperatura pode sercerca de 1 a 9 décimos acima do normal após a ingestão de alimentos.■ Ingestão de água fria. Se ingerida em grandes quantidades, promove redução que varia de0,25 até 1°C. Pode ser observada com mais frequência em equinos.■ Idade. Quanto mais jovem o animal, mais elevada é a sua temperatura interna, em virtude deo centro termorregulador não estar completamente desenvolvido e pelo elevado metabolismoque esses animais apresentam.■ Sexo. Fêmeas no cio e em gestação apresentam temperatura mais elevada.■ Gestação. No terço final da gestação, pode ocorrer diminuição de até 0,5°C nas 24 a 48 hantecedentes ao parto, acompanhada, posteriormente, de discreta elevação da temperaturadurante a parturição, em virtude das contrações musculares e uterina.■ Estado nutricional. Animais desnutridos tendem a apresentar temperatura discretamentemenor, em virtude da diminuição do metabolismo basal. Em geral, é observada em animaisneonatos (particularmente cordeiros), privados da ingestão de colostro ou leite, nascidos emépocas frias.■ Tosquia. Em decorrência da irritação, determina aumento da temperatura em até 2°C, quetende a cair ainda no primeiro dia.152■■■■■■■■ Temperatura ambiental. Mudanças bruscas e acentuadas da temperatura externa sãoacompanhadas por alterações na temperatura interna dos animais. Equinos em ambientesquentes podem ter variações de até 2°C; se observado o inverso, a temperatura esfria. Osbanhos frios fazem a temperatura interna dos ovinos diminuir até 1,7°C nas primeiras 12 h.■ Esforços físicos. Elevam a temperatura de maneira significativa. O retorno ao normalpoderá ocorrer entre 20 e 120 min, conforme a intensidade do esforço. Quando o exercíciofísico é realizado no frio ou em condições ambientais brandas, os mecanismostermorreguladores mantêm a temperatura corporal dentro de variações satisfatórias. Contudo,quando o animal é incentivado a se exercitar em ambientes com temperaturas elevadas, acapacidade para a perda de calor é muito prejudicada, fazendo com que a temperatura se eleveem até 2,5°C. O exercício prolongado conduz a hipertermia grave e prejuízos no desempenhofísico.Glossário termométricoNormotermiaOcorre quando os valores da temperatura corporal do animal encontram-se dentro doslimites estabelecidos para espécie.HipertermiaConsiste, basicamente, na elevação da temperatura corporal, sem que haja, no entanto,alteração no termostato hipotalâmico. Ocorre maior produção de calor, sem que haja aumentocorrespondente em sua perda (Quadro 4.9). O termo hipertermia é usado com frequência paracaracterizar alterações de origem não inflamatória. Assim, se administrarmos antipirético aopaciente, o mesmo não terá qualquer efeito sobre a hipertermia, visto que o termostato não seencontra alterado. A hipertermia é um sinal de febre, mas não indica, necessariamente, febre oualgum estado patológico. De todos os animais domésticos, bovinos e ovinos parecem ser osque melhor se adaptam às elevadas temperaturas ambientais; a abertura da cavidade bucal e asudorese fazem com que esses animais consigam suportar temperaturasde até 43°C. Os cães,em virtude de sua efetiva ofegação, suportam melhor as temperaturas elevadas que os gatos,mas correm risco de colapso quando a temperatura retal alcança 41°C. Os animaisdesidratados são mais propensos à hipertermia, pois a perda dos fluidos teciduais portranspiração ou sudorese estará reduzida.Quadro 4.9 Principais causas de hipertermia.Temperatura ambiente e umidade do ar elevadas Exercício Convulsões Desidratação Pelos ou lã em excesso ObesidadeConfinamento e/ou transporte sem ventilação adequada153■■■A hipertermia pode ser: (1) de retenção de calor; (2) de esforço; e (3) mista.A hipertermia por retenção de calor ocorre quando a irradiação e a condução de calorestão reduzidas com relação à sua produção; costuma ser verificada em ambientes quentes esem ventilação (transporte de animais em caminhões fechados, animais estabulados). Éextremamente difícil para um animal perder calor quando mantido em clima quente e úmido,porque não ocorre resfriamento corporal por evaporação com eficácia. Existem outros efeitosdanosos aos animais recém-nascidos submetidos a uma temperatura ambiente elevada. Comoos animais neonatos produzem, proporcionalmente, mais suor por quilo de peso emcomparação com os adultos, isso pode fazer com que fiquem desidratados, tornando-osapáticos e desinteressados em mamar. Um ambiente ventilado e com baixa umidade podeauxiliar a perda de calor corporal; ao passo que um ambiente com pouca ventilação e comumidade relativa elevada pode dificultar a perda de calor pela sudorese. Exercícios físicosextenuantes realizados nessas condições também podem resultar em aumento perigoso natemperatura corporal. Do mesmo modo, quando os cães ficam fechados em carros mantidos aosol, sua ofegação satura o ambiente com vapor de água, impossibilitando a perda adicional decalor. A hipertermia de esforço é causada por trabalho muscular exaustivo, que promoveaumento mais acentuado de calor, sem que haja, naquele momento, perda correspondente. Ahipertermia mista é observada quando as hipertermias de retenção e de esforço ocorrem aomesmo tempo. Se a termogênese (produção de calor) aumenta e a termólise (perda de calor)permanece normal, haverá hipertermia por produção de calor; se a termogênese permanececonstante ou inalterada e a termólise é insuficiente, haverá hipertermia por retenção de calor.O corpo utiliza-se de vários mecanismos para dissipar o excesso de calor produzido earmazenado. A perda de calor ocorre principalmente no nível dos pulmões e da pele, ambosextremamente irrigados pelo sangue. No sistema respiratório, tem importância o mecanismo deevaporação, dado que o ar expirado, além de aquecido, é eliminado com alto teor de umidade.Na pele, a perda de calor é obtida por meio de quatro mecanismos: Irradiação: resulta natransferência direta de calor por ondas eletromagnéticas (raios térmicos) para o meio ambientemais frio Evaporação: consiste na transformação da água do estado líquido para o estadogasoso por superfície cutânea, vias respiratórias superiores e mucosas. A importância relativados diferentes modos de perda de calor por evaporação nos animais domésticos varia. Nosequinos e bovinos, a sudorese é o principal modo de perda de calor por evaporação. Osequinos, por exemplo, quando submetidos ao exercício árduo (enduro/corrida), podem perdercerca de 10 a 15 /h de suor. Os ovinos e os cães dependem muito do ofego para liberaremcalor. No animal ofegante, o ingurgitamento das mucosas respiratória e oral e o aumento dasalivação acentuam a perda de calor pela evaporação. Mesmo nos animais que não ofegam,como os equinos, a perda de calor evaporativo pelo sistema respiratório provavelmenteaumenta durante o exercício prolongado Condução: a perda de calor ocorre por contato diretocom o ambiente, tais como pisos, paredes e equipamentos. Como os animais habitualmente nãopermanecem em superfícies frias por longos períodos, a condução não costuma ser uma154■maneira significativa de perda de calor Convecção: é o processo de perda de calor para o arou a água junto à superfície cutânea. Os animais jovens ou pequenos deixados em um lugar friopodem perder calor rapidamente por esse processo e devem ser protegidos de tais situações.FebreA febre (ou pirexia) é a elevação da temperatura corporal acima de um ponto crítico, eocorre em decorrência do aparecimento de algumas doenças, sendo, talvez, o mais antigo e omais universalmente conhecido sinal de doença. Para os leigos, ela é considerada como umadoença e, antigamente, era o principal fator a ser tratado. Atualmente, considera-se a febrecomo indicativo de alguma doença subjacente que, por apresentar várias origens, deve serinterpretada juntamente com outros resultados obtidos no exame do paciente. É evidente que,na maioria das doenças, a febre é benéfica, visto que a temperatura corporal elevada estimulaa formação de anticorpos e outras reações de defesa e impede, de certo modo, a multiplicaçãoexcessiva de alguns microrganismos. Contudo, na maioria das vezes, os seus efeitos são maisnocivos que benéficos, visto que, por exemplo, o aumento da velocidade de todos os processosmetabólicos (em até 50%) causa rápida depleção do glicogênio hepático e aumento dautilização da proteína endógena, como energia, acentuando a perda de peso, além de asudorese agravar a perda de líquidos e de eletrólitos, resultando em desidratação edesequilíbrio eletrolítico graves. Quando a temperatura corporal ultrapassa 42,5°C, a funçãocelular fica seriamente prejudicada e há perda de consciência.Patogênese da febreVários microrganismos – vírus, bactérias, fungos, protozoários – e antígenos podemproduzir febre, sendo chamados de pirógenos exógenos. O pirógeno exógeno causa febre porprecipitar a liberação de citocinas ou de pirógenos endógenos (interleucinas-1 e 6) que sãoarmazenados e liberados pelos leucócitos, macrófagos, monócitos e células de Kupffer, damedula óssea, pulmão, fígado e baço, os quais alteram o ponto fixo do centro termorreguladorno hipotálamo. O pirógeno endógeno parece induzir a liberação de algumas substânciasintermediárias (prostaglandina E2 e monoaminas) que, então, agiriam diretamente na área pré-óptica do hipotálamo, alterando o termostato e aumentando seu ponto fixo de temperatura. Duashipóteses são indicadas para o envolvimento da prostaglandina E2: (1) o pirógeno endógenoestimula a liberação do ácido araquidônico com subsequente síntese de prostaglandina,alterando o ponto de equilíbrio do centro termorregulador; (2) o efeito do ácidoacetilsalicílico e flunixino, por exemplo, que são fármacos bloqueadores da ciclo-oxigenase, éexercido diretamente sobre o hipotálamo, inibindo a liberação de prostaglandina e/ou de seusprecursores.A febre pode originar-se de várias causas, dentre as quais se destacam: (1) febre de origemséptica; (2) febre asséptica; e (3) febre neurogênica.155■■■■■■■Febre séptica: como o próprio nome sugere, está relacionada com um processo infeccioso;é produzida por substâncias pirogênicas de origem microbiana. O processo infecciosopode ser localizado (abscesso, empiema – pus em uma cavidade, um órgão oco ou emalgum espaço do organismo) ou generalizado, como nos casos de septicemia. As doençasinfecciosas constituem a causa mais frequente de elevação da temperatura, em todas asfaixas etárias. Geralmente, quanto o paciente está febril, pensa-se logo em infecção.Embora esse tipo de pensamento seja, até certo ponto, correto, na maioria das vezes, énecessário considerar que inúmeras doenças não infecciosas também podem produzirfebre, ao passo que, em algumas doenças infecciosas, a febre pode não ocorrer ou ser depouca intensidade (botulismo, tétano) Febre asséptica: não está relacionada com aocorrência de infecções e é causada por agentes físicos (queimaduras), mecânicos(traumas) ou químicos (vacinação, alergia, anafilaxia de origem medicamentosa). A febreinduzida por fármacos é relativamente comum,peloclínico a partir do seu exame Não existem sintomas em medicina veterinária, tendo em vistaque os animais não expressam verbalmente o que sentem. Para os seguidores dessa corrente,todas as manifestações objetivadas pelo paciente e obtidas por intermédio dos métodos deavaliação clínica são simplesmente sinais.Obviamente, este tipo de discussão desperta dúvidas não apenas nos alunos de graduação,mas também nos profissionais, visto que a maioria utiliza os termos sintoma e sinal comosinônimos na rotina prática, sem atender a qualquer linha de pensamento anteriormentedescrita. Uma padronização dos mais variados termos médicos pelas diferentes escolastornaria as várias denominações mais facilmente entendidas e aceitas.Glossário semiológicoSaú​de: estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais estão em situaçãonormal; estado do que é sadio ou são.O reconhecimento correto e oportuno das enfermidades, com o objetivo de adotar as21■◦◦◦■◦◦◦medidas adequadas de tratamento, depende da percepção dos sintomas. Nesse sentido, énecessário considerar as mais variadas facetas que apresentam, sabendo que um único fatorpode culminar no aparecimento de diferentes sintomas e, de modo inverso, um determinadosintoma pode se manifestar em decorrência das mais variadas causas. Diversos tipos declassificação de sintomas são descritos na literatura, dentre os quais se destacam: (1) sintomaslocais; (2) gerais; (3) principais; e (4) patognomônicos.Glossário semiológicoDoença: evento biológico caracterizado por alterações anatômicas, fisiológicas ou bioquí​‐micas, isoladas ou associadas.Os sintomas locais são assim denominados quando as manifestações patológicas aparecemclaramente circunscritas e em estreita relação com o órgão envolvido (claudicação em casosde artrite séptica interfalângica distal; hiperemia da conjuntiva palpebral por irritação). Ossintomas gerais são manifestações patológicas resultantes do comprometimento orgânico comoum todo (endotoxemia) ou por envolvimento de um órgão ou de um determinado sistema,levando, consequentemente, a prejuízos de outras funções do organismo (neoplasia mamáriacom posterior metástase para pulmões). Os sintomas principais, por sua vez, fornecemsubsídios sobre o provável sistema orgânico envolvido (dispneia nas afecções pulmonares;alterações comportamentais por envolvimento do sistema nervoso). Existem, ainda, oschamados sintomas patognomônicosou únicos, os quais somente pertencem ou representamuma determinada enfermidade. Em medicina veterinária, se existem, são extremamente raros.Um exemplo descrito como clássico é a protrusão da terceira pálpebra em equinos, nos casosde tétano. Os sintomas podem ser classificados: Quanto à evolução: Iniciais: são osprimeiros sintomas observados ou os sintomas reveladores da doença Tardios: quandoaparecem no período de plena estabilização ou declínio da enfermidade Residuais: quando severifica aparente recuperação do animal, como as mioclonias que ocorrem em alguns casos decinomose Quanto ao mecanismo de produção: Anatômicos: dizem respeito à alteração doformato de um órgão ou tecido (esplenomegalia, hepatomegalia) Funcionais: estãorelacionados com a alteração na função dos órgãos (claudicação) Reflexos: são chamados,também, de sintomas distantes, por serem originados longe da área em que o principal sintomaaparece (sudorese em casos de cólicas; taquipneia em caso de uremia; icterícia nas hepatites).SíndromeNa era moderna, síndrome (do grego syndromé = que correm juntos) é o conjunto desintomas clínicos, de múltiplas causas e que afetam diversos sistemas; quando adequadamentereconhecidos e considerados em conjunto, caracterizam, por vezes, determinada enfermidadeou lesão (síndrome de Schiff-Sherrington, síndrome cólica). O reconhecimento de uma22síndrome constitui o diagnóstico sindrômico; contudo, em algumas situações, a síndrome nãorevela a entidade mórbida, embora seja de fundamental importância na identificação dadoença, pois reduz as possibilidades diagnósticas e orienta as investigações futuras. A febre,considerada a síndrome mais antiga e conhecida no universo médico, ocorre no carbúnculohemático, na aftosa, na cinomose; sua ocorrência, por si só, não caracteriza nenhuma dessasenfermidades, mas é de grande importância para o diagnóstico das mesmas. Na verdade, afebre é um conjunto de sintomas, visto que, em sua decorrência, ocorre ressecamento da boca,aumento da frequência respiratória e cardíaca, perda parcial de apetite, oligúria, dentre outros,sendo a elevação de temperatura (hipertermia) o sintoma preponderante.DiagnósticoA maioria dos erros médicos não se deve a falhas de raciocínio sobre fatos bem avaliados,mas de raciocínio bem conduzido, porém sobre fatos mal observados. (Pascal – século XVII)Pela observação cuidadosa dos enfermos, muitas doenças tornaram-se conhecidas por seussintomas e por sua evolução, antes que suas causas fossem identificadas. Dessa maneira, surgiua possibilidade do diagnóstico (do grego diágnōsis = ato de discernir, de conhecer), ou seja,de reconhecer uma dada enfermidade por suas manifestações clínicas, bem como de prever asua evolução, ou melhor, o seu prognóstico. Para o clínico, cada diagnóstico representa umdesafio a ser vencido; para tanto, ele deve identificar, distinguir e particularizar umdeterminado estado de enfermidade.O reconhecimento de uma doença com base nos dados obtidos na anamnese, no exame físicoe/ou exames complementares constitui o diagnóstico nosológico ou clínico, sendo, na verdade,a conclusão a que o clínico chega sobre a doença do animal (p. ex., pneumonia, tétano, raiva).Não são incomuns os casos em que, após avaliar o animal, em caso de suspeita de determinadaenfermidade, o próximo passo seja a realização de um procedimento medicamentoso e, sehouver resposta favorável, fecha-se o diagnóstico. Tal procedimento é denominado diagnósticoterapêutico (p. ex., animal magro, pelos eriçados, deprimido, mucosas pálidas: vermífugo).Determinadas doenças produzem modificações anatômicas que podem ser encontradas noexame macroscópico dos órgãos, tornando possível estabelecer o diagnóstico anatômico, noqual se especifica o local e o tipo de lesão (p. ex., artrite interfalângica distal, fraturacominutiva do fêmur, lesão da válvula tricúspide). A descoberta dos microrganismos porPasteur, o melhor conhecimento dos processos bioquímicos e metabólicos, a descoberta doshormônios e das vitaminas, o progresso da imunologia, dentre muitas outras conquistas,culminaram com a identificação das causas de muitas doenças, o que possibilitou o diagnósticoetiológico, que nada mais é que a conclusão do clínico sobre o fator determinante da doença(p. ex., botulismo: Clostridium botulinum; tétano:Clostridium tetani). Ao mesmo tempo, autilização cada vez mais frequente dos microscópios no estudo dos tecidos tornou possível odiagnóstico histopatológico das lesões. Por sua vez, o exame macro e/ou microscópico de23■■■■■peças cirúrgicas, biopsias ou o exame post mortem, englobando os diagnósticos anatômico ehistopatológico, constitui o diagnóstico anatomopatológico. A utilização rotineira dos raios Xcomo auxiliar nas rotinas clínica e cirúrgica deu origem ao diagnóstico radiológico. Assim,cada método novo de exame que foi ou vai sendo introduzido na prática médica conduz a novostipos de diagnóstico. Atualmente, fala-se correntemente em diagnóstico laboratorial,sorológico, eletrocardiográfico, endoscópico, dentre outros. Contudo, esses diagnósticos daera moderna nada mais são que meios auxiliares de exame clínico, visto que devem serprecedidos e solicitados para uma suspeita inicialmente formulada ou quando as hipótesesdiagnósticas já foram preestabelecidas. Não se deve ter a pretensão de que a suspeita clínicavenha a se encaixar em um único tipo de diagnóstico. Ao contrário, em muitos casos, épossível o estabelecimento de todos ou da maior parte dos diagnósticos anteriormentemas tardiamente pensada, principalmentenos casos de antibioticoterapia prolongada (anfotericina B, ampicilina). Contudo, antes deconsiderar o envolvimento de determinado fármaco medicamentoso, é necessário pensar seestá havendo resistência do agente microbiano ao medicamento utilizado ou se o mesmoestá sendo administrado em subdosagem. A febre por fármacos ocorre mais frequentementepor hipersensibilidade mediada por anticorpos. Nesse caso, os leucócitos, após fagocitosedo complexo anticorpo-fármaco, liberam os pirógenos endógenos. A utilização deantibióticos nos processos febris deve ser feita após um exame detalhado do paciente e alocalização do processo patológico ou o reconhecimento do processo mórbido, para quenão venha a interferir no estabelecimento do diagnóstico Febre neurogênica: ocorre, emgeral, como resultado de convulsões e contrações musculares (epilepsia, compressão dohipotálamo por neoplasias). O traumatismo da medula espinal, especialmente no nível deregião cervical, produz febre de origem irregular, pelo fato de provavelmente afetar as viassensitivas e efetoras do hipotálamo.Por que a febre é considerada uma síndrome?Apresenta, além da elevação da temperatura, as seguintes alterações: Mucosas: congestãode mucosas (vasodilatação). Mucosas secas, sem brilho, em uma tentativa de reter água Pele efocinhos: pele seca e sem brilho, focinho seco Sistema circulatório: taquicardia; aumento de10 a 15 batimentos cardíacos/min, para cada grau elevado. É possível ouvir sopros cardíacosfuncionais em virtude da rápida passagem do sangue pelas válvulas Sistema respiratório:taquipneia; é a resposta do organismo com duplo objetivo: (1) perda de calor pela respiração e(2) oferta de maior volume de oxigênio às células e aos tecidos, agora mais necessitados, emvirtude das combustões orgânicas e eliminação de CO2, pelo aumento do metabolismo. Namaioria das espécies, quando a temperatura retal chega a 41°C, a dispneia é acentuada,acompanhada de convulsões e, posteriormente, coma. A morte pode ser observada em animaiscom temperatura variando entre 41,5 e 42,5°C156■■■■■■■■■■Sistema digestório: defecação reduzida, desde que a causa da febre não tenha origemdigestiva; polidipsia compensatória Sistema urinário: oligúria Sistema nervoso: animaldeprimido.O episódio da febre pode ser dividido em três fases: Ascensão ou de aparecimento(stadium incrementi): a fase inicial do aumento progressivo da temperatura. Na maioria dasvezes, corresponde ao período de invasão do agente mórbido. Quando o ponto fixo do centrotermorregulador aumenta e alcança um nível acima do normal, todos os mecanismos para aelevação da temperatura corporal são ativados, incluindo a conservação de calor e o aumentode sua produção. O corpo se ajusta como se aquela fosse a sua verdadeira temperatura. Comisso, ocorre vasoconstrição periférica e o animal demonstra frio e tremores Acme (“fastígio”):quando a temperatura alcança seu limite máximo, determinando, até certo ponto, aestabilização térmica; os tremores desaparecem Defervescência (stadium decrementi):quando ocorre o declínio da temperatura. É possível observar decréscimo por lise (queda lentae progressiva da temperatura/pode demorar alguns dias) ou por crise (a temperatura retorna aonormal em poucas horas).Tipos de febreExistem vários tipos de febre descritos em medicina humana, mas grande parte não seencaixa nos perfis febris dos animais domésticos. De maneira geral, ocorrem os seguintes:Simples ou típica:acompanha os três estágios previamente descritos, com a temperaturapermanecendo elevada, mas flutuando dentro de pequenos limites (até 1°C). A temperaturapermanece alta por vários dias, podendo cair em virtude da recuperação ou da morte do animalRemitente: a temperatura permanece elevada durante grande parte do dia (geralmente maiorque 1°C), caindo em intervalos de tempo curtos e irregulares, sem voltar aos valores normaisIntermitente: os períodos de pirexia perduram por um ou vários dias, sendo intercalados porperíodos normotérmicos ou mesmo hipotérmicos Atípica: apresenta curso irregular, às vezescom grandes oscilações de temperatura em um mesmo dia. Nos casos de adenite equina, porexemplo, a febre pode apresentar um padrão bifásico e, em outras, pode haver quatro ou cincopicos febris, com ou sem períodos de apirexia, em um mesmo dia (septicemias, processossupurativos).Intensidade do processo febrilDe acordo com o grau de elevação da temperatura, a febre pode ser classificada em: (1)febrícula; (2) medianamente alta; (3), alta; e (4) muito alta, como demonstrado em algumasespécies (Quadro 4.10).Em todos os casos, o retorno da temperatura deve ser acompanhado pela normalização dopulso ou da frequência cardíaca, visto que se trata de um excelente parâmetro para avaliar aevolução do processo febril. Se a queda da temperatura for acompanhada pela diminuição do157■■pulso e da frequência respiratória, esse tipo de declínio tem significado favorável, pois conduzà melhora do estado geral do animal. Caso ocorra diminuição da temperatura para os limitesnormais, mas o pulso e a frequência respiratória permaneçam elevados, isso indica colapsocirculatório, com prognóstico reservado. No entanto, nos casos em que a temperatura cai e opulso sobe (colapso álgido), o prognóstico é desfavorável (ruim) e é prenúncio de morte.Quadro 4.10 Classificação da febre de acordo com o grau de elevação da temperatura.Tipo Equinos Bovinos CãesFebrícula 38 a 39°C 39,5 a 40°C 39,3 a 40°CFebre mediana 39,1 a 40°C 40,1 a 41°C 40,1 a 41°CFebre alta 40,1 a 41°C 41,1 a 42°C 41 a 41,5°CFebre muito alta > 41°C > 42°C > 41,5°CHipotermiaÉ o decréscimo da temperatura interna abaixo dos níveis de referência, que ocorre porperda excessiva de calor ou por produção insuficiente, bem como pela introdução excessiva detoxinas, as quais paralisam a regulação térmica central. Assim, nas septicemias e gastrenteritesgraves, ou mesmo em casos de rupturas gástricas ou entéricas com absorção rápida de toxinasbacterianas, pode ocorrer hipotermia e colapso circulatório. Além disso, pode ser vista apósum período de febre muito alta, como consequência de colapso, falha circulatória aguda,hemorragias graves ou simplesmente devido a um período prolongado de inanição. Os animaisneonatos são particularmente suscetíveis às hipotermias ambiental e nutricional; isso é maisfacilmente observado quando o nascimento acontece em épocas frias e a ingestão de colostroe/ou de leite é demorada ou quando não é realizada. Os bezerros e os potros suportam melhor ahipotermia causada por inanição e/ou ambientes frios que os leitões. A hipotermia é a maiorcausa de óbito de ovinos na Inglaterra, em virtude da hipoglicemia causada pela não ingestãode colostro. O risco de morte em animais com hipotermia varia de espécie para espécie.Finalizado o exame físico geral, deve-se fazer um breve resumo das conclusões relativas àsinformações obtidas durante a anamnese, na avaliação da postura, do comportamento, doestado nutricional, da condição física, das frequências respiratória e cardíaca, dascaracterísticas dos linfonodos e da coloração de mucosas, bem como da temperatura retal,respondendo a duas perguntas básicas iniciais: Como está a saúde geral do animal (leve,moderada ou gravemente alterada)?O provável local da doença é a pele, o tecido subcutâneo, o sistema linfático, o sistemacardíaco, o sistema respiratório, o sistema digestório, o sistema geniturinário, o sistemalocomotor ou o sistema nervoso central?158BibliografiaBRAZ, M.B. Semiologia médica animal. 2. ed. v. 2., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1982. 725 p.CALDAS, E.M. Propedêutica clínica em medicina veterinária. 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Na verdade, em animais pecuários, a referida especialidade ainda é área quecaminha a passos lentos. Na perinatologia humana, por exemplo, consegue-se, com galhardia,não somente a sobrevivência de pacientes de alto risco, mas também a quase certeza de que osmesmos terão, no futuro, qualidade de vida satisfatória. Atualmente, crianças nascidasprematuras, de mães com 6 meses de gestação, e pesando cerca de 600 g, geralmenteconseguem sobreviver sem qualquer complicação, fato improvável há alguns anos. Naveterinária, em contrapartida, cordeiros que nascem 6 dias antes da data prevista para o partoapresentam risco enorme de morrerem antes das 24 h de vida. Outro fato comum e preocupanteé a extrapolação de dados clínicos obtidos em cavalos e bovinos adultos, para potros, bezerrose recém-nascidos, os quais, indiscutivelmente, apresentam fisiologia ímpar, pouco comparávelaos animais de categorias etárias superiores. Por exemplo, os recém-nascidos ruminantes eequídeos nascem agamaglobulinêmicos, dependentes da ingestão de colostro em quantidade equalidade satisfatórias, assim como necessitam de carboidratos prontamente disponíveis paraprodução de energia, o que os auxiliará na sua relativa incapacidade de manutenção datemperatura corpórea diante das oscilações térmicas do meio ambiente.O ramo da medicina especializado em recém-nascidos é designado pelo termoneonatologia, que significa ciência que estuda o neonato. Apesar de ser vocábulo consagradopelo uso, deve-se evitar a palavra neonato, por ser híbrida, isto é, composta de um termo deorigem grega (neo) e outro originário do latim (nato). Contudo, alguns hibridismos, apesar denão recomendados por bons gramáticos, estão consagrados em nossa língua e não há comoextingui-los; no entanto, podem ser substituídos, sempre que possível, por palavras mais bemformadas. Nesse caso, recém-nascido, composto de elementos latinos, é melhor termo queneonato.Em geral, a fase de recém-nascido refere-se ao período que se estende desde o momento donascimento até 28 dias pós-nascimento (p.n.) para bezerros, cabritos, cordeiros e potros.Todavia, é razoável pensar que o referido período deva estar correlacionado, fisiologicamente,161■■■■ao tempo em que esses animais dependem exclusivamente da proteção imune colostral para amanutenção de sua saúde, antes que haja o início da produção endógena de imunoglobulinas,ou seja, ao longo dos primeiros 30 dias de vida para ruminantes e potros. Neste período,ocorre particular predisposição às doenças, visto que, com a passagem da vida intra para aextrauterina, são observadas grandes exigências orgânicas naturais, como o atendimento dasfunções cardiorrespiratórias, da termorregulação, dentre outras, para a adaptação do neonato aessa nova situação, além do fato de vários órgãos ainda não terem alcançado a plenitudefuncional. A capacidade de resposta do organismo neonatal a essa atuante exigência determinase haverá adaptação ao meio extrauterino ou se serão observados desequilíbrios, em geral,apresentados por meio de doença (Quadro 5.1).É nítido o interesse que proprietários, veterinários e técnicos demonstram com os diferentesmétodos de concepção à disposição, consequentes aos avanços da biotecnologia. Contudo,ainda não são satisfatórios os cuidados e o zelo com os produtos obtidos com o uso dessasferramentas tecnológicas. O animal recém-nascido de grande porte, e anormal, costumarepresentar desafios diagnósticos e terapêuticos para o veterinário. Para que o desfecho sejabem-sucedido, é fundamental que o profissional esteja familiarizado com as peculiaridades ecom o comportamento dos animais nos seus primeiros dias de vida, bem como com osprocessos nosológicos característicos dessa categoria etária. É essencial o reconhecimento deanormalidades no início da evolução do processo patológico, o que pode ser difícil, dadas ascircunstâncias de muitos nascimentos e dos procedimentos que se seguem ao parto. Alémdisso, a utilização de mão de obra sem qualificação para o tratamento de animais com poucosdias de vida é também fator importante para a ocorrência de maior morbidade e mortalidadedos recém-nascidos, inviabilizando, indubitavelmente, o investimento despendido para aobtenção de animais de elevado valor. Contudo, condições predisponentes (estresse,desnutrição) costumam ocorrer muito antes do próprio momento do nascimento, o que podeafetar o bem-estar do feto.Apesar de não haver disponibilidade de levantamentos estatísticos sobre as taxas demortalidade em animais recém-nascidos pecuários em nossas condições de criação, acredita-se que as mesmas sejam altas, chegando a 35% do total de animais nascidos, conforme omanejo adotado. Grande parte dessas perdas ocorre durante as três primeiras semanas de vida,sendo que cerca de 70% dos animais doentes morrem no referido período. O custo dessamortalidade varia e inclui o valor do animal morto (pela sua não exploração e comercializaçãoou até mesmo em virtude da não reposição do animal no rebanho), perda do potencial genético,gastos com medicamentos e serviços veterinários.Quadro 5.1 Principais características dos recém-nascidos mamíferos.Reserva de gordura limitada (o estoque de gordura é prontamente metabolizado) Rápida utilização do seu estoque deenergia após o nascimento Pequena capacidade gliconeogênica (síntese de glicose pelo fígado) Hipo ou162■■■■■◦◦◦agamaglobulinemia (apresentam baixas concentrações ou ausência de imunoglobulinas circulantes ao nascimento)Elevada atividade da enzima renina (para precipitação da caseí​na e, consequentemente, formação de coá​gulo noestômago ou abomaso) Capacidade da lactase aumentada Elevada atividade da lipase salivar (quebra de triglicerídiosdo leite) Imaturidade intestinal Capacidade digestiva deficitária, incluindo: Baixa atividade de todas as enzimasdigestivas Baixa atividade da pepsina estomacal Limitada digestão de proteí​nas vegetaisAnamnese | História a ser verificadaNa maioria dos casos, o clínico experiente já saberá a raça, o sexo e a idade aproximada dopaciente; é necessário que ele seja detalhista o suficiente para obter informações importantespara o estabelecimento do diagnóstico e, além disso, sensato o bastante para evitar perguntasdesnecessárias. Muitas vezes, o diagnósticoprecoce e o tratamento imediato sãoindispensáveis para a sobrevivência dos animais recém-nascidos.Tipo de nascimentoPara melhor compreensão da etiopatogenia de qualquer enfermidade que ocorra na fase derecém-nascido dos animais domésticos, é necessário, primeiramente, considerar os aspectosrelativos ao desenvolvimento fetal, à maturação dos diferentes sistemas orgânicos no momentodo nascimento, particularmente do sistema imunológico; as características de placentação; otipo do parto e as modificações anatomofuncionais no neonato após o nascimento, bem como ascondições de tratamento higiênico-alimentar da mãe e do recém-nascido, e de higiene do meioambiente.O ato da parturição que resulta no nascimento ocorre com grandes modificaçõesfisiológicas para o recém-nascido, tendo em vista que deixa a vida fetal e o ambiente uterinopara ganhar a vida livre, ingressando em ambiente extremamente hostil. É o momento em que oorganismo sofre as maiores transformações e simultâneas agressões ambientais. Dentro doútero, a sua fisiologia é completamente diversa daquela do meio exterior, quando deixa umambiente extremamente protegido, confortável (adequadamente aquecido) e autossuficiente,mantido pela mãe por meio da placenta (Quadro 5.2), para sofrer todo tipo de estímulo externoapós o nascimento. Dessa maneira, a sua chegada ao meio externo requer grandes modificaçõesna fisiologia como adaptação do novo ser, bastando, como exemplo, imaginar que a suatemperatura no meio intrauterino, na maior parte das vezes, é maior que a do meio externo,principalmente se o animal nascer em lugares frios, no inverno ou sem proteção contra ventos echuvas. Tais variações podem oscilar aos extremos entre as diferentes espécies, pois háanimais que nascem relativamente protegidos (maternidades, baias etc.) e há aqueles quenascem ao relento. Em síntese, o recém-nascido deve ser maduro o suficiente para ter em seuorganismo reserva de energia de modo que, imediatamente ao nascimento, possa manter ahomeotermia e a capacidade de mamar o colostro, o mais precocemente pós-nascimento (p.n.)163■■■■■e em volume suficiente, para adquirir imunidade e substrato energético para manutenção datemperatura corpórea.Figura 5.1 A. Vaca com edema fisiológico de úbere no pré-parto imediato. B. Ovelha com depósitode gordura em região sacral antes da parição.Quadro 5.2 Importância da placenta para o feto.ProteçãoAporte de oxigênio Fornecimento de nutrientes Desenvolvimento fetal Eliminação de metabólitosRecomendaçãoAs fêmeas gestantes devem ser colocadas em ambiente de fácil visualização para que possamser constantemente observadas e, se necessário, para que haja rápido e efetivo atendimento.Durante as diferentes fases gestacionais e à parturição, o acompanhamento da mãe resultaem informações valiosas com relação a possíveis fatores de risco para os animais recém-164nascidos (Figuras 5.1 e 5.2). O descolamento precoce da placenta causa falha na circulaçãosanguínea fetal e asfixia; placenta “pequena e leve” está associada à falta de vilosidades(unidade anatômica circulatória) e placenta “grande e pesada”, às infecções bacterianas e àocorrência de edema. A insuficiência placentária, caracterizada por seu pequeno tamanho,restringe o suplemento de nutrientes para o feto, diminuindo principalmente as concentraçõesdos teores plasmáticos fetais de glicose e frutose, o que interfere no padrão de crescimentofetal (Quadro 5.2). Doenças graves que acometam as gestantes podem ser acompanhadas poranemia, hipoproteinemia e endotoxemia; além disso, podem alterar o fluxo sanguíneouteroplacentário, causando hipoxia crônica e diminuição do crescimento fetal pela ocorrênciada asfixia, que se reflete em redistribuição do fluxo sanguíneo. Cordão umbilical relativamentecurto poderá se romper antes da saída do feto e a realização de sua primeira respiração, aindana via fetal, levando ao estresse respiratório. Por outro lado, cordão umbilical longo (Figura5.3) poderá se prender em algum membro, ou mesmo no pescoço, e romper-se no interior doútero, causando hemorragia e hipoxia/anoxia fetal.Figura 5.2 Fase de expulsão do concepto em cabra. A. Em decúbito lateral. B. Em estação.As lesões traumáticas podem ocorrer durante o parto. O tórax é a região mais vulnerável àslesões; as fraturas de costelas são mais comuns em potros e podem causar perfurações nos165pulmões, coração e hemorragia interna. Além disso, há risco de fratura vertebral e de traumafísico nos membros, devido à tração externa excessiva.Nos primeiros minutos pós-parto, a interação entre a mãe e o recém-nascido (Figura 5.4) éde grande valia na identificação de um recém-nascido de risco, e serve de alerta para que omesmo seja separado e receba cuidados específicos, caso haja comportamento maternalatípico (como indiferença ou agressividade). Deve-se recolher as informações com relação aotipode concepção (cobertura natural, inseminação artificial, transferência de embriões, fertilizaçãoin vitro etc.),desenvolvimento gestacional da mãe, idade (muito jovens ou muito velhas), raça(algumas éguas da raça Árabe, por exemplo, são agressivas com os filhos; vacas de cortegeralmente apresentam melhor qualidade colostral que as raças leiteiras), número de partos(primíparas: maior rejeição materna e menor qualidade colostral), tipo de parto (eutócico oudistócico), possíveis intercorrências (utilização de hormônios, antibióticos e anti-inflamatórios, vermifugações, traumas externos e oriundos de palpações retais etc.), bem comoalgum fator desencadeante externo, como estresse, por exemplo.Figura 5.3 Cordão umbilical envolvendo o pescoço de cordeiro, prejudicando o fluxo sanguíneo.166Figura 5.4 Reconhecimento e habilidade materna em vaca (A), cabra (B) e ovelha (C e D).A facilidade do parto está relacionada positivamente com a taxa de sobrevivência derecém-nascidos ruminantes. Os partos laboriosos produzem traumas diretos ou indiretos norecém-nascido, asfixia e hemorragias intracranianas. Elevadas taxas de mortalidade embezerros de corte, entre o nascimento e o desmame, costumam ocorrer nas primeiras 96 h apóso nascimento, em decorrência de partos auxiliados. A principal sequela da distocia, a asfixiafetal, é decorrente de oclusão mecânica ou ruptura prematura do cordão umbilical dentro dapelve materna, em virtude, por exemplo, de prolongadas e intensas contrações durante o partoou de forte tracionamento obstétrico, ocasionando graves desequilíbrios acidobásicos, além daobservação mais frequente de lesões e lacerações de vulva e vagina (Figuras 5.5 e 5.6).A incompatibilidade entre o tamanho do feto e a pelve da mãe talvez seja a mais importantecausa de ocorrência de partos laboriosos, particularmente em fêmeas primíparas. Ovelhas evacas com elevado escore de condição corporal (ECC) (Figura 5.1 B) produzem fetos grandese depósito de gordura na região pélvica, o que causa estreitamento do canal do parto,predispondo à dificuldade de parição. Registros de 136.775 nascimentos de bezerrosocorridos nos EUA mostraram que a mortalidade entre nascimento e 48 h de vida é maior paramachos (7,6%) em comparação com as fêmeas (5,6%). Bezerros que sobrevivem aos partosdifíceis têm 6,6 vezes mais chances de adoecerem após o nascimento que os nascidos de partosnormais. Portanto, a ocorrência de partos distócicos costuma estar muito associada ao aumentoda morbidade e mortalidade. Também foi constatado o dobro das taxas de mortalidade em167bezerros provenientes de vacas primíparas em comparação com aquelas de multíparas. É bemprovável que esses índices estejam vinculados ao maior porte dos bezerros machos aonascimento e ao menor tamanho e diâmetro pélvico das vacas de primeira cria. Falhas docomportamento materno são relativamente comuns em fêmeas primíparas, partos gemelares outrigemelares (principalmente de vacas e éguas), em fêmeas que tiveram auxílio ao parto (partosdistócicos com realização de tração forçada ou realizaçãode cesarianas) e em fêmeas queapresentem processos dolorosos em suas tetas ou úberes (lesões, mamites).Figura 5.5 Parto laborioso em vaca. Notar permanência da vaca em decúbito lateral após tração dobezerro (C). Bezerro permanecendo por tempo prolongado em decúbito pós-parto distócico comauxílio intenso (D). (Imagens: Everton R. F. Gasparelli.) Figura 5.6 A. Laceração de vulva e vagina em vaca. (Imagem: Luiz Cláudio N. Mendes.) B.Nascimento laborioso de bezerro.168Sistema imune, imunidade passiva e importância docolostroO desenvolvimento do sistema imune dos mamíferos ocorre com o início da gestação.Assim, nos fetos ovinos e bovinos, o timo é o principal órgão linfoide a se desenvolver e estápresente aos 27 dias de gestação, alcançando o seu maior desenvolvimento na metade doperíodo gestacional, involuindo rapidamente após o nascimento. Os linfócitos B aparecem logoapós o desenvolvimento do baço e linfonodos, que ocorre entre 55 e 60 dias, respectivamente,mas os anticorpos não são praticamente encontrados até o final da vida fetal. As linhagens delinfócitos T são diferenciadas a partir dos timócitos durante a gestação e representam amaioria dos linfócitos circulantes fetais.Os sistemas de defesa orgânica compõem-se, de modo geral, por mecanismos inespecíficosou de imunidade inata, e específicos ou de imunidade adquirida. O sistema imune inatocostuma ser a primeira linha de proteção dos diferentes componentes do organismo e incluibarreiras físicas (epitélios, muco e outras barreiras naturais), fatores humorais (complemento,lisozima, lactoferrina e peroxidase) e certas respostas celulares mediadas por macrófagos,polimorfonucleares e células matadoras (natural killers). Os mediadores desse sistema nãosão antígeno-específicos e não requerem preparação imunológica. O mecanismo de imunidadeadquirida é mediado por linfócitos do tipo T, os quais, em companhia de algumas célulasacessórias (macrófagos), são responsáveis pelo reconhecimento de substâncias estranhas,respondendo a elas, produzindo fatores solúveis como interleucina e interferona, que destroemcélulas estranhas ou infectadas, e produzem anticorpos (linfócitos B). Em contraste com omecanismo inato, as defesas adquiridas são antígeno-específicas, direcionadas e mediadas poranticorpos, linfócitos T citotóxicos e citocinas produzidas durante uma resposta imune. Essaresposta adquirida constitui-se de três fases, e, conforme a experiência imunológica do animal,pode demorar até 4 semanas para ter intensidade máxima. Seu início ocorre com a fase dereconhecimento antigênico, na qual células apresentadoras de antígeno o processam e oapresentam aos linfócitos para o reconhecimento. A fase de ativação é o resultado da primeira;nela, os linfócitos proliferam em resposta aos antígenos, levando à expansão de clones delinfócitos antígeno-específicos, com amplificação da resposta imune e diferenciação de célulasque funcionam na eliminação de antígenos estranhos. A fase efetora representa o estágio emque os linfócitos ativados executam funções que levam à eliminação do antígeno pela produçãode anticorpos por linfócitos B ou das células infectadas por linfócitos T citotóxicos. Diferentessubtipos de linfócitos T apresentam funções específicas na resposta imune global. Assim, oschamados auxiliares (helper) são responsáveis pela produção e liberação de fatores queacionam ou estimulam o sistema imune, e os denominados supressores (suppressor), quedesligam ou deprimem o sistema de defesas orgânicas. O balanço entre os efeitos líquidosdesses dois subtipos de linfócitos é importante na habilidade de resposta às vacinas. Certoslinfócitos são capazes de reconhecer e destruir células que foram infectadas por vírus ou169bactérias, sendo denominados citotóxicos ou matadores (killers), e são importantes nahabilidade de o animal combater infecções intracelulares. Esses três subtipos de linfócitosfazem parte do sistema imune celular, sendo genericamente denominados de linfócitos T.Alguns fatores podem contribuir para a resposta celular não eficiente em animais recém-nascidos; elevados teores séricos de cortisol endógeno são encontrados nos primeiros dias devida dos recém-nascidos ruminantes, os quais podem inibir o exercício da função neutrofílica,além de interferirem sobre a resposta linfocitária. Adicionalmente, a utilização dedexametasona na indução do parto pode potencializar a depressão da fagocitose neutrofílica e,consequentemente, a destruição bacteriana. As condições adversas de manejo e de higiene domeio ambiente também podem influenciar; por exemplo, a deficiência proteica em bezerros éassociada à diminuição da atividade linfocítica. Deficiências de selênio, cobre, zinco evitamina E comprometem a função linfocitária e a fagocitose. Animais nascidos em épocasfrias também podem ser comprometidos, pois, na tentativa de evitar a perda de calor, o frioprovoca vasoconstrição, o que reduz a passagem de leucócitos para os tecidos periféricos.Está bem estabelecido que a proteção do recém-nascido seja adquirida da mãe por meio deanticorpos nos períodos pré e/ou pós-natal. Em virtude disso, há duas maneiras detransferência de anticorpos maternais: (1) transplacentária; e (2) por absorção intestinal. Aocontrário do cão e do gato, os quais podem receber imunização passiva ainda quando estão noútero por meio da passagem de anticorpos do sangue materno para a circulação fetal, ou seja, atransferência de imunoglobulinas pela placenta (transplacentária), o mesmo não ocorre embezerros, cordeiros, cabritos ou potros. Os recém-nascidos dessas espécies recebem proteçãoimunológica exclusivamente após o nascimento, em virtude do tipo de placenta, que nas fêmeasruminantes é classificada como sindesmocorial (sinepteliocorial) e, na égua, comoepiteliocorial, em que várias camadas de tecido separam a circulação fetal da materna, sendoimpermeáveis à passagem de anticorpos. Para proteger os animais que não recebemimunoglobulinas via placenta, a natureza desenvolveu mecanismo de absorção intestinaltemporário de macromoléculas, protegendo o neonato dos desafios externos até que o sistemaimune seja capaz de assumir, efetivamente, a sua função. Essa imunidade transferida da mãepara o recém-nascido por meio do colostro é denominada imunidade passiva colostral.O colostro é constituído de secreções acumuladas na glândula mamária nas últimas semanasde gestação, juntamente com as proteínas transferidas da circulação sanguínea materna (é o queos leigos chamam de “primeiro leite”). Quimicamente, o colostro pode ser definido como umaemulsão de gotículas de gordura e proteínas, com constituição totalmente diferente da do leite.No último mês de gestação, para a colostrogênese, ocorre aumento de receptores na glândulamamária, que reagem com as imunoglobulinas presentes no plasma circulante sob a influênciade hormônios (p. ex., estrógenos, progesterona e prolactina). Portanto, o colostro é rico em IgGe IgA, mas também contém IgM e IgE. A imunoglobulina predominante no colostro de todos osanimais domésticos é a IgG, a qual constitui 65 a 90% do conteúdo total de imunoglobulinas. AIgA e as outras imunoglobulinas tendem a ser componentes menores, porém significativos. O170colostro também é rico em linfócitos (representam de 20 a 30% das células presentes), osquais sobrevivem por até 36 h no intestino de bezerros recém-nascidos e podem penetrar naparede intestinal, alcançando os linfonodos mesentéricos.Além de conter imunoglobulinas, o colostro é uma rica fonte de nutrientes (especialmente devitaminas A, E, carotenoides) minerais, carboidratos (lactose), gordura e outras proteínas(caseína, albumina), essenciais para a manutenção das atividades metabólicas. Outroscomponentes importantes presentes no colostro são os fatores de crescimento, hormônios,citocinas e componentes bioativos com atividade antimicrobiana inespecífica, tais comolactoferrina, lisozima e lactoperoxidase.Desse modo, o colostro daprimeira ordenha deve ser fornecido o mais prontamentepossível após o nascimento e em quantidade suficiente; ou seja, em volume equivalente nomínimo a 10% (10 a 15%) do peso vivo (PV) do recém-nascido de colostro dentro dasprimeiras 12 h, dividido em duas refeições. Em se tratando de cabritos, se a artrite encefalitecaprina (AEC) for problema no rebanho, recomenda-se o aquecimento do colostro a serfornecido aos cabritos (57°C por 60 min), bem como a separação destes das suas mãesimediatamente após a parição. Após a colostragem, os cabritos podem ser alimentados (emordem decrescente de preferência na escolha) com leite caprino, substituto de leite de cabras,leite de ovelhas ou substituto de leite de ovelhas, leite de vacas e/ou substituto de leite devacas. O colostro de cabra pode ser fornecido a cordeiros, visto que dispõe de composiçãosimilar ao de ovelhas e pode conter, também, anticorpos para Clostridium sp., caso as cabrastenham sido vacinadas. Recomenda-se, contudo, que as cabras usadas para obtenção de leite ealimentação de cordeiros sejam negativas para AEC. O colostro de vacas pode ser utilizadopara alimentação de cordeiros, cabritos e potros, mas o volume requerido para alimentaçãodeve ser cerca de 20 a 40% maior, pois o colostro de vacas contém menos nutrientes que o decabras e de ovelhas.Potros órfãos, cujas mães morreram logo após o parto, devem ser cuidadosamentemonitorados. É recomendável assegurar a ingestão do colostro proveniente de outra éguarecém-parida ou de banco de colostro, caso exista na propriedade ou em haras vizinho. Éprática rotineira impregnar o recém-nascido com o odor de secreções ou excreções (urina,fluidos placentários, suor, leite) da futura mãe adotiva (ama de leite), visando a facilitar aaceitação do potro órfão e, consequentemente, a sucção espontânea de colostro e de leite. Casoisso não seja possível, pode-se usar leite de vaca ou de cabra (550 m de água ou 750 m deleite), administrado vária vezes ao dia. Algumas complementações ainda podem ser feitas, taiscomo mel (de uma a duas colheres de sopa) e carbonato de cálcio (cerca de 5 g). Contudo,existem várias formulações disponíveis em literatura especializada.Em animais fracos, o colostro deve ser fornecido por meio da passagem de sonda naso ouoroesofágica, mesmo correndo-se o risco de desvio desse colostro para os pré-estômagos e/oupulmões (Figura 5.7).A eficiência ou falência de transferência da imunidade passiva (FTIP) colostral aos recém-171nascidos pode ser verificada pela estimativa quantitativa ou qualitativa, direta ou indireta, dosteores das imunoglobulinas no sangue/soro do neonato ou no colostro. As concentraçõesséricas de imunoglobulinas estão altamente correlacionadas com as quantidades ingeridas naprimeira alimentação. Os testes de avaliação sérica para aquilatar a ocorrência de falha podemser conduzidos a qualquer momento na primeira semana de vida, de preferência no primeirodia, para efetuar a correção da falha de transferência de imunidade passiva. Vários métodosestão disponíveis para medir as concentrações de imunoglobulinas séricas; esses testes, emconjunto com normas específicas, são usados para definir se o neonato apresenta níveis imunesadequados ou se sofreu falência de transferência de imunidade passiva.Os únicos testes quantitativos que estimam diretamente a concentração sérica deimunoglobulinas (Ig) são a imunodifusão radial simples em gel de ágar e o teste de ELISA,determinações mais usadas em pesquisa, pois levam mais tempo para a realização e nãoatendem a maioria dos propósitos clínicos. Todos os outros testes, qualitativos (turvação dosulfato de zinco) ou quantitativos indiretos (proteínas totais, globulinas, gamaglobulinas eatividade da gamaglutamil transferase – GGT), estimam as concentrações séricas deimunoglobulinas após absorção colostral, pois são diretamente correlacionadas com a IgG.A medida da densidade do colostro com colostrômetro também mantém relação linear coma concentração de imunoglobulina, particularmente em animais da raça Holandesa Preta eBranca (HPB) (Figura 5.8). É importante a existência de um banco de colostro na propriedadepara utilização em casos como os de mães que, sabidamente, não possuam colostro de boaqualidade (em particular fêmeas primíparas), ou tenham, à parição, dificuldade em aceitar oupermitir a sugação de suas tetas, devido à presença de lesões e/ou processos inflamatórios emsuas estruturas mamárias (telites, edema fisiológico no pós-parto imediato, mamites etc.)(Figura 5.9).172Figura 5.7 A. Sugação natural. B. Fornecimento de colostro por meio de mamadeira. C.Fornecimento de colostro em animais débeis por sondagem nasoesofágica. D. Ingestão decolostro/leite diretamente do balde com tetos de borracha (biberão).Figura 5.8 Avaliação da qualidade colostral de vacas, quantitativa (A) e qualitativa (B), com173■■■■■utilização de colostrômetro. 1,045 mg/ℓ = boa qualidade (área em verde).Embora seja útil a identificação de valores limites para esses testes, eles devem sermantidos sob controle e seus resultados não podem ser interpretados incorretamente. Váriosestudos que examinaram a relação entre taxas de Ig no soro de animais recém-nascidos eincidência de doenças têm apresentado resultados conflitantes. Alguns estudos têmdemonstrado aumentos significativos na morbidade e mortalidade em bezerros com falência detransferência; outros, no entanto, falharam em demonstrar alta associação entre teores de Ig emorbidade. Contudo, neonatos privados de colostro sofrem significativa mortalidade, havendo,também, associação entre maiores taxas de Ig ou de proteínas e menor ocorrência de doenças ede mortalidade.Fatores adicionais devem ser considerados para o prognóstico do risco de doença ocorrer,e incluem: Higiene geral Virulência e concentração de patógenos Ambiente físico(temperatura, umidade etc.) Estado nutricional Estresses causados por transporte,manipulação, cirurgia etc.Mesmo com a possível precisão da medida de Ig em bezerros, esta não fornece garantia deproteção pelos seguintes motivos: (1) a medida da Ig não considera se os anticorpostransferidos serão protetivos contra patógenos específicos; e (2) mesmo que o sejam, nãogarante que as Ig alcancem o foco de infecção em taxas suficientes para neutralizar ospatógenos. Em outras palavras, a equação determinante da morbidade ou da mortalidadecompõe-se de outras incógnitas além daquela representada pela taxa de Ig.Entrada de novos animaisA chegada de animais de outras propriedades pode ser a principal porta de entrada de umanova doença para os recém-nascidos; eles podem ser carreadores de agentes patogênicos aosquais os recém-nascidos nativos (nascidos na propriedade), muito possivelmente, ainda nãoadquiriram proteção via colostro. É necessário que esses animais sejam isolados por períodosdeterminados para observar o aparecimento de alguma manifestação clínica indicadora dedoença.Importante consideração deve ser feita e assimilada pelos colegas e criadores sobre arelevância ou o papel dos animais recém-nascidos como incubadores e/ou disseminadoresbiológicos de agentes infecciosos, para que haja efetiva redução da mortalidade dos animaisrecém-nascidos. A importância do recém-nascido doente como fonte de infecção oumultiplicador de doenças deve ser sempre levada em consideração. Por exemplo, um bezerrocom diarreia pode contaminar e comprometer o local onde outros animais permanecem,lançando no ambiente cerca de 1010 de organismos por mililitro de fezes líquidas defecadas.Ressalta-se, ainda, que bactérias, vírus e protozoários são eliminados não somente poranimais doentes, como também por animais saudáveis e infectados, mesmo que assintomáticos.174Recém-nascidos são expostos constantemente a pequenas concentrações desses patógenos epodem ocultar e/ou apresentar sinaisbrandos de doenças; contudo, podem eliminar elevadasconcentrações de agentes infecciosos no meio ambiente, contaminando, significativamente, olocal de permanência dos outros animais.Figura 5.9 Modos de armazenamento de colostro (banco de colostro). A. Em garrafas de plástico. Be C. Em recipiente de plástico. D e E. Em sacos plásticos congelados em bandejas. Lembrar-se deanotar a data e a qualidade colostral antes do congelamento.De maneira geral, não é recomendável a entrada, em ambiente de creche ou bezerreiro, deanimais que se apresentem apáticos, com quadro diarreico e/ou respiratório (secreção nasal,tosse, dispneia), hipertrofia de linfonodos ou com problemas físicos (congênitos ou175hereditários).Local em que permanecemApós o desenvolvimento embrionário-fetal no ambiente estéril do útero, os animais recém-nascidos são lançados em ambiente rico em antígenos. Ainda que existam patógenosinfecciosos específicos que costumeiramente sejam responsáveis por doenças nos recém-nascidos, é evidente que alguns agentes infecciosos normalmente considerados não patogênicostambém possam induzir o aparecimento de doenças, se a condição imunológica do animal nãoestiver em nível adequado, de maneira que, na atualidade, dá-se importância tanto à virulênciado patógeno quanto à resistência do hospedeiro. Assim, é importante que o local de pariçãoesteja o mais limpo e seco possível.Ao colocar o recém-nascido em ambiente confortável e higiênico (p. ex., baias ventiladas,com camas de feno ou capim seco) nas primeiras 24 h de vida, diminui-se, consideravelmente,o risco de estresse e de exposição à grande variedade e quantidade de agentes causadores deproblemas entéricos. Recomenda-se a não utilização de camas constituídas de serragem demaravalha, visto que a mesma, por ser finamente particulada, pode irritar e também obstruir asvias respiratórias anteriores.Os ovinos desenvolvem forte relação materna. Caso a ovelha seja perturbada, é comum queela rejeite o cordeiro, principalmente nos primeiros dias pós-parto; a maioria das ovelhasrejeita vigorosamente qualquer tentativa de mamar por outros cordeiros. Assim, para garantir oestabelecimento do vínculo materno, deve-se, se possível, colocar a mãe e seu rebento em baiaisolada ou local tranquilo durante as primeiras 48 h pós-parto.Não menos importante é a adoção de sistema ideal de manejo, que inclui a separação dosrecém-nascidos conforme sua categoria etária, isolando, por exemplo, os que tenham até 10dias de idade daqueles com 2 a 4 semanas de vida e, esses, de animais mais velhos (acima de1 mês de vida). O contato de recém-nascidos com animais mais velhos, principalmente comaqueles que apresentem teores baixos de IgG, pode levar a alta taxa de morbidade emortalidade, pois funciona também como multiplicador de patógenos. Os animais jovens,quando são colocados junto de outros mais velhos, competem por alimento, água, sombra ecalor, tornando-se estressados, o que contribui para o desenvolvimento de infecções (Figura5.10).Comportamento ao nascimentoPara o recém-nascido, o período pós-parto imediato é sempre difícil. Na vida uterina, ofeto depende completamente da mãe para o suprimento de oxigênio, nutrientes, enzimas ehormônios; logo após o rompimento do cordão umbilical, o recém-nascido precisaimediatamente se ajustar à vida fora do útero e, rapidamente, promover a adaptação do seusistema cardiorrespiratório à situação, de crucial importância para sua sobrevivência. Em176outras palavras, o recém-nascido deverá atender a uma série de exigências orgânicas naturaisao ganhar o meio extrauterino, como aquelas que dizem respeito às funçõescardiorrespiratórias, de termorregulação, nutricionais, dentre outras. Dessa maneira, o recém-nascido precisa, por si só, assumir a respiração para oxigenação, remover as secreções, gerare manter a temperatura corpórea, levantar e procurar alimentar-se. Cada um desses processosdepende do sucesso dos outros.É de crucial importância essa adaptação ao novo ambiente (ou seja, ao meio extrauterino)imediatamente após o nascimento. O reflexo de sugação ocorre na maioria dos animais recém-nascidos ruminantes e equídeos, e manifesta-se nos primeiros 20 min p.n. Existe certo grau dedesenvolvimento motor do animal ao nascer e que é característico da espécie, o que possibilitaque o recém-nascido seja mais ágil e coordenado em seus movimentos. Assim, existem animaisque se locomovem em poucos minutos após o nascimento, mamam e conseguem acompanhar amãe ou a sua comunidade familiar (grupo mais velho ou família). Como exemplo de animaiscom boa mobilidade e agilidade ao nascer, destacam-se os caprinos, ovinos, bezerros, potros esuínos. Os recém-nascidos oriundos de partos normais apresentam o reflexo de correção daposição da cabeça quase imediatamente após o nascimento. Em geral, ficam em decúbitoesternal em segundos (potros) ou em até 3 min (recém-nascidos ruminantes), realizandotentativas para levantar-se logo em seguida (bezerros e potros entre 15 e 30 min; cordeiros ecabritos por volta de 10 a 20 min). No animal nascido com hipoxia, hipoventilado ou fraco, oinício desse comportamento neonatal normal é marcadamente retardado ou ausente. Algunsrecém-nascidos hipóxicos ou imaturos fazem esforços parecendo alertas inicialmente, maspermanecem em decúbito e desenvolvem depressão em poucas horas.177Figura 5.10 A. Superpopulação. B. Separação dos animais por categoria etária. C. Fezes diarreicascom ocorrência de sangue (hematoquezia). D. Bebedouro sujo e inadequado para consumo de água.A maioria dos potros realiza a sua primeira mamada no período de 2 h de nascidos. Potrosque não ingerem o colostro até 3 h de vida necessitam de melhor observação e provávelassistência. Em comparação com os bezerros, os cordeiros e cabritos invariavelmente sãomais rápidos para mamar. A maior parte dos bezerros leiteiros mama voluntariamente nasprimeiras 4 h de vida, enquanto os de corte succionam as tetas das suas mães na primeira horade vida p.n. Por outro lado, a maioria dos pequenos ruminantes se põe em estação em 30 min emama em suas mães nos primeiros 90 min após o nascimento. Os cordeiros e cabritos mamamcom muita frequência, de 60 a 70 vezes/dia; potros também apresentam o hábito de mamarrepetidas vezes ao longo do dia, o mesmo acontecendo com bezerros que permanecem comsuas mães. Geralmente, considera-se o recém-nascido como tendo comportamento preocupantequando ocorre demora entre 1 h (cordeiros e cabritos) e 2 h (potros e bezerros) para levantar-se. Contudo, é necessário estar ciente de que o tempo normal para o animal se posicionar emestação e realizar a primeira sugação dependerá não somente da espécie, como também daraça. Potros da raça Percheron, por exemplo, são mais vagarosos para mamar. No caso debezerros oriundos de fertilização in vitro (FIV), tem sido observada maior demora em todosesses eventos (correção da posição da cabeça, decúbito, estação e sugação), em virtude dogrande tamanho e elevado peso ao nascimento.178À primeira vista, essas informações podem parecer desnecessárias ou sem importância, masnão são. A necessidade de o recém-nascido ficar rapidamente em decúbito esternal, porexemplo, é fisiológica e serve para equilibrar as trocas gasosas, melhorando a entrada de arem ambos os pulmões e a oxigenação sanguínea, favorecendo o reequilíbrio ácido-base (poisinfluencia diretamente a ventilação e os demais mecanismos respiratórios, por promover taxasadequadas de ventilação-perfusão, em virtude de propiciar simetria na conformação torácica),além de diminuir a perda da temperatura corpórea, uma vez que o contato de todo o seu corpocom o solo pode induzir ao quadro de hipotermia, em decorrência da transferência do calorcorpóreo para o solo (perda de calor por condução). Em comparação com os animais que selevantam no período normal, aqueles que necessitam de assistência durante o parto podempermanecer apáticos por longos períodos após onascimento e tornarem-se mais expostos aospatógenos.É importante observar o recém-nascido em decúbito; é normal o potro deitar-se emdecúbito lateral, mas não os bezerros (que geralmente se deitam em decúbito esternal),podendo o fato ser indício de envolvimento do SNC. Os bezerros com cifose podem teranormalidades vertebrais congênitas (tais como hemivértebras).De modo geral, todo protocolo clínico deve incluir o exame físico geral. Nos recém-nascidos críticos, que estejam extremamente debilitados, o exame físico deve ser breve,limitado, muitas vezes, à identificação do nível de consciência, à avaliação da profundidade eda frequência respiratórias, e à mensuração da temperatura retal. Esses parâmetros sãoimportantes para a detecção de condições que requeiram intervenção imediata.Exame físico geralA abordagem emergencial dos recém-nascidos difere marcadamente daquela do pacientecrítico adulto, devido à fisiologia e aos parâmetros hemodinâmicos peculiares. Após onascimento, inicia-se um período crítico chamado período de transição, que engloba aadaptação do recém-nascido na sua passagem da vida intrauterina para a extrauterina. Nessafase, os sistemas corporais promovem ajustes fisiológicos considerados cruciais para o recém-nascido, principalmente após o cordão umbilical romper ou ser clampeado.Sob condições não fisiológicas, relacionadas, em especial, com partos distócicos e/ou comanimais prematuros, estabelecem-se os quadros de asfixia precoce e tardia. A vulnerabilidadedo recém-nascido às condições adversas do meio, decorrente da imaturidade dos sistemascompensatórios e regulatórios orgânicos, bem como da ineficácia dos mecanismos de defesaintrínsecos no período inicial do desenvolvimento, faz dessa categoria etária capítulo especialna clínica e terapêutica veterinárias. Nesse contexto, é possível pressupor que a adaptação e avulnerabilidade ao meio externo são, sem dúvida, ainda mais instáveis e desafiadoras para osanimais prematuros.179ObserveO animal apresenta-se com tamanho e desenvolvimento normais?Há alguma alteração congênita aparente (p. ex., atresia anal, alteração de conformação demembros)?Movimenta-se adequadamente? Tenta corrigir a posição da cabeça e se colocar em decúbitoesternal?Tem indícios de dificuldade respiratória (bradipneia ou taquipneia, dispneia, mucosaazulada/cianótica, dilatação de narinas etc.)?Como descrito, o exame da mãe e da placenta oferece informação valiosa com relação apossíveis fatores de risco para a cria. O liquido amniótico é fonte importante para avaliaçãodas condições fetais. Uma variedade de métodos bioquímicos, citológicos, biofísicos eimunológicos permite a determinação do grau de maturação pulmonar, renal e epidérmica fetal,além de anormalidades genéticas e outras afecções; contudo, o exame mais importante é o dopróprio recém-nascido.Não há aspecto particular do exame físico pertinente apenas ou predominantemente voltadoaos animais recém-nascidos. O exame, em princípio, não difere tecnicamente daquele aplicadoaos animais adultos; consideram-se, no entanto, as variações da topografia de algumasestruturas anatômicas com a evolução etária, particularmente em espécimes ruminantes – nosquais o sistema digestório sofre grandes modificações –, dos valores de referência dosparâmetros vitais e de provas laboratoriais, além das enfermidades características desseperíodo de vida. É necessário ressaltar as alterações de origem congênita que possamcomprometer a região umbilical, articulações e tendões, por exemplo. Toda anormalidade,independentemente do nível de gravidade, merece atenção e intervenção imediata, uma vez queas doenças no animal recém-nascido tendem a apresentar evolução rápida do quadro clínico,reduzindo de maneira significativa, com o passar das horas, as possibilidades de resolução doproblema. Desse modo, a constante observação, o diagnóstico imediato e o tratamento corretoe monitorado são itens indispensáveis para se reduzirem as taxas de morbimortalidade dosanimais recém-nascidos.A avaliação do recém-nascido por si é, certamente, a etapa mais relevante, por propiciar aobservação de alguns indícios ou pistas da possibilidade de: (1) manifestações clínicas deinfecções sistêmicas (septicemia); (2) alterações localizadas (traumas); (3) problemasadquiridos (defeitos congênitos); e (4) dificuldade respiratória. A identificação do problema éde fundamental importância para o estabelecimento do diagnóstico, prognóstico e tratamento.Infelizmente, os sintomas de enfermidade no recém-nascido costumam ser vagos e nãolocalizados. Em algumas doenças dos animais recém-nascidos, os achados físicos podem nãoser suficientes para afirmar que um determinado recém-nascido seja normal ou sadio(aganglionose intestinal congênita dos potros). Muitos animais recém-nascidos de alto risco180■■■■■apresentam aspecto relativamente normal nas primeiras horas após o nascimento; esse períodode “estado de graça” é frequentemente seguido, em 12 a 24 h, por piora visível na condiçãogeral. A ocorrência de alterações localizadas, como diarreia, pode mascarar o fato de que,muito possivelmente, outros sistemas do organismo possam também estar envolvidos. Portanto,em algumas situações, o diagnóstico com base no exame físico é extremamente complicado,sendo necessária, em grande parte dos casos, a pronta coleta de completa base de dados (p.ex., história clínica da mãe, da parturição e do recém-nascido, exames hematológicos,bioquímicos, imunológicos e radiográficos).Postura e nível de consciênciaA postura do animal e/ou o nível de consciência podem sugerir diagnóstico específico oudistúrbio comprometendo determinado sistema. Para tanto, o clínico deve ter a noção exata dosdiferentes tipos de comportamento que os animais recém-nascidos apresentam.Em geral, os recém-nascidos são alegres, espertos e curiosos. Quando um ser humano seaproxima, alguns vão ao seu encontro ou fogem para próximo das suas mães; eles costumam seratentos e responsivos ao seu meio ambiente. Os ovinos e caprinos geralmente acompanham unsaos outros. Movimentam-se melhor nos cantos e em curvas suaves.Alguns animais, particularmente potros e bezerros, podem demonstrar comportamentoextremamente relaxado quando contidos ou em decúbito. Esse tipo de reação é normal nasprimeiras horas de vida, mas não deve ser confundido com aquela do animal que esteja fracoou apático.Observar o tempo que o recém-nascido leva para se colocar em posição quadrupedal erealizar a primeira mamada na mãe pode ser utilizado como um critério prático para julgar asua vitalidade. No entanto, geralmente, esses critérios não são relatados pelos criadores porfalta de observação, principalmente em animais criados em regime extensivo de pastagem epelo horário noturno da maioria das parturições.Nos animais recém-nascidos, a fraqueza e a depressão podem ter muitas causas. Aapresentação clínica pode variar de depressão moderada do reflexo de sucção/sugação ao casoextremo do recém-nascido apático, que se posiciona em decúbito lateral permanente. Asalterações do nível de consciência podem ocorrer por: Choque endotóxico ou sépticoHipoglicemia Diminutas concentrações de oxigênio (asfixia neonatal em ruminantes ousíndrome do mau ajustamento neonatal em potros) Anormalidades eletrolíticas Nascimentoprematuro (Figura 5.11).181Figura 5.11 A. Comportamento normal, com tentativa de levantar-se. Bezerro (B) e potro (C)deprimidos, alheios a estímulos externos.Na medicina humana, a vitalidade do bebê é avaliada nos primeiros minutos de vidaextrauterina, empregando-se o esquema desenvolvido pela Doutora Virginia Apgar (1953),para determinar, de maneira simples (por meio de pontuação), o grau de vitalidade, permitindocom facilidade de aplicação a detecção de sinais precoces de asfixia periparto.Posteriormente, houve adaptação desse sistema para empregá-lo na avaliação de recém-nascidos das diferentes espécies de animais domésticos, tornando-seferramenta interessante182para determinar as condições clínicas dos mesmos ao longo dos primeiros minutos de vida.Existem pequenas diferenças entre os protocolos utilizados para bezerros e potros (Quadros5.3 e 5.4). Em geral, existem quatro critérios de julgamento, que recebem nota individualizadade 0 a 2 com pontuação total interpretada do seguinte modo: 7 a 8 representa boa vitalidade; 4a 6 caracteriza animal deprimido e 0 a 3 é indicativa de pouca vitalidade, devendo recebercolostro por meio do uso de sonda naso ou oroesofágica. Contudo, vale ressaltar que valoresadequados de escore Apgar no período neonatal imediato variam dentre as espéciesdomésticas.A precocidade da estação do rebento para a mamada na mãe é outro critério prático parajulgar a vitalidade de animais recém-nascidos.Animais nascidos prematuramente apresentam demora significativa a responder a qualquerestímulo externo. O prognóstico dependerá, em grande parte, da causa do parto prematuro, doseventos inerentes ao período perinatal, do grau de imaturidade e da qualidade da intervençãono processo do parto. Em princípio, quanto menor a idade gestacional e o peso corpóreo, pioro prognóstico. Cordeiros nascidos 1 semana antes do período gestacional médio (138 dias)apresentam elevada taxa de mortalidade em virtude da falta de produção adequada desurfactante, não permitindo, portanto, adequada expansão alveolar.Quadro 5.3 Esquema Apgar modificado para julgamento da vitalidade e das chances de sobrevivência de bezerros,imediatamente após o nascimento (Born, 1981).PontuaçãoCritérios de julgamento 0 1 2Reação da cabeça à água fria Ausente Diminuí​da Movimentos espontâneos,ativosReflexos palpebral einterdigitalAusente Resposta + 1 reflexo Resposta + 2 reflexosRespiração Ausente Arrítmica RítmicaCor de mucosas Branca-azulada Azul Rosa-avermelhadaQuadro 5.4 Esquema Apgar modificado para julgamento da vitalidade e das chances de sobrevivência de potros,imediatamente após o nascimento (Koterba, 1990).PontuaçãoCritérios de julgamento 0 1 2Fre​quência cardía​ca Ausente 60Fre​quência respiratória Ausente 40Tônus ​muscular Flacidez Algum tônus Posição esternal183■■■■■■■■■■■Estimulação da mucosa nasal Ausente Rejeição com a cabeça Tosse ou espirrosA maturidade fetal costuma ser completada somente durante os últimos dias de gestação,período no qual o córtex adrenal do feto produz hormônios glicocorticoides, como o cortisol.O aumento dos teores de tal hormônio tem importante papel na cascata de eventos endócrinosque conduzem o parto, estimulando a maturação dos pulmões, fígado, rins e sistemagastrintestinal, órgãos de grande importância para a vida pós-natal. Como a gestação dasfêmeas de animais domésticos apresenta duração gestacional variável, a determinação exata damaturidade fetal torna-se tarefa difícil. Contudo, alguns sinais auxiliam na identificação deanimais prematuros como, por exemplo: Baixo peso ao nascimento FraquezaIncapacidade para ficar em pé Menor capacidade para mamar e manter a temperaturacorpórea Pelos e lã sedosos e fracos Empelamento umbilical Orelhas pêndulas Cascos oudígitos moles.Os recém-nascidos prematuros, imaturos ou dismaturos são mais predispostos adesenvolver deformidades flexurais e angulares (Figura 5.12).Glossário semiológicoPrematuro: recém-nascido com perío​do gestacional mais curto que o normal para a espécie(Quadro 5.5).Dismaturo: animal nascido a termo, porém com pequeno tamanho e/ou peso.Quadro 5.5 Quando o animal é considerado prematuro?*Espécie Tempo gestacional PrematuridadeEquina 325 a 360 diase, então, fazer suposição lógicado local do processo mórbido.187■■Figura 5.13 Avaliação das mucosas bucal (A) e oculopalpebrais (B). Mucosa amarelada (ictérica)em potro com herpes-vírus (C).Funções vitaisA avaliação das funções vitais é extremamente importante como ferramenta diagnóstica, masos seus resultados devem ser interpretados apropriadamente, visto que estão sujeitos a muitasinfluências e variações (Figura 5.14). Além daquelas observadas entre as espécies, as mesmaspodem ser afetadas por vários fatores, a saber: Tamanho do corpo Idade188■■■ExcitaçãoTemperatura ambiente Estado de saúde.Figura 5.14 Auscultação pulmonar (A), cardíaca (B) e aferição de temperatura retal (C) emcordeiro.Nesse contexto, o primeiro mês de vida, referido como período de recém-nascido, deve ser189entendido como fase ainda mais particular, pelo fato de ser marcado por mecanismosfisiológicos peculiares e necessários para a adaptação completa do organismo à vidaextrauterina. As nítidas flutuações dos valores que as funções vitais em questão exibem, nodecorrer desse período de vida, podem ser encaradas como manifestações do conjunto demecanismos orgânicos que devem se instalar, como resposta a uma nova condiçãocompletamente distinta da presente no ambiente uterino. De maneira geral, em comparação comos animais adultos, os recém-nascidos apresentam maiores valores de referência para seusparâmetros vitais. Invariavelmente, tais parâmetros apresentam-se ainda mais elevados namaioria das doenças dos recém-nascidos ou com diminuições que indicam situações deadaptação pré-colapso ou agônicas.TemperaturaOs recém-nascidos, em virtude da sua incompetência imunológica, da necessidade dafrequente ingestão de certa quantidade de carboidratos prontamente utilizáveis para produzir emanter o balanço energético, e da sua inabilidade em manter a sua temperatura corpóreaestável em situações adversas, requerem, sem dúvida, vários cuidados especiais. No períodoimediatamente após o nascimento, os mesmos precisam se adaptar a um ambiente no qual atemperatura pode variar consideravelmente, sendo, na maioria das vezes, mais baixa que a domeio intrauterino. Com relação à temperatura dos animais recém-nascidos, é possível observarvariações, com elevação ou diminuição. Apesar de várias descrições de maiores valores detemperatura retal em animais recém-nascidos que os referendados para animais adultos,constata-se, de modo geral, diminuição desses ao longo das primeiras horas pós-nascimento,devido à menor eficiência dos mecanismos de regulação térmica nos neonatos e à perda decalor para o meio externo, com consequente redução da sua temperatura corporal,principalmente quando nascidos em épocas frias (Quadro 5.6).Existem algumas maneiras para controlar a temperatura corpórea. Inicialmente, logo após onascimento, a atividade metabólica é aumentada cerca de 3 vezes em relação à de quandoainda o concepto era feto. A intensidade desse aumento depende da disponibilidade desubstrato energético adequado (ingestão de colostro, leite), visto que a homeostase da glicose,imediatamente após o parto, depende totalmente dos estoques hepáticos de glicogênio. Além dafunção imunológica ao fornecer anticorpos, o colostro contém elementos essenciais na suacomposição que funcionam como substrato à produção de energia e da nutrição e regulaçãotérmica do recém-nascido.A maioria dos recém-nascidos tem pequeno depósito de um tipo especial de tecido adiposo,o qual é denominado de gordura marrom, rica em mitocôndrias, que é prontamente oxidada,sendo transformada em energia e, consequentemente, produzindo o calor. No entanto, esseprecioso tecido representa apenas de 2,0 a 4,5% do peso corpóreo de cordeiros recém-nascidos. A fonte de glicose é depletada em poucas horas e a gordura passa a ser a principal190fonte de energia. As reservas de gordura podem manter o recém-nascido somente por períodolimitado de tempo; no entanto, costuma ser suficiente para que ele inicie a amamentação.Quadro 5.6 Valores indicativos da variação da temperatura retal no primeiro dia p.n. de bezerros, cordeiros, cabritos epotros recém-nascidos.Espécie Ao nascimento Às 24 h ReferênciaBovina/NeloreBovina/Holandesa39,8 ± 0,6°C38,47 ± 0,6°C39,5 ± 0,3°C38,61 ± 0,4°CGasparelli (2007)Lisboa et al. (2003)Ovina 39,3 ± 0,5°C39,7 ± 0,7°C39,0 ± 0,4°C39,0 ± 0,5°CBovino (2011)Avilla (2013)Caprina 38,7 ± 0,8°C38,4 ± 1,3°C39,1 ± 0,7°C–Camargo et al. (2012)Yanaka et al. (2012)Equina 37,5°C 38,0°C Knottenbelt et al. (2004)Os potros são desprovidos de tecido adiposo marrom e aumentam a sua temperatura comtremores e piloereção, apesar de tal mecanismo de produção de calor resultar em maiorconsumo de oxigênio.É importante ressaltar que o centro termorregulador nos recém-nascidos ainda não estácompletamente desenvolvido e, por isso, frequentemente apresentam temperatura corporal de0,5 a 1°C mais elevada que a dos animais adultos. Contudo, são capazes de realizarnormalmente a termorregulação em temperaturas ambientes consideradas baixas (de 0 a3,3°C). À medida que a temperatura ambiental diminui, o metabolismo animal é acelerado como intuito de manter a homeostase. Ocorre, também, redução do fluxo sanguíneo para asextremidades e pele. A perda excessiva de calor pela evaporação do líquido amniótico queumedece a superfície corpórea é importante causa de hipotermia e de mortalidade em animaispecuários. Cordeiros gêmeos e trigêmeos são mais propensos a desenvolver hipotermia que osnascidos de partos com apenas um produto pelo fato de: (1) terem reservas corpóreas fetais deenergia mais baixas; (2) a ovelha levar mais tempo para lamber e secar dois ou três cordeiros;e, por fim, (3) a necessidade de leite de dois ou três cordeiros ser maior que a de um único,sendo mais propensos à ocorrência de inanição. Uma das primeiras manifestações dodesenvolvimento da hipotermia é a perda ou diminuição do estímulo para mamar.O parto distócico prolongado conduz ao aumento da termogênese pela liberação decatecolaminas, que estimulam o metabolismo energético, com consumo de tecido adiposo, emespecial da gordura marrom, levando à rápida depleção dessa reserva energética, deprimindoe até mesmo exaurindo o sistema de termogênese, resultando em quadro de hipotermia.A hipertermia pode ter origem endógena (invasão orgânica de agente patogênico –hipertermia séptica – febre) ou exógena (recém-nascidos colocados em ambientes quentes esem ventilação – hipertermia por retenção de calor). As causas exógenas de hipertermia são191evidenciadas com base no exame físico geral e pela avaliação do ambiente.É possível observar vários efeitos deletérios aos animais recém-nascidos submetidos àtemperatura ambiente elevada. Os animais adultos têm cerca de 70% do corpo constituído deágua, enquanto os recém-nascidos têm em torno de 85%. Como os recém-nascidos têm área desuperfície corpórea proporcionalmente maior que os adultos, produzem, proporcionalmente,mais suor por quilo de peso que o adulto, o que pode levá-los à desidratação, tornando-osapáticos e desinteressados em mamar. Daí a importância de um local sombreado para o abrigodos animais em regiões quentes (no entanto, deve-se evitar o excesso de sombreamento, pois osol é importante para o metabolismo de vitamina D e cálcio, além de ajudar nadescontaminação do ambiente).É necessário ressaltar que a febre é resposta fisiológica protetora para septicemia, toxemiaou infecções em geral. Representa uma das maneiras que o organismo inicialmente utiliza paraminimizar a multiplicação de microrganismos e estimular os mecanismos de defesa, servindo,para o examinador, como parâmetro de avaliação clínica da evolução satisfatória, ou não, dedeterminada enfermidade.Animais doentes e em estado grave frequentemente se apresentam hipotérmicos por sepseou depressão do sistema nervoso central (SNC). Nesses casos, recomenda-se que atemperatura de animais neonatosde risco seja monitorada a cada hora, no mínimo.Frequência respiratóriaConsiderando que os pulmões são responsáveis pelas trocas gasosas e pela manutenção doequilíbrio acidobásico, entre outras funções, é fundamental a avaliação da frequênciarespiratória, principalmente nos recém-nascidos, pois muitos transtornos de ordem respiratóriae metabólica podem ser evitados com um minucioso exame desta função vital. A capacidade deiniciar a respiração pulmonar em substituição à atividade placentária na obtenção de oxigênioé condição imprescindível para a sua sobrevivência. Valores médios mais elevados defrequência respiratória foram descritos em bezerros nos primeiros 2 dias de vida, devido,possivelmente, à capacidade incompleta da função respiratória pulmonar, visto que o órgãoainda não concluiu seu pleno desenvolvimento. Com o avanço da idade, tal situação tende a sereverter gradativamente (Quadro 5.7).Em circunstâncias normais de parto, a respiração se inicia em até 60 s após o nascimento eestá totalmente estabelecida após alguns minutos. Se houver retardamento da exposição fetal,os movimentos respiratórios podem começar antes mesmo de o feto ter sido expelido.Deve-se avaliar a frequência, a profundidade e o tipo de respiração. Os ruídos respiratóriossão mais evidentes que nos animais adultos e, desse modo, mais facilmente audíveis com oauxílio de aparelho de auscultação (fonendoscópio).Frequência cardíaca192O sistema circulatório neonatal é caracterizado por volume sanguíneo, pressão e resistênciavascular periférica baixos. Nesse período de vida, o controle neurológico do aparelhocardiovascular é parcial, pois a atividade nervosa simpática do miocárdio é incompleta. Afrequência cardíaca de animais recém-nascidos é bastante variável quando estão excitados (emgeral, ocasionado por estresse da manipulação, aproximação etc.); sua aferição é preferívelcom a utilização de um aparelho de auscultação. O pulso pode ser mais bem avaliado mediantepalpação da artéria femoral, na face medial e interna do membro posterior. Os recém-nascidosdas diferentes espécies costumam apresentar valores médios mais elevados que os de animaisadultos, tendendo a se normalizar nas primeiras semanas de vida (Quadro 5.8).Quadro 5.7 Valores indicativos da variação da fre​quência respiratória no primeiro dia p.n. de bezerros, cordeiros, cabritos epotros recém-nascidos.Espécie Ao nascimento Às 24 h ReferênciaBovina/NeloreBovina/Holandesa46,0 ± 16,0 mpm58,10 ± 24,9 mpm39,8 ± 11,4 mpm57,2 ± 18,3 mpmGasparelli (2007)Lisboa et al. (2003)Ovina 64,4 ± 26,6 mpm66,0 ± 23,0 mpm75,0 ± 17,8 mpm85,0 ± 27,0 mpmBovino (2011)Avilla (2013)Caprina 63,6 ± 19,0 mpm67,0 ± 22,0 mpm74,7 ± 28,7 mpm–Camargo et al. (2012)Yanaka et. al. (2009)Equina 70 mpm 30 mpm Knottenbelt et al. (2004)Quadro 5.8 Valores indicativos da variação da fre​quência cardía​ca no primeiro dia p.n. de bezerros, cordeiros, cabritos epotros recém-nascidos.Espécie Ao nascimento Às 24 h ReferênciaBovina/NeloreBovina/Holandesa146,7 ± 22,1 bpm139,1 ± 25,5 bpm122,2 ± 19,3 bpm127,2 ± 22,2 bpmGasparelli (2007)Lisboa et al. (2003)Ovina 165,5 ± 47,5 bpm169 ± 54,0 bpm178,3 ± 31,1 bpm187,0 ± 28,0 bpmBovino (2011)Avilla (2013)Caprina 160,5 ± 29,3 bpm154 ± 35,0 bpm172,6 ± 34,7 bpm–Camargo et al. (2012)Yanaka et al. (2012)Equina 70 a 80 bpm 90 a 100 bpm Knottenbelt et al. (2004)Exame físico específico dos diversossistemas193Sistema digestórioIndependentemente da queixa principal do proprietário, a avaliação do sistema digestóriodos animais ruminantes deve ser sempre iniciada pelo exame da cavidade bucal. A inspeçãoexterna possibilitará determinar se a boca está ou não adequadamente fechada, perfeitamentecoaptada, se existem lesões aparentes (tais como fístulas, feridas, edemas), bem comoassimetria de mandíbula e/ou dos lábios (traumas, defeitos congênitos – Figura 5.15). Emalguns desses casos, são comuns a dificuldade de sugar as tetas ou bicos de mamadeiras, oextravasamento de leite pelos cantos da boca ou pelas narinas (fenda palatina) e o aumento nastaxas de produção (ptialismo) ou a saída de saliva pela rima bucal (sialorreia).É necessário observar o contorno abdominal, lembrando que o neonato tem o abdomeproporcionalmente maior que o adulto e que as alterações podem ser localizadas ou difusas(hérnias, eventrações, eviscerações, distensões em região abomasal e rumenal). A palpaçãoexterna abdominal pode ser realizada conforme a cooperação do recém-nascido e a tensão damusculatura abdominal. Pode-se ter facilitação do exame com o animal em decúbito lateral eaproximação dos quatro membros levando-os em direção ao umbigo, o que pode diminuir atensão da parede e viabilizar exame mais profundo do abdome. No período inicial de vida emrecém-nascidos ruminantes, borborigmos podem ser evidentes, bilateralmente, à auscultação.O desenvolvimento dos pré-estômagos desses neonatos só se fará com a ingestão de alimentosgrosseiros (volumosos e concentrados), e mesmo com o oferecimento o mais precocementepossível desses no primeiro mês de vida dos bezerros, o abomaso ocupará praticamente toda ahemiporção direita do abdome; as alças intestinais ocuparão a hemiporção esquerda. É precisoavaliar as alterações de coloração de fezes e das características da defecação.Qualquer condição que interfira com a motilidade gastrintestinal (p. ex., asfixia) podeimpedir a passagem de mecônio, resultando em compactação. Em potros, a compactação pormecônio é a causa mais frequente de cólicas (Figura 5.16); costuma ocorrer em animaismachos devido ao menor diâmetro da pelve. Grande parte dos potros elimina o mecônio dentrode 48 h após o nascimento. Em bezerros, a eliminação se faz nas primeiras 24 h p.n. Paraavaliar se houve a eliminação completa do mecônio, realiza-se o exame digital, introduzindo odedo protegido no reto do animal, a fim de verificar se há conteúdo escuro e pegajoso, aspectotípico de mecônio. Muitas vezes, não é possível realizar o exame digital devido a inexistênciado orifício anal – atresia anal (Figura 5.17) – justificando a não eliminação de mecônio. Paracompletar a avaliação do sistema digestório, também podem ser feitas radiografia eultrassonografia abdominais.194Figura 5.15 Defeitos congênitos: A. Bezerro com fenda palatina (palatosquise). Observar pinçademonstrando a alteração (B). Ocorre como afecção isolada ou em associação a outras afecções(artrogripose). O animal apresenta extravasamento de leite pelas narinas, uni ou bilateralmente,após a mamada, risco de pneumonia aspirativa e desnutrição.A digestão dos animais lactantes ruminantes assemelha-se à dos animais monogástricos. Oabomaso é o principal órgão digestivo funcional em animais ruminantes recém-nascidos eassemelha-se ao estômago dos animais monogástricos, tendo função de realizar digestãoquímica e enzimática.Esses animais dispõem de sulco ou goteira reticular ou esofágica, que é constituída de duaspregas que, com o fechamento, formam um tubo ou canal que se estende desde a cárdia até oabomaso, evitando que a alimentação líquida, quando ingerida, passe pelo compartimentorumenal e sofra a degradação microbiana. O fechamento da goteira é ato reflexo com impulsoseferentes advindos do tronco cerebral por meio do nervo vago e de estímulos aferentes quenascem centralmente e na faringe. O estímulo central é desencadeado pela simples percepção195do ato de mamar (visualização da mãe ou da mamadeira), enquanto o faringeano ocorre quandoa dieta líquida entra em contato com os receptores existentes em região faringeana. No entanto,para que ocorra o adequado fechamento da goteira, é necessário: (1) que a dieta líquida (p. ex.,leite) seja ingerida voluntária e tranquilamente pelo animal; e (2) que tal dieta não esteja friaou estragada, com odor e/ou sabor alterados.196Figura 5.16 Potro com retenção de mecônio. Observar depressão (A e B) e alterações de coloraçãodas mucosasmencionados.Em várias ocasiões, nem sempre é possível estabelecer, de imediato, o diagnóstico exato daenfermidade que ora se manifesta. Nesses casos, é conveniente realizar o que denominamos dediagnóstico provável, provisório ou presuntivo. Com a evolução do caso, deve-se tentarestabelecer o diagnóstico por exclusão, eliminando-se, aos poucos, algumas hipótesesdiagnósticas inicialmente presumidas, pelas características do quadro sintomático apresentadodia a dia e pela realização de exames complementares.No século 17, o filósofo francês Blase Pascal afirmou – a respeito do valor doconhecimento, da capacidade de observação e dos erros em medicina – que “a maioria doserros médicos não se deve a falhas de raciocínio sobre fatos bem avaliados, mas a raciocíniobem conduzido sobre fatos mal observados”.As principais causas de erro no estabelecimento do diagnóstico são: Anamnese incompletaou preenchida erroneamente Exame físico superficial ou feito às pressas Avaliaçãoprecipitada ou falsa dos achados clínicos Conhecimento ou domínio insuficiente dos métodosdos exames físicos disponíveis Impulso precipitado em tratar o paciente antes mesmo de seestabelecer o diagnóstico.Os procedimentos para a resolução do problema clínico emergente envolvem duas fases:(1) elaboração de hipóteses; e (2) avaliação das hipóteses obtidas. Em geral, a elaboração dehipóteses domina a parte inicial da investigação clínica, ao passo que a avaliação dashipóteses se sobrepõe nos estágios finais do exame clínico.A elaboração de hipóteses costuma ter início quando as informações mínimas sobre o casoem questão são conhecidas, tais como idade, sexo, raça e queixa principal. Quando os dadosda história do animal são relatados (anamnese) ou observados a partir dos sintomas e/ou sinais(exame físico), há, involuntariamente, a elaboração de hipóteses. A elaboração precoce de umahipótese de trabalho, logo no início da tentativa de resolução do problema clínico, é natural enecessária, visto que propicia conduta ou direção que deve ser adotada durante o exameclínico.24■■■■■■■■Durante a avaliação de uma hipótese, algumas indagações iniciais e direcionadas, obtidasna fase de elaboração, são rejeitadas e substituídas por outras mais genéricas.Certamente, o trabalho mais difícil da prática médica é a avaliação dos dados clínicos edos resultados dos exames complementares, quando solicitados. Em alguns casos, fazerdiagnóstico pode ser o mesmo que fazer julgamento; por isso, é válido relembrar os famososprincípios de Hutchinson (1928-1913), descritos no final do século 19, mas inteiramenteválidos até os dias atuais: Não seja demasiadamente sagaz Não tenha pressa Não tenhapredileções Não diagnostique raridades; pense nas hipóteses mais simples Não tome umrótulo por diagnóstico Não tenha prevenções Não seja tão seguro de si Não hesite em reverseu diagnóstico, de tempo em tempo, nos casos crônicos.Percebe-se, claramente, que o diagnóstico não é pautado em adivinhações ou em intuições;ele é concebido após a obtenção criteriosa dos dados e a avaliação pormenorizada dashipóteses. Uma suposição da importância (em %) das diferentes etapas do exame clínico émostrada no organograma da Figura 1.2. A contínua prática médica e a avaliação repetitiva deum mesmo paciente ou de vários com a mesma doença são cruciais para a aquisição deexperiência e confiança. As manifestações da mesma doença não são exatamente iguais emdiferentes animais. Tal pensamento levou o médico brasileiro Torres Homem a descrever que“para um clínico, não existe enfermidade, e sim enfermos”. Portanto, deve-se avaliar a maneiraparticular com que cada indivíduo responde a uma mesma doença.O aprimoramento da semiologia e, consequentemente, da clínica médica, depende darepetição, sendo, às vezes, mais conveniente informar menos e repetir mais, a fim de se terum melhor ensino e aprendizado. (Prof. Dr. Eduardo Harry Birgel)PrognósticoAo lado do diagnóstico, é importante estabelecer o prognóstico, que consiste em se prever aevolução da doença e suas prováveis consequências. A palavra é oriunda do grego(prognōstikós = aquilo que deve acontecer). O prognóstico é orientado a partir de trêsaspectos: (1) perspectiva de salvar a vida; (2) perspectiva de recuperar a saúde ou de curaro paciente; e (3) perspectiva de manter a capacidade funcional do(s) órgão(s) acometido(s).Figura 1.2 Importância (em %) das diferentes etapas do exame clínico.Muitas doenças evoluem naturalmente para a cura, com ou sem tratamento. Algumas setornam crônicas, com reflexos negativos na qualidade de vida; outras, infelizmente, evoluemprogressivamente até o óbito. Quando se espera uma evolução satisfatória, diz-se que o25■■■■■■■■prognóstico é favorável; do contrário, quando se prevê o término fatal ou a possibilidade deóbito, é desfavorável. Nos casos de curso imprevisível, diz-se que o prognóstico é duvidoso,reservado ou incerto. O prognóstico pode ser favorável quanto à vida e desfavorável ouduvidoso quanto à validez e à recuperação integral do paciente (p. ex., displasia coxofemoralem cães de grande porte). O prognóstico deve ser racional, com base nos dados obtidos(história clínica) e na avaliação física do paciente. Para o prognóstico, é necessário levar emconsideração, além da doença, algumas características pertinentes ao animal, tais como idade,raça, espécie e valor econômico; e, ao proprietário, tais como poder aquisitivo (para custearas despesas do tratamento) e condições disponíveis na propriedade para a realização dotratamento.Tratamento ou resoluçãoÉ o meio utilizado para combater a doença. Do conhecimento do estado do animal peloexame clínico, surge a inspiração das medidas necessárias para a solução do processopatológico. É possível utilizar meios cirúrgicos, medicamentosos e dietéticos; às vezes, ocorreuma combinação desses recursos; em outras, o tratamento é feito individualmente, de acordocom cada caso.Quanto à finalidade, o tratamento pode ser: Causal: quando se opta por um meio quecombata a causa da doença (hipocalcemia: administra-se cálcio) Sintomático: quando visacombater apenas os sintomas (anorexia: orexigênicos, vitaminas) ou abrandar o sofrimento doanimal (analgésicos, antipiréticos) Patogênico: procura modificar o mecanismo dedesenvolvimento da doença no organismo (tétano: usa-se soro antitetânico antes que as toxinascheguem aos neurônios) Vital: quando se procura evitar o aparecimento de complicações quepossam fazer o animal correr risco de morte (transfusão sanguínea em pacientes com anemiagrave).No diagnóstico, o clínico alcança a afirmação de seus conhecimentos; no prognóstico,prevendo corretamente a evolução da doença, o clínico terá a contraprova do seu acerto e,no sucesso da terapia recomendada, a confirmação da sua competência.(Prof. Dr. EduardoHarry Birgel)Métodos gerais de exploração clínicaSemiotécnica e a ciência do diagnósticoAporte humano básico necessário:Conhecimento RaciocínioVisão, audição, tato, olfação Sensatez26■■■■■■■■■■■■■OrganizaçãoPaciência.Material básico necessário:Papel e caneta para anotações Aparelho de auscultação Martelo e plessímetro parapercussão TermômetroAparelho de iluminação (lanterna) Luvas de procedimento Luvas de palpação retalOtoscópio e oftalmoscópio Espéculos vaginais Frascos para acondicionamento deamostras Material específico para contenção (cordas, cachimbo, mordaças etc.).No Quadro 1.1 encontra-se a evolução dos métodos diagnósticos mais importantes para aMedicina ao longo do tempo.Hipócrates, meio milênio antes de Cristo, sistematizou o método clínico, dando à anamnesee ao exame físico – este basicamente apoiado na inspeção e na palpação – uma estruturaçãomuito semelhante à observada nos dias atuais. Em uma visão retrospectiva da evolução dosmétodos clínicos, alguns acontecimentos merecem registro, pois, mesmo tendo sidodesenvolvidos para a medicina humana, são inquestionáveis os avançosbucal (C) e oculopalpebrais (D). (Imagens: Luiz Cláudio N. Mendes.) 197■■■■Figura 5.17 Defeitos congênitos: atresia anal em bezerro.Um modo de indigestão em bezerros lactentes, devido à falha de formação da goteira, éconhecido como “bebedor rumenal” ou ruminal drinker. Ocorre, mais comumente, em animaiscom até 6 semanas de idade e, mais raramente, em animais mais velhos, resultando em quadrode indigestão por putrefação do conteúdo no compartimento rumenal, pois o alimento nãochega ao abomaso, permanecendo no rúmen, ou passa mais tardiamente para o abomaso.As alterações entéricas são as principais causas de morbidade digestória em animaisrecém-nascidos ruminantes ou equídeos. Na criação de bezerros, nenhum problema é maiscomum que a diarreia; deve-se ressaltar que a diarreia não é uma doença, mas um complexopatológico que caracteriza uma síndrome, tendo, em geral, etiologia multifatorial. O correto eimediato diagnóstico das enfermidades entéricas é justificado por um ou mais dos seguintesmotivos: Instituir um programa de medicina preventiva contra determinado agente específicoDeterminar a sensibilidade da bactéria patogênica a um determinado agente antimicrobianoEstabelecer o potencial risco zoonótico de um agente Convencer o produtor de que oproblema efetivamente existe.Em potros, bezerros, cabritos e cordeiros, a origem da diarreia é de etiopatogeniacomplexa. Numerosas doenças entéricas resultam em diarreia e envolvem não somente oanimal, mas também o meio ambiente, a conduta nutricional e, por fim, os agentes infecciosos.A morte por desidratação e/ou acidose tende a ser um desenlace frequente em grande parte doscasos. Por tal razão, a avaliação da intensidade da desidratação e da acidose metabólica emgeral é prioritária para salvar a vida do recém-nascido, de início colocando-se em segundoplano a determinação da etiologia da diarreia. Por que algumas propriedades apresentamproblemas com diarreia, enquanto outras não? É óbvio que todas contêm inúmeros patógenoscomuns, sendo que a maioria não causa ou causará qualquer problema entérico se o animal198■■■■estiver em perfeitas condições de saúde. A maior ou menor ocorrência de casos de diarreianão depende do que as fazendas têm em comum, mas do seu diferencial, ou seja: Realmenteapresentam estrutura que facilite o manejo dos animais recém-nascidos Dispõem de pessoascapacitadas Detêm programa nutricional compatível Adotam medidas preventivas de manejoeficazes e protocolo de tratamento adequado.Essas, certamente, terão menor número de animais recém-nascidos problemáticos.A determinação da categoria etária, do manejo alimentar e das características das fezes,associadas ao exame físico do paciente, pode ser crucial no estabelecimento do diagnóstico.Contudo, o diagnóstico etiológico definitivo das enterites neonatais infecciosas é, em geral,difícil, pois a maioria dos agentes causais é encontrada em animais sadios, isto é, que nãoapresentam diarreia. Na maioria das vezes, pode ocorrer associação entre os agentes.Sistema cardiovascular ou circulatórioAs doenças cardíacas congênitas são raras em animais de grande porte, porém podemcausar prejuízos econômicos consideráveis em decorrência da dificuldade de diagnóstico,caso persista a enfermidade no rebanho. As doenças cardíacas congênitas podem resultar emsobrecarga de pressão e volume em uma ou mais câmaras cardíacas. Em geral, em comparaçãocom o ventrículo direito, o esquerdo pode tolerar melhor a pressão. A existência de anomaliacardíaca pode promover o desvio do sangue da circulação pulmonar para a circulaçãosistêmica, além da mistura do sangue arterial e venoso via forame oval aberto, causandoanoxia, dispneia intensa e cianose. Esses sintomas serão mais característicos quanto maior foro desvio do sangue.Os ruídos cardíacos apresentam menor significado clínico durante o período de vida dorecém-nascido do que em qualquer outra época de existência do animal, visto que casosconsiderados graves podem não ser identificados à auscultação pelo não desenvolvimento desopros cardíacos, por exemplo. Por outro lado, o processo fisiológico de oclusão do ductoarterioso pode ser muito audível e preocupante, induzindo a erros. Em casos de ducto arteriosopersistente (DAP), há manutenção da comunicação entre a artéria pulmonar e a aorta, sendo osangue destinado aos pulmões desviado, em grande parte, da artéria pulmonar para a aorta.Pode haver suspeita de DAP ao se auscultar murmúrio muito agudo e contínuo, frequentementedenominado “murmúrio de máquina”, por causa de sua intensidade alternada.Em recém-nascidos ruminantes e equídeos, o problema cardíaco mais comum é o defeitoseptal ventricular (DSV). A causa dessa enfermidade é desconhecida; contudo, foi relatadacomo problema hereditário em bovinos das raças Limousin e Hereford, e em ovinos, comoherança de característica autossômica recessiva. Caracteriza-se por uma abertura na porção dosepto ventricular, que separa o ventrículo direito do esquerdo, geralmente afetando a porçãomembranosa do septo, logo ao lado da aorta, promovendo comunicação livre do sangue entreos dois ventrículos cardíacos, no lado esquerdo, e na crista supraventricular da parede199■■■■■muscular, no lado direito. A maior intensidade do ruído anormal ocorre ao final da sístole,geralmente no lado direito, entre os terceiro e quarto espaços intercostais (EIC), mas aintensidade pode ser igual do lado esquerdo, denotando maior gravidade do caso. Comoconsequência, o animal apresenta relutância em se exercitar, comprometimento do crescimento,dispneia, taquicardia, cianose, sopro e frêmito cardíaco. O defeito do septo ventricular pode semanifestar associado a outras alterações cardíacas, como desvio da aorta para o lado direito,persistência do ducto arterioso, persistência do forame oval, anomalias das válvulas tricúspidee pulmonar. A alteração cardíaca pode ocorrer ainda associada a outras alterações congênitas,tais como atresia anal ou vulvar, hipoplasia do clitóris, defeitos no palato, hidrocefalia efístula retovaginal, agenesia de cauda, microftalmia ou anoftalmia. Os murmúrios cardíacos deanimais jovens com DSV intenso podem ser confundidos com ducto arterioso persistente;contudo, não apresentam o “murmúrio de máquina”.A tetralogia de Fallot caracteriza-se por origem biventricular (superposição) da aorta,defeito septal ventricular, hipertrofia do ventrículo direito e obstrução do fluxo arterialpulmonar. Quando ocorre também um defeito septal atrial, denomina-se pentalogia de Fallot eos indícios clínicos mais frequentes são a cianose e a dispneia; é audível alto murmúrioholossistólico, que está associado a frêmito.Além disso, é necessário avaliar se há arritmias cardíacas por meio da auscultação. Asarritmias primárias são causadas por problemas cardíacos (miocardite, alteração valvar,anormalidades do sistema de condução do estímulo nervoso, e pericardite). As arritmiassecundárias são causadas por condições tais como: ExcitaçãoFebreDesequilíbrios eletrolíticos Problemas gastrintestinais Toxemia.As arritmias costumam ocorrer por alteração sistêmica de líquidos e eletrólitos queacompanha a maioria das enterites infecciosas.Sistema respiratórioO sistema respiratório compreende uma porção condutora do ar – a qual é formada pelasfossas nasais, nasofaringe, laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos –, incorporada à porçãorespiratória, com terminações da árvore brônquica e parênquima pulmonar, por meio de umapequena porção tecidual, denominada de transição. Nas diversas espécies mamíferas, odesenvolvimento dos pulmões é fenômeno complexo e contínuo, o qual engloba a maturação eo crescimento pulmonar, com início precoce durante a gestação e conclusão somente na vidaextrauterina.O exame do sistema respiratório do recém-nascido pode ser realizado verificando-se,inicialmente, se existe secreção nasal acastanhada/esverdeada, que pode ser indício deaspiração de mecônio. A palpaçãoque a medicinaveterinária sofreu após a sua utilização.O primeiro deles é a medição da temperatura corporal por intermédio do termômetroclínico, proposto por Santório, entre os anos de 1561 e 1636, que pode ser considerado oponto de partida da utilização de aparelhos simples que possibilitam obter dados de grandevalor semiológico.Em 1761, Auenbrugger publicou o trabalho Inventum novum, no qual sistematiza apercussão do tórax, correlacionando os dados fornecidos por esse método com os achadosanatomopatológicos, propiciando um grande avanço no diagnóstico das doenças pulmonares.Em 1819, Laennec publicou a obra De la auscultation médiate, descrevendo o estetoscópioe as principais manifestações estetoacústicas das doenças do coração e dos pulmões. Por voltade 1839, Skoda ofereceu grande contribuição para o progresso do método clínico,correlacionando os dados de exame físico do tórax, principalmente os de percussão e deauscultação, com os achados de necropsia.Samuel von Basch, em 1880, Riva-Rocci, em 1896, e Korotkoff, em 1905, cada um comdiferentes contribuições, possibilitaram a construção de esfigmomanômetros sensíveis eprecisos e estabeleceram as bases para a determinação da pressão arterial.Quadro 1.1 Evolução dos métodos gerais de exploração clínica.Médico Método clínico AnoHipócrates Anamnese, inspeção, palpação 460-355 a.C.Santório Termômetro clínico 1551-163627Auenbrugger Percussão, Inventum novum 1761Laennec Estetoscópio De la auscultation médiate 1819Skoda Correlação exame físico/achados de necropsia 1839Samuel von Basch Esfigmomanômetro 1880Riva-Rocci Esfigmomanômetro 1896Korotkoff Método de auscultação para a determinação da pressão arterial 1905Os registros médicos de Hipócrates e seus discípulos criaram as bases do exame clínico aovalorizar, principalmente, o relato organizado da história clínica do paciente e dos seusrespectivos sintomas. Todas essas descobertas foram, pouco a pouco, aplicadas na medicinaveterinária, com algumas modificações, conforme a área envolvida.A medicina é, simultaneamente, arte e ciência. Como arte, seu êxito depende da habilidadee das técnicas empregadas por aqueles que se dedicam a ela; como ciência, depende daaplicação dos conhecimentos científicos de diferentes ramos do saber do homem. Por maisentusiasmo que se tenha com os modernos aparelhos ou equipamentos, a pedra angular damedicina ainda é o método físico. A experiência tem mostrado que os recursos tecnológicosdisponíveis somente são aplicados em sua plenitude e com o máximo proveito para o pacientea partir de um exame físico benfeito. A exploração física tem como base, em grande parte, autilização dos sentidos do explorador, ou seja, a visão, o tato, a audição e o olfato; e tem porfinalidade examinar metodicamente todo o animal, a fim de estabelecer o diagnóstico e,consequentemente, a cura do animal. Os principais métodos de exploração física são: (1)inspeção; (2) palpação; (3) auscultação; (4) percussão; e (5) olfação. Cada uma dessastécnicas pode ser aperfeiçoada se os três “P” do exame clínico forem obedecidos: (1)paciência; (2) perseverança; e (3) prática. Para atingir a competência nesses procedimentos,o estudante deve ensinar os olhos a ver, as mãos a sentir e os ouvidos a ouvir. Lembre-se: acapacidade de coordenar todo esse aporte sensorial não é congênita, é adquirida com o tempoe a prática à exaustão. É interessante que se faça um treinamento intenso em animais hígidos(animais sadios) e, posteriormente, em pacientes.O objetivo do exame físico é obter informações válidas sobre a saúde do paciente. Oexaminador deve ser capaz de identificar, analisar e sintetizar o conhecimento acumulado emuma avaliação, antes de tudo, abrangente. Infelizmente, o emprego de uma única técnica quasenunca é satisfatório; na maioria das vezes, é necessário o somatório delas, para que o clínicoobtenha algumas informações que serão fundamentais para que se tenha, com certa margem desegurança, o(s) possível(is) diagnóstico(s) da(s) enfermidade(s).InspeçãoNos olhos se concentra a turba dos sentidos. (William Shakespeare) Utilizando o sentido da28■■■■◦◦◦◦◦◦visão, esse procedimento de exame se inicia antes mesmo da anamnese, sendo o mais antigométodo de exploração clínica e um dos mais importantes. Por meio da inspeção, investigam-sea superfície corporal e as partes mais acessíveis das cavidades em contato com o exterior.Alguns conselhos devem ser lembrados para a sua realização: O exame deve ser feito em umlugar com boa iluminação, de preferência sob a luz solar; no entanto, em caso de iluminaçãoartificial, utilize uma luz de cor branca e de boa intensidade Observe o(s) animal(is), sepossível, em seu ambiente de origem, juntamente com os seus pares (família ou rebanho).Inicialmente, observe a distância, pois as anormalidades de postura e de comportamento sãomais facilmente perceptíveis. Para obter um ótimo parâmetro, compare o animal doente com ossadios Não se precipite: não faça a contenção nem manuseie o animal antes de uma inspeçãocuidadosa, visto que a manipulação o deixará estressado Limite-se a descrever o que estávendo. Nesse momento, não se preocupe com a interpretação e a conclusão do caso.A técnica adequada para a realização da inspeção exige mais que apenas uma simplesolhadela. O examinador deve ser treinado a olhar para o corpo do animal de maneirasistemática. É comum o examinador neófito ter pressa em usar o seu oftalmoscópio,estetoscópio ou otoscópio, antes de usar seus olhos para a inspeção. Na realidade, a inspeçãotalvez seja o método semiológico mais fácil de ser realizado e o mais difícil de ser descrito demaneira precisa.Um exemplo do que significa “ensinar os olhos a ver” pode ser demonstrado por meio deuma experiência simples de autoria desconhecida. Observe a sentença: “Finished files are theresult of years of scientific study combined with the experience of years.” Agora, sem voltar aela, responda quantas letras F você contou. A resposta encontra-se na nota de rodapé.*A observação do animal pode oferecer inúmeras informações úteis para o diagnóstico, taiscomo estado mental, postura e marcha, condição física ou corporal, estado dos pelos e pele,formato abdominal, dentre outras, que serão abordadas no Capítulo 4, Exame Físico Geral oude Rotina. A inspeção pode ser dividida em: Panorâmica: quando o animal é visualizadocomo um todo (condição corporal) Localizada: atentando-se para alterações em umadeterminada região do corpo (glândula mamária, face, membros) Direta: sendo a visão oprincipal meio utilizado pelo clínico, observam-se principalmente os pelos, a pele, asmucosas, os movimentos respiratórios, as secreções, o aumento de volume, as cicatrizes, asclaudicações, dentre outros. É denominada, por alguns, de ectoscopia, visto que se praticasobre a superfície do corpo Indireta: feita com o auxílio de aparelhos, tais como: Deiluminação: otoscópio, laringoscópio, oftalmoscópio (utilizados para examinar cavidades doorganismo) De raios XMicroscópios De mensuração De registros gráficos (eletrocardiograma) Deultrassonografia.Palpação29■■■■■■O sentir é indispensável para se chegar ao saber. (Antônio Damásio) A inspeção e apalpação são dois procedimentos que quase sempre andam juntos, um completando o outro: oque o olho vê, a mão afaga. É a utilização do sentido tátil ou da força muscular, usando-se asmãos, as pontas dos dedos, o punho, ou até instrumentos, para melhor determinar ascaracterísticas de um sistema orgânico ou da área explorada.O sentido do tato é responsável por informações sobre estruturas superficiais ou profundas(p. ex., o grau de oleosidade da pele de pequenos animais e a avaliação de vísceras ou órgãosgenitais internos de grandes animais, por meio da palpação abdominal e transretal,respectivamente). A última abordagem citada é denominada palpação por tato ou palpaçãocega, na qual, pode-se dizer, o clínico tem nas mãos e nos dedos osseus olhos. Contudo, paraisso, é necessário ter em mente as características da(s) estrutura(s) e sua localização dentro dacavidade explorada. Para exemplificar: é como se, de repente, apagassem as luzes na sua casae você desejasse encontrar um objeto localizado em um determinado lugar. Nessa situação,pelo fato de você estar na sua residência, é bem provável que você conheça “mentalmente” oobjeto pelo qual procura e saiba a disposição da mobília e o local onde encontrá-lo, o quefacilita a busca. No entanto, imagine-se em um lugar desconhecido, à procura de um objeto quenunca viu. É quase impossível, a princípio, ter êxito nessas circunstâncias.A força muscular ou de pressão é utilizada para avaliar estruturas que estejam localizadasmais profundamente ou quando se deseja verificar uma resposta dolorosa. Pela palpação, épossível notar modificações de textura, espessura, consistência, sensibilidade, temperatura,volume, dureza, além da percepção de frêmitos, flutuação, elasticidade, edema e outrosfenômenos. Quando se utilizam somente as mãos ou os dedos para avaliar determinada área,realiza-se a palpação direta; no entanto, se for utilizado algum aparelho ou instrumento comesse objetivo, a palpação torna-se indireta. É o que ocorre ao se examinarem órgãos, estruturasou cavidades inacessíveis por meio da simples palpação externa, utilizando sondas, cateteres,pinças, agulhas, dentre outros. Por exemplo, nos bovinos, como em outras espécies, o esôfagosofre desvio lateral na entrada do tórax e, às vezes, um corpo estranho fixa-se nesse local.Como é praticamente impossível fazer a palpação esofágica externamente, em virtude de sualocalização, passa-se uma sonda esofágica e, caso ela pare nesse ponto, tem-se um forteindício de obstrução.A palpação apresenta inúmeras variantes que podem ser sistematizadas da seguinte maneira:Palpação com a mão espalmada, usando toda a palma de uma ou de ambas as mãos Palpaçãocom a mão espalmada, usando apenas as polpas digitais e a parte ventral dos dedos Palpaçãocom o polegar e o indicador, formando uma pinça Palpação com o dorso dos dedos ou dasmãos (específico para a avaliação da temperatura) Digitopressão realizada com a polpa dopolegar ou indicador, que consiste na compressão de uma área com diferentes objetivos:pesquisar a existência de dor, detectar edema (Godet positivo) e avaliar a circulação cutâneaPunhopressão é feita com a mão fechada, particularmente em grandes ruminantes, com afinalidade de avaliar a consistência de estruturas de maior tamanho (rúmen, abomaso) e para30■■■■■■■■denotar, também, aumento de sensibilidade na cavidade abdominal Vitropressão é realizadacom a ajuda de uma lâmina de vidro comprimida contra a pele, analisando-se a área por meioda própria lâmina. Sua principal aplicação é possibilitar a distinção entre eritema e púrpura (oeritema desaparece e a púrpura não se altera com a vitro ou digitopressão) Para pesquisa deflutuação, aplica-se a palma da mão sobre um lado da tumefação, enquanto a mão opostaexerce sucessivas compressões perpendiculares à superfície cutânea. Havendo líquido, apressão determina um leve rechaço do dedo da mão esquerda, ao que se denomina flutuação.Tipos de consistênciaA consistência de determinada estrutura pode ser definida das seguintes maneiras: Mole:quando a estrutura reassume seu formato normal após cessar a aplicação de pressão à mesma(tecido adiposo); é uma estrutura macia, porém flexível Firme: quando a estrutura, ao serpressionada, oferece resistência, mas acaba cedendo e voltando ao normal ao final da pressão(fígado, músculo) Dura: quando a estrutura não cede, por mais forte que seja a pressão (ossose alguns tecidos tumorais) Pastosa: quando uma estrutura cede facilmente à pressão epermanece a impressão do objeto que a pressionava, mesmo quando cessada (edema: sinal deGodet positivo) Flutuante: determinada pelo acúmulo de líquidos, tais como sangue, soro,pus ou urina, em uma estrutura ou região; resulta em um movimento ondulante, mediante aaplicação de pressão alternada. Se o líquido estiver muito comprimido, pode não haverondulações Crepitante: observada quando determinado tecido contém ar ou gás em seuinterior. À palpação, a sensação é de movimentação de bolhas gasosas; é facilmente verificadanos casos de enfisema subcutâneo.A palpação pode revelar, também, um “ruído palpável”, denominado frêmito, que éproduzido pelo atrito entre duas superfícies anormais (roce pleural) ou em lesões valvularesacentuadas.É comum a utilização do termo “consistência macia” por parte de alguns colegas; noentanto, é necessário estar atento ao utilizá-lo, visto que maciez corresponde à “textura”, talcomo áspera e rugosa, não sendo, portanto, a maneira mais adequada para se designar aconsistência de determinada estrutura. Ambas as consistências – mole e pastosa – apresentamtextura macia; contudo, quando presentes, determinam significado clínico distinto.AuscultaçãoPorém não me foi possível dizer às pessoas: “falem mais alto, gritem, porque sou surdo.” Aide mim! Como poderia eu, declarar a fraqueza de um sentido que em mim deveria ser maisagudo que nos outros – um sentido que anteriormente eu possuía na maior perfeição, umaperfeição como poucos em minha profissão possuem, ou já possuíram. (Ludwig vanBeethoven) A auscultação consiste na avaliação dos ruídos que os diferentes órgãos produzem31■■espontaneamente, sendo esta a principal diferença entre auscultação e percussão, na qual ossons são produzidos pelo examinador, a fim de se obter uma resposta sonora. Na primeirametade do século XIX, a inclusão da auscultação com estetoscópio no exame clínico foi umdos maiores avanços da medicina, desde Hipócrates. Laennec, o fundador da medicinacientífica moderna, desenvolveu seu invento, dando-lhe o nome de estetoscópio, derivado dalíngua grega (stêthos = peito e skopéō = examinar), visto que foi desenvolvido emconsequência do pudor de examinar uma jovem obesa com problemas cardíacos (Figura 1.3).O método de auscultação é usado principalmente no exame dos pulmões, em que é possívelevidenciar os ruídos respiratórios normais e os patológicos; no exame do coração, paraauscultação das bulhas cardíacas normais e suas alterações e para reconhecer sopros e outrosruídos; e no exame da cavidade abdominal, para detectar os ruídos característicos inerentes aosistema digestório de cada espécie animal. A auscultação pode ser: Direta ou imediata:quando se aplica o ouvido, protegido por um pano, diretamente na área examinada, evitando,assim, o contato com a pele do animal. As desvantagens são óbvias, incluindo a dificuldade demanter-se um contato íntimo com animais irrequietos e de excluir os sons provenientes do meioexterno, além de a pele do animal estar úmida e conter restos de fezes ou secreções cutâneas,dentre outras Indireta ou mediata: quando se utilizam aparelhos de auscultação (estetoscópio,fonendoscópio, Doppler).32■■■■■Figura 1.3 Aparelhos de auscultação. A. Fonendoscópio com membrana (diafragma) amplificadorade ruídos. B. Estetoscópio representado pelo cone (individualização de ruídos). C. Aparelho deauscultação digital, com capacidade de qualificar e amplificar os ruídos em até oito vezes.Apesar de a auscultação ser realizada diretamente, ela costuma ser feita de maneiraindireta, valendo-se de instrumentos. O fonendoscópio, que costuma ser chamado deestetoscópio (embora erroneamente), é um dos instrumentos mais conhecidos e consiste emaparelho dotado de membrana em uma das extremidades, que possibilita a auscultação difusa eintensa dos ruídos produzidos pelo órgão examinado. A grande desvantagem da maiorsensibilidade produzida por essa membrana ou diafragma é a interferência dos sons produzidospela fricção entre o instrumento e a pele do animal e a captação de ruídos de outros órgãos oudo meio externo. O estetoscópio contém cones para se auscultar, os quais, tambémdenominados peças de Ford,são adequados para a auscultação de ruídos graves, ou seja, os debaixa frequência (p. ex., alguns sopros e bulhas cardíacas); ao passo que os fonendoscópiosdispõem de diafragmas – também denominados peças de Bowles, os quais são ideais para seauscultarem ruídos agudos, ou seja, os de alta frequência. Dessa maneira, são mais comumenteutilizados, haja vista que a maioria dos ruídos passíveis de auscultação é de alta frequência.Ao utilizar os cones, vale ressaltar a importância de não pressionar o estetoscópio em demasiacontra a pele do animal, o que a distende, tornando-a semelhante a um diafragma, o quedificulta a auscultação de ruídos de baixa frequência. Além disso, devemos sempre realizar aauscultação cardíaca mediante o uso de ambos: o diafragma e o cone; assim, é possível obter omaior número de informações na auscultação.Atualmente, muitos instrumentos são providos simultaneamente dos dois tipos deextremidades (esteto/fonendo). Há algumas regras básicas para que seja feita melhor avaliaçãodos ruídos produzidos no interior dos mais variados órgãos: Utilize um aparelho deauscultação de boa qualidade Ausculte em um ambiente tranquilo, livre de ruídos acessóriosDetenha a sua atenção no ruído que está ouvindo; procure individualizá-lo, para melhorcompreender a origem, o tempo de ocorrência e as características sonoras Evite acidentes –ausculte somente quando o animal estiver adequadamente contido.Tipos de ruídos detectados na auscultaçãoOs ruídos detectados por meio do método de auscultação podem ser classificados como:33■■■Aéreos: quando ocorrem pela movimentação de massas gasosas (movimentos inspiratórios:passagem de ar pelas vias respiratórias) Hidroaéreos: causados pela movimentação demassas gasosas em um meio líquido (borborigmo intestinal) Líquidos: produzidos pelamovimentação de massas líquidas em uma estrutura (sopro anêmico) Sólidos: devem-se aoatrito de duas superfícies sólidas rugosas, como o esfregar de duas folhas de papel (rocepericárdico nas pericardites).PercussãoSi ventrem manu percusseris, abdomen resonat (se a mão percutir o ventre, o abdomeressoa). (Areteo de Capadócia) É o ato ou efeito de percutir. Trata-se de um método físico deexame, em que, por meio de pequenos golpes ou batidas, aplicados em determinada parte docorpo, torna-se possível obter informações sobre a condição dos tecidos adjacentes e, maisparticularmente, das porções mais profundas. O valor do método consiste na percepção dasvibrações no ponto de impacto, produzindo sons audíveis, com intensidade ou tons variáveis,quando refletidos de volta, devido às diferenças na densidade dos tecidos. A percussãoacústica possibilita a avaliação de tecidos localizados aproximadamente a 7 cm deprofundidade e é capaz de detectar lesões iguais ou maiores que 5 cm. A origem da percussãoremonta dos antigos, quando era usada para verificar o nível do líquido em pipas de vinho etambém pelos tocadores de garrafas. A percussão foi incorporada à prática médica no final doséculo XVIII graças aos trabalhos de Auenbrugger, na Áustria, e de Covisart, na França,revolucionando os meios de diagnósticos até então disponíveis.Existem dois objetivos básicos para a utilização da percussão: (1) fazer observações comrelação à delimitação topográfica dos órgãos; e (2) fazer comparações entre as mais variadasrespostas sonoras obtidas.Ao longo do tempo, a técnica da percussão sofreu uma série de variações, tanto na medicinahumana como na veterinária; atualmente, utiliza-se basicamente a percussão digitodigital,martelo-plessimétrica e, em alguns casos, a punhopercussão e a percussão digital ou direta.Quando se percute diretamente com os dedos de uma das mãos a área a ser examinada,denomina-se percussão diretaou imediata, sendo mais comumente conhecida a percussãodigital. Para tal, o dedo permanece fletido na tentativa de imitar o formato de um martelo. Noentanto, quando se interpõe o dedo de uma das mãos (médio) ou outro instrumento(plessímetro) entre a área a ser percutida e o objeto percutor (martelo e/ou dedo), a percussãoé descrita como indireta ou mediata, em que se destacam a percussão digitodigital e a martelo-plessimétrica (Figuras 1.4 a 1.7).Para realizarmos a percussão digitodigital, é necessário golpear a segunda falange do dedomédio estendido de uma das mãos com a porção ungueal do dedo médio da outra mão, agoraencurvado. Na percussão martelo-plessimétrica, golpeamos com um martelo o plessímetrocolocado na área a ser examinada; a partir desse método (indicado para grandes animais),34conseguimos uma percussão mais profunda. Ao utilizar o martelo apropriado ou o punho (coma mão fechada), provoca-se uma resposta dolorosa em bovinos; por meio desse método,examina-se principalmente a região abdominal de bovinos (reticulites), evitando percutir sobreas costelas ou grandes veias subcutâneas, pelo risco de ocorrência de fraturas e/ou hematomas.Figura 1.4 A e B. Posicionamento correto dos dedos para a percussão digitodigital (simulação daregião de campo pulmonar).35Figura 1.5 A e B. Posicionamento incorreto para a percussão digitodigital pelo contato incompletodo dedo médio com a superfície corporal (observar o espaço existente entre o dedo e a superfície).Figura 1.6 Posicionamento recomendado para a realização da percussão martelo-plessímetrica emequídeos, bovinos, caprinos e ovinos. Posição do martelo deve ser perpendicular ao plessímetro,imprimindo movimentação somente com o punho.A percussão digitodigital é a mais adequada, pois há menor interferência dos sons na batidade um dedo sobre o outro (Figura 1.4); contudo, é de pouca penetração e seu uso é maisindicado em animais de pequeno porte. O valor diagnóstico da percussão em grandes animais élimitado devido ao grande tamanho dos órgãos internos e à espessura dos tecidos que os36■■■■■■■■revestem (músculos, gordura subcutânea), por exemplo. A camada de gordura subcutânea (nosuíno) e o revestimento lanoso (nos ovinos) tornam a aplicação da percussão quaseimpraticável nessas espécies. As seguintes regras gerais devem ser obedecidas para arealização da percussão: Praticar várias vezes e familiarizar-se com os instrumentos e os sonsobtidos Percutir em ambiente silencioso Evitar percutir animais que estejam em decúbitolateral. Embora nem sempre seja possível, é importante colocá-los em posição quadrupedal,para melhor posicionamento dos órgãos nas respectivas cavidades Fazer pressão moderadacom o plessímetro ou com o dedo contra a superfície corporal, caso contrário, haverá umespaço vazio entre o plessímetro ou o dedo do examinador e a pele do animal, o que resultará,ao bater com o martelo ou o dedo, em respostas sonoras inadequadas; o dedo plessímetro(médio) é o único a tocar a região que está sendo examinada. Os outros dedos e a palma damão devem ficar suspensos, rentes à superfície; a mão não deve repousar sobre a superfície,sob o risco de alentecer as vibrações sonoras, deixando-as abafadas (as mesmasconsiderações servem para o dedo ou o martelo percutor) O cabo do martelo deve ser seguroem sua metade, com certa firmeza, utilizando-se, para isso, os dedos polegar, indicador emédio, mantendo-o, de preferência, em um nível mais elevado que o plessímetro. Osmovimentos conferidos ao martelo devem ser originados exclusivamente do punho, o qualproporcionará batidas rítmicas e precisas O ritmo deve ser constante; no entanto, para que setenha respostas sonoras tanto dos tecidos localizados mais profundamente como dos situadosmais superficialmente, devem ser originados dois golpes – um mais forte e outro mais fraco. Apercussão deve ser feita quando o plessímetro ou o dedo estiver posicionado e parado naregião que se deseja avaliar A percussão não deve se limitar a um único ponto ou a pontosdistintos, mas deve compreender toda a área em questão. Não existe um número máximo debatidas a ser realizado em cada um deles. É recomendável que se mude a posição doplessímetroou do dedo quando não houver mais dúvidas sobre as características sonoras daárea percutida; deve-se direcionar o plessímetro ou o dedo sempre em sentido craniocaudal edorsoventral, exceto na percussão da região cardíaca.Orientações para a percussãoPercussão martelo-plessimétrica: examinador posiciona-se do mesmo lado da região a serpercutida.Percussão digitodigital: examinador posiciona-se do lado oposto da estrutura a serexaminada.Por meio da percussão, é possível obter três tipos fundamentais de som: Claro: se o órgãopercutido contiver ar que possa se movimentar, produz um som de média intensidade, duraçãoe ressonância, que é o som claro, o mesmo que se ouve ao percutir o pulmão sadio. Éproduzido também por gases e paredes distendidas. Quanto menos espessos forem os tecidos37■■que cobrem o órgão percutido, maior será sua zona vibratória e, portanto, mais alto será o som.Se o volume vibratório do órgão for pequeno, o som será menos intenso. Isso explica avariação de intensidade do som das distintas zonas da parede torácica. Por isso, o som clarodo tórax passa gradualmente a ser maciço, à proporção que percute nas regiões superior eanterior do tórax Timpânico: os órgãos ocos, com grandes cavidades repletas de ar ou gás ecom as paredes semidistendidas, produzem um som de maior intensidade e ressonância, quevaria conforme a pressão do ar ou gás contido, como se fosse um tambor a percutir. É o somque se ouve quando se percute o abdome Maciço: as regiões compactas, desprovidascompletamente de ar, produzem um som de pouca ressonância, curta duração e fracaintensidade, chamado de mate ou maciço, idêntico ao que se obtém percutindo-se a musculaturada coxa; pode ser ouvido também nas regiões hepática e cardíaca. Além desses sonsfundamentais, em algumas situações, não é raro obter os sons intermediários. Entre o claro e otimpânico, tem-se o hipersonoro; e entre o claro e o maciço, obtém-se o submaciço, comomostrado no Quadro 1.2.Sons especiaisAlgumas vezes, as respostas sonoras, à percussão, adquirem ressonâncias especiais, como éo caso do som metálico, semelhante ao ruído de uma placa metálica vibrante, de eco, parecidocom o tinir de uma campainha. Para a detecção desse tipo de som, existe uma técnica quecombina auscultação indireta com percussão (percussão auscultatória), que consiste emposicionar o fonendoscópio em determinada região do corpo e percutir simultaneamente. Emcaráter patológico, é ouvido em cavidades cheias de ar ou gás, como nos casos avançados detimpanismo com grande distensão das paredes do rúmen, pois, em lugar do som timpânico,ouve-se o som metálico; trata-se de um tom mais alto que o hipersonoro. Existe outro somdenominado “panela rachada”, pois o tipo de resposta sonora lembra o percutir de uma panelade barro rachada. Essa resposta sonora é resultante da saída do ar ou gás contido emdeterminada cavidade, sob pressão, através de pequenos orifícios, como pode ser verificadoem alguns casos de estenose (p. ex., deslocamento ou torção do abomaso), com fechamentoparcial do piloro.OlfaçãoTem-se, ainda, outro método de avaliação física que se baseia na avaliação pelo olfato doclínico, empregado no exame das transpirações cutâneas, do ar expirado e das excreções.Certamente, pode parecer menos interessante que os outros meios já citados, contudo, emcertos casos, pode ser de grande ajuda no encaminhamento do diagnóstico. A técnica deolfação é simples, sendo necessária apenas a aproximação razoável da área do animal a serexaminada. Para analisar o odor do ar expirado, aproxima-se a mão, em formato de concha,das fossas nasais do animal e desvia-se o ar expirado para o nariz do examinador,38■■■■■■individualizando-o.Quadro 1.2 Fusão dos sons.TimpânicoHipersonoroEncontrado quando se percutem ​áreas repletas de ar ou gás e cujasparedes estejam distendidas. Observado, por exemplo, nos casos depneumotórax, fases iniciais de timpanismo gasoso etc.ClaroSubmaciçoQuando a onda percutora atinge uma ​área com ar no seu interior, estandosobreposta ou sobrepondo uma região sólida, compacta. Observado comfacilidade na percussão nos limites entre vísceras maciças e ar (p. ex.,porção do fígado, em que o rebordo pulmonar “repousa”)MaciçoAlguns exemplos em que a olfação pode auxiliar no diagnóstico: as vacas com acetonemiaeliminam um odor que lembra o de acetona; hálito com odor urêmico aparece em doentes emuremia; halitose é um odor desagradável que pode ser determinado por diferentes causas(cáries dentárias, tártaro, afecções periodontais, corpos estranhos na cavidade oral e esôfago,infecções de vias respiratórias, alterações metabólicas e algumas afecções do sistemadigestório); o odor das fezes de cães com gastrenterite hemorrágica e das secreções de cãescom hipertrofia da glândula ad anal é sui generis e inesquecível.Abaixo, são listadas as principais falhas observadas no exame físico na rotina clínicaveterinária (Quadro 1.3).Quadro 1.3 Principais causas de erros no exame físico.Organização insuficiente da se​quência de exame Ausência ou utilização de equipamento defeituoso Técnica manualincorreta Uso inadequado do equipamento Abordagem imprópria do paciente (estresse) Achado fisiológico consideradoanormal ou alteração considerada como fisiológicaMétodos complementares de exameAtribuir a aparelhos o sucesso da clínica é o mesmo que atribuir a arte de Picasso à marcados seus pincéis. (Luiz Roberto Londres, cardiologista – RJ) Os exames complementares,quando realizados posteriormente ao exame físico do animal, aumentam acentuadamente aspossibilidades de se identificar com precisão e rapidez as modificações orgânicas provocadaspor diferentes enfermidades. No entanto, à medida que evoluem, tanto em qualidade quanto emquantidade, torna-se necessário saber qual(is) exame(s) solicitar para cada caso específico,tendo em vista seu elevado custo e a capacidade individual de interpretar seus resultados demaneira consciente e crítica. É importante ressaltar que o exame subsidiário, como o próprionome diz, serve apenas para auxiliar ou complementar os procedimentos clínicos anteriores (p.39ex., anamnese e exame físico), com o intuito de chegar ao diagnóstico, provisório ou definitivo.Houve uma época em que não havia escolha, pois eram poucos os exames complementaresdisponíveis e as opções eram muito limitadas. Atualmente, ocorre justamente o contrário: onúmero de exames subsidiários é enorme e continua a aumentar, o que passou a exigir domédico veterinário maior capacidade de optar, dentro do possível, pelo(s) exame(s) maisconveniente(s). Se, por um lado, tais exames melhoraram (e muito) o poder de chegar comprecisão e rapidez ao diagnóstico, por outro, favoreceram o crescimento de um númeroconsiderável de profissionais que se utilizam exclusivamente de tais exames com essafinalidade. Os aparelhos, que deveriam ser coadjuvantes, continuam a ocupar a cena principal,quer queira, quer não. No entanto, não se pode esquecer de que a parte mais importante daatividade médica continua sendo o exame clínico, constituído, basicamente, de anamnese eexame físico. Talvez seja possível afirmar que os exames complementares dão apoiosubstancial, mas quem confere o equilíbrio e a sustentação à estrutura diagnóstica é, semdúvida, o exame físico. Quando uma consulta (anamnese e exame físico) é bem realizada,chega-se ao diagnóstico correto em cerca de 90% dos casos. Há uma frase atribuída aMaimônides (médico espanhol – século 12) que diz: “Uma consulta deve durar uma hora. Porcinquenta minutos, ausculte a alma do paciente. Nos outros dez, faça de conta que o examina.”Somente a partir dos dados obtidos no exame físico o médico veterinário estará em condiçõesde selecionar os exames a serem solicitados, a fim de não submeter o paciente a examesdesnecessários, dispendiosos e nem sempre destituídos de risco. De maneira geral, asprincipais razões para a realização dos exames complementares são: 40
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